Esportes

Estadual, VAR e projeções para 2019: Evandro abre o jogo

Presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF) concedeu entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco

Evandro Carvalho, presidente da FPF Evandro Carvalho, presidente da FPF  - Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Evandro Carvalho tem um recorrente discurso de autocobrança. Coloca em si o peso de alguns insucessos dos clubes pernambucanos, questiona o próprio campeonato que organiza e não esconde erros estratégicos. Curiosamente, é dessa maneira que o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF) monta seu perfil de gestor. Um argumento baseado no perfeccionismo. Em conversa com a Folha de Pernambuco, o mandatário da federação desde 2011 fez uma avaliação do Estadual de 2019, as polêmicas com arbitragem, as ambições para o futuro e a visão de como o esporte local pode crescer.

"A Fórmula do Pernambucano não é boa"

No ponto de vista técnico, eu acho que o campeonato evoluiu, com mais qualidade que o anterior. Mas admito que a fórmula não é boa. Sabemos que tivemos falhas e que precisamos melhorar muito no modelo de disputa, na tabela e no formato da primeira fase. Ter oito classificados em 10 tira a motivação e a comercialização do produto. A Federação propôs que se classificassem quatro, mas os clubes entenderam que deveriam ser oito. Não temos o poder de voto ou de veto, salvo se qualquer decisão for ilegal juridicamente. Nós pesquisamos, fazemos relatórios e damos sugestões baseadas em estudos técnicos e de audiência, mas eles é que votam e decidem. Mesmo assim, eu vou propor para que ano que vem sejam apenas quatro classificados. Também não acho necessário ter disputa de terceiro lugar.

VAR em 2020

Tivemos boas arbitragens nos últimos anos, mas não neste. Foram erros cruciais que influenciaram nos jogos, inclusive com árbitros Fifa nas finais. Sobre o VAR, nós realizamos a experiência aqui, em 2016. Mas o resultado mostrou deficiências. Na final entre Sport e Salgueiro, não tínhamos um estádio (Cornélio de Barros) apropriado para receber as câmeras. O jogo teve um lance de escanteio que a bola saiu de campo e a arbitragem paralisou. Esperava-se que o VAR acabasse com a dúvida, só que o ângulo da câmera não era o ideal e até hoje questionam isso. Antes, na partida da Ilha, marcaram um pênalti que o vídeo confirmou, mas até hoje boa parte da torcida acha que não houve. Depois desses casos, não existiu mais interesse dos clubes em repetir a experiência. Para o ano que vem, nós vamos propor que o conselho arbitral aprove o recurso.

"Responsabilidade é minha"

Em nove anos que estou aqui, alçamos a FPF para o quinto, sexto lugar no ranking de federações do Brasil. O Sport era o melhor clube da região. Pernambuco chegou a ter dois clubes na Série A. Hoje estamos atrás de Bahia e Ceará, que agora tem dois clubes lá (Primeira Divisão). Isso mostra que o resultado no futebol deles está melhor que o nosso. Perdemos R$ 14 milhões em média sem o Todos com a Nota. Era natural existir um desequilíbrio técnico. Eu considero, inclusive, que a responsabilidade é toda minha. Eu captei e injetei algo em torno de R$ 9 milhões de reais para ajudar os clubes, mas eu me sinto culpado por não ter conseguido mais. Talvez com 20 milhões os clubes pudessem estar na Série B ou na A.

"Futebol é dinheiro"

Quem são nos últimos 20 anos os campeões brasileiros? São clubes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul...Futebol é dinheiro. Salvo raras exceções, a equipe que tiver mais verba estará bem. Nós operamos com R$ 100 milhões e eles com R$ 800 milhões. Futebol é diretamente proporcional ao recurso investido. É como fazer uma disputa de Fórmula 1 com uma Ferrari contra um carro normal. Se a Ferrari tiver um defeito, o outro veículo vai ganhar. Mas, de 100 corridas, ela ganhará 99.

A matemática dos 10%

O Sport se orgulha em dizer que tem 1,5 milhão de simpatizantes em Pernambuco. Eu sou um deles. Falando não como presidente e sim como torcedor do Sport, eu digo o seguinte: se somos 1,5 milhão, o clube deveria ter 150 mil sócios em dia. Isso também se aplica ao Santa Cruz. Os torcedores gostam de dizer que tem a maior torcida de Pernambuco. Não duvido, mas se é assim, eles deveriam ter pelo menos 100 mil sócios. O Náutico tem pelo menos 900 mil torcedores no estado. Por que não conta com 90 mil sócios? Se você quer que seu clube dispute Série A, seja campeão da Copa do Brasil, jogue Sul-Americana e Libertadores, você precisa se associar.

CBF e Caboclo

Não vejo isso como um sonho ou coisa pessoal (candidatar-se ao cargo de presidente da CBF). Mas eu acho que Norte, Nordeste e Centro-Oeste deveriam se reunir e buscar espaço no cenário nacional. Deveríamos ter um local privilegiado junto à CBF, a Conmebol e até mesmo Fifa. A região deveria ter um vice-presidente. Discordo de a entidade ter sete, oito vices. Deveria ser apenas um e alguém daqui. Inclusive, eu acho o atual presidente da CBF, Rogério Caboclo, é um dos maiores executivos do mundo. Acredito até que ele tem potencial para ser no futuro presidente da Fifa.

Trio de Ferro em 2019


Santa Cruz e Náutico estão mais fortes do que estavam em 2018 e estarão ainda mais em 2020. Acho que vão subir para Série B. Também acho que não foi surpresa terem chegado (na reta final) da Copa do Nordeste. Surpresa foi não ter pernambucanos ou baianos nas finais anteriores. Obrigatoriamente, eu acho que pelo menos um dos times do estado tem que chegar sempre. Excepcionalmente poderia aparecer um do Ceará. Para mim, Santa e Náutico tem obrigação de um dos dois ser o campeão. Já o Sport é uma incógnita. Está bem dirigido, mas não sei se vai manter o mesmo ritmo, com essa arrecadação. Se continuar, sobe também, mas minha preocupação é que o clube está com as receitas bloqueadas e um número ínfimo de sócios, apenas 27 mil. Deveria ter, no mínimo, 70 mil para dar o suporte necessário.

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