Caminhos entrelaçados através do LoL
Em um ambiente reservado para profissionais, a Blackbulls gravou o nome na história do eSports, em Pernambuco
Cabe ao destino entrelaçar caminhos. É de sua natureza, e poucas explicações devem ser exigidas quanto a isso. No início de dezembro deste ano, um encontro de trajetórias acabou sendo protagonizado no bairro da Vila Leopoldina, em São Paulo. O local é o endereço do estúdio da Riot Games, a casa do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL). Tal ambiente é reservado apenas a jogadores profissionais. Pouco interessado em regras, no entanto, partiu do próprio destino abrir portas tão específicas para quatro equipes universitárias - entre elas, a Blackbulls Gaming (UFRPE). O resultado final da segunda edição do Desafio UNILoL, não foi nada animador em termos objetivos para os pernambucanos da Rural. Mas você conhece àquele sentimento de sonho realizado? Caso não, o encontro da Blackbulls Gaming com a Riot Games tem algo a ensinar.
League of Legends (LoL) é um jogo online, que mistura a velocidade e a intensidade de um RTS (jogo de estratégia em tempo real) com elementos de fantasia de um jogo de RPG (role-playing game). O game consiste em duas equipes compostas por personagens, chamados de “campeões”. Cada um deles lutam em diversos campos de batalha e modos de jogo. Os jogadores podem escolher um, entre os mais de 130 “campeões”, que o represente durante a batalha. Vence o jogo o time que chegar à base do adversário, após conquistar vários objetivos, como derrubar torres, destruir monstros e, obviamente, combater os inimigos.
O caminho do UNILoL
Ainda era começo de 2016, quando o Product Manager da Riot Games, Fabrício Santos, começou o seu trabalho voltado para o cenário universitário. “A gente viu que era uma oportunidade que estava em desenvolvimento pelo mundo. Então pensamos: ‘por que não apoiar e desenvolver aqui?’ Começamos, então, a elaborar o projeto, conversar com parceiros e, principalmente, com os universitários”, contou Fabrício. Assim, um ano depois, foi lançado o desafio UNILoL.
“O mais complexo do Brasil, diferente de outras realidades pelo mundo, é que aqui o cenário universitário é bem fragmentado. Você tem regiões onde as associações atléticas são o ponto focal. Já há outras regiões onde as próprias universidades tomam a iniciativa. Então, por isso, demoramos tanto tempo para conversar com todo mundo”, disse Fabrício Santos. “Tentamos, assim, montar algo, o mais genérico possível. Que se encaixasse na situação de cada um. O que a gente não queria era chegar e impor um modelo”, completou.
A resposta foi positiva. Segundo o próprio Fabrício, chegou a surpreender. “Gerou até certa empolgação. A expectativa foi grande porque muitas pessoas se espantaram com o fato de a Riot produzir algo pro cenário daqui. ‘Será que vai ter um CBLoL, um torneio nacional, universitário?’ Pedíamos calma (risos). Geramos a empolgação. Mas, ao mesmo tempo, tivemos de contê-la”, contou, pouco antes de revelar qual o principal propósito da iniciativa.
“A gente tem o Desafio (UniLoL), que é um momento de bastante visibilidade para os meninos. Mas, ao longo do ano inteiro, existe um projeto paralelo, mais interno e informal, que é o meu trabalho de visitar as regiões, de conversar com universidades e universitários. O Nordeste, por exemplo, é uma região mais distante daqui (São Paulo). Então precisamos de parceiros locais. Isso que a gente está fazendo aqui é o ápice. Para que eles (os atletas universitários) possam mostrar o trabalho desenvolvido o ano inteiro”, revelou Fabrício.
O caminho do Blackbulls
Foi nos corredores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no ano de 2017, que começaram os burburinhos sobre a possibilidade de uma equipe de LoL ser formada na instituição. Entre a expectativa e a realidade, apenas dois meses. “Recebemos um convite para competir no JUBs (Jogos Universitários Brasileiros). Fizemos tudo às pressas. Organizamos uma seletiva, com um formulário básico... Mas 97 pessoas se inscreveram, e a gente se surpreendeu. Sem grandes esperanças, devido ao pouco tempo de preparação, disputamos o JUBs”, disse o estudante de Engenharia de Pesca, José Cassemiro Júnior, de 28 anos.
E assim nasceu o UFRPE Blackbulls Gaming. “Normalmente time de eSports tem nomes de bichos, né?! Então a gente queria algo que fizesse alusão à Rural. Primeiro pensamos em gatos, porque existem muitos aqui na universidade. Mas 'UFRPE Wildcats', não parecia muito bom (risos)”, contou Cassemiro. “Então decidimos pelos búfalos. De vez em quando, o pessoal da zootecnia e veterinária mexe muito com búfalos. Então ficou Blackbulls”, completou o estudante de História, Arthur Feller, de 21 anos.
Cientes da condição de “underdogs”, a equipe do Blackbulls disputou o Jubs, em Goiânia, com a expectativa de, pelo menos, aproveitar a viagem. “Quando começou o torneio, ganhamos o primeiro confronto. Depois ganhamos o segundo, e pensamos: ‘Temos uma chance’. E conseguimos algo”, disse Arthur. O "algo" conquistado, no entanto, foi nada menos que o título da competição. “Nada mau para uma estreia, né?!”, brincou Cassemiro. O título garantiu o acesso da Blackbulls no Desafio UNILoL 2018.
“Acho que todo mundo que joga LoL, de forma competitiva, sonha em um dia conhecer o estúdio da Riot, sentir o ambiente dos jogadores profissionais... Se não fosse o UNILoL, o único caminho para se chegar lá, seria largar tudo e tentar uma carreira profissional. E nem assim há garantias”, contou Arthur. A competição, com quatro equipes participantes, durou dois dias e teve como campeã a favorita UFABC Storm. Os pernambucanos da Blackbulls acabaram eliminados ainda na disputa de semifinais. “Sabíamos que seria difícil. O nível era muito elevado. Mas, uma coisa fizemos: entramos para a história”, disse Cassemiro. De fato... Difícil duvidar da palavra daqueles que estão entre os pioneiros do crescimento do eSports no Estado.
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