Ex-atletas podem estar mais propensos a problemas cardíacos
Estudos indicam que atletas de alto rendimento, após pararem, podem ter mais arritmia do que outros que não tinham essa rotina
“Haja coração”, frase do narrador esportivo Galvão Bueno, endereçada aos torcedores mais nervosos, também poderia ser emprestada aos treinadores de futebol. O órgão responsável pela circulação do sangue no corpo já foi para esses profissionais um adversário mais implacável do que qualquer craque rival. O caso do técnico Abel Braga trouxe à tona um problema que não é tão raro no mundo esportivo: a arritmia.
“Ela acontece devido alteração no sistema elétrico do coração, gerando aceleração do pulso e perda da eficiência da contração. Pode causar insuficiência cardíaca e formação de coágulos, com risco de AVC”, afirmou o cardiologista especialista pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), Eduardo Saad.
Leia também:
Saúde dos treinadores de futebol em jogo
Abel Braga passará por procedimento cardiológico
Abel Braga diz estar bem após mal-estar em Fla-Flu
“Eu me excedi, mas por estresse”, diz Roberto
Os técnicos de futebol são, em grande parte, ex-jogadores. Saad, porém, faz o alerta. “Já existem alguns estudos indicando que atletas de alto rendimento, após pararem, podem ter mais arritmia do que outros que não tinham essa rotina. O exercício físico feito no passado não é uma vacina para o futuro, até porque muitas dessas pessoas param com as atividades, ficam acima do peso e com carga alta de estresse. Tudo isso aliado ao fator da idade avançada, que coloca o indivíduo na faixa de risco”, argumentou.
Vários treinadores brasileiros tiveram problemas como o de Abel. Antônio Lopes, Enderson Moreira, Renato Gaúcho e Cuca passaram por cirurgia para corrigir uma arritmia. Oswaldo de Oliveira, Guto Ferreira já precisaram se ausentar por alguns dias do trabalho para tratarem de casos semelhantes. Todos voltaram à função. Mas há exceções. Ídolo do Náutico e campeão por clubes como São Paulo, Santos e Fluminense, o ex-técnico e hoje comentarista esportivo, Muricy Ramalho, sofreu uma arritmia cardíaca em 2016, época em que estava no Flamengo. Preocupado com a saúde, ele optou por encerrar a carreira.
“O treinador sofre uma pressão grande e nem sempre ele pode resolver tudo. Quando o time perde, você se sente culpado. Eu queria outro ritmo para minha vida. Ficar perto da minha família. Já morei em vários lugares, até na China, e a distância da esposa e dos filhos aumentava o estresse. Hoje tenho mais tempo para mim e para eles. Eu faço atividade física, tomo remédio me cuido bem mais”, disse.
Muitos técnicos, mesmo depois do fim da carreira de atleta, procuram permanecer com a rotina de atividades físicas. Jair Ventura, ex-Botafogo, Santos e Corinthians, e Alberto Valentim, atualmente no Vasco, são exemplos disso. Ex-comandante do Sport, o treinador Milton Mendes também se encaixa no grupo, ressaltando a necessidade de manter o corpo em movimento. "Todo dia faço exercício físico. Fui atleta durante 25 anos e sei da importância de se cuidar. Costumo correr, pegar peso e, muitas vezes, fazendo alguma atividade, você libera a pressão, pensando em algo para o treino do outro dia.”