Náutico: Reconstrução encerra jejum histórico
Náutico se reinventou em 2019 para chegar à conquista do primeiro título nacional em seus 118 anos de existência
A pecha de “nadar e morrer na praia”, em alusão ao fato de decepcionar no momentos decisivos, era uma provocação dos rivais que incomodava os torcedores do Náutico. Um estigma que foi crescendo ao longo do tempo, com insucessos estaduais, como no jejum de conquistas em cima do Sport, além do tabu de nunca ter ganho um troféu nacional. Um vice-campeonato da Taça Brasil de 1967, dois da Série B (1988 e 2011) e a incerteza de quando o grito de campeão ultrapassaria as fronteiras regionais. Demorou 118 anos e, justo em um dos momentos mais difíceis de sua história, com a queda à terceira divisão, o Timbu superou antigos traumas. Nadou, nadou e ficou vivo até o fim, coroando o ano de 2019 com o troféu da Série C.
O primeiro título nacional veio com uma trajetória emocionante. O Náutico precisou cair para perceber que precisava mudar. Não só dentro das quatro linhas. A conquista foi construída desde a implantação de uma nova gestão política, baseada na austeridade financeira. Passou pelo trabalho de valorização da base, manutenção de projeto e, claro, um pouco de sorte. Sem desmerecer o trabalho, a competência e o planejamento do Timbu, mas alguns fatos provam que houve uma espécie de “Sobrenatural de Almeida” inverso.
O termo acima é o nome de um personagem criado pelo escritor Nelson Rodrigues, pernambucano de nascença, carioca de criação e Fluminense/RJ de coração. Em suas crônicas, ele romantizou a história de um fantasma que era o culpado pela má fase dos tricolores. No Náutico, o “Sobrenatural de Almeida” agiu contra os adversários. Aquele gol aos 49 minutos contra o Paysandu/PA, nas quartas de final. A bola na trave de Eltinho, na semifinal. O gol contra do Sampaio Corrêa/MA, na decisão. Campeão precisa de qualidade, mas também de uma ajuda do destino, por muitas vezes um adversário cruel dos alvirrubros no passado.
Ainda povoando o mundo imaginário de Nelson, o clube de Rosa e Silva teve em seus jogos decisivos a presença do “Gravatinha”, outro personagem do romancista, mas que desta vez aparecia para anunciar a vitória do Fluminense. No Náutico, vários fizeram esse papel. Aquele torcedor que acreditou até o fim, que esteve presente em todos os jogos nos Aflitos, que ficou na televisão, no rádio, na internet ou em qualquer outro lugar/meio acompanhando de longe (fisicamente), mas de perto (coração).
A Série C não é a competição mais importante do cenário nacional. Muito menos a mais lucrativa, tampouco a de maior reconhecimento. Mas todo título tem um sabor especial e, para o Náutico, o gosto é de reconstrução.
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