Organizadas anunciaram rota pelas redes sociais antes do Clássico das Multidões
Áudios por WhatsApp e postagens nas redes sociais convocaram integrantes das organizadas para confrontos. Relatório da polícia também apontava planejamento dos grupos
A onda de violência protagonizada por membros de facções organizadas, com camisas do Sport e do Santa Cruz, no último sábado (1º), já estava prevista.
Diversos fatores escancararam o risco: áudios vazados de grupos de WhatsApp, postagens em redes sociais convocando membros para brigas, e até um relatório de inteligência da Polícia Civil apontavam que os grupos estavam planejando confrontos, confeccionando armas e marcando locais para “pista”.
Apesar disso, as forças de segurança do Estado não conseguiram evitar os ataques que deixaram pessoas em estado grave e espalharam pânico entre a população. Dias antes da partida, torcedores dos dois clubes usaram as redes sociais para convocar aglomerações e incitar atos de violência.
A Jovem do Sport chegou a afirmar que iria “invadir o chiqueirão”, referindo-se ao estádio do Santa Cruz, enquanto a organizada tricolor se mobilizou para concentrar-se em pontos estratégicos, com direito a supostos ônibus fretados para transporte e o uso de armas improvisadas.
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Os confrontos ocorreram em diversos pontos do Recife, resultando na internação de ao menos 12 pessoas no Hospital da Restauração.
Relatório
Um relatório da Delegacia de Polícia de Repressão à Intolerância Esportiva, divulgado ontem por alguns veículos de imprensa, revelou que as forças de segurança do Estado sabiam do planejamento das agressões. O documento alertava que as torcidas estavam fabricando bombas caseiras e utilizando barrotes com pregos para causar ferimentos graves em rivais e danificar patrimônios públicos e privados.
Além disso, dois dias antes do jogo, uma reunião na sede da Diretoria de Planejamento Operacional da Polícia Militar já havia indicado um clima de guerra para o dia da partida. O setor de inteligência da PM citou pontos críticos onde os confrontos poderiam ocorrer e recomendou cautela na escolta da torcida do Sport até o Arruda.
O policiamento não impediu os atos de selvageria. Na sexta-feira, a Polícia Militar divulgou que 645 agentes estariam na segurança do evento.
Respostas
Diante da gravidade da situação, o Governo de Pernambuco anunciou a realização dos próximos cinco jogos de Sport e Santa Cruz sem torcedores. A medida foi publicada
em edição extra do Diário Oficial. O Sport já suspendeu a venda de ingressos para a partida contra o Fortaleza pela Copa do Nordeste.
Leia a íntegra da portaria:
Questionados sobre as postagens das organizadas, os clubes se desvincularam da logísticas. “Esse tipo de coisa não passa pelo clube. Não temos absolutamente nenhuma participação no planejamento de nenhum torcedor na ida para o jogo. Seja organizada, seja torcedor comum. Tudo isso é entre eles e o poder público”, disse a comunicação do Sport.
A comunicação do Santa Cruz não se pronunciou oficialmente sobre as postagens das organizadas, mas um dos assessores do clube disse que o Santa “não tem influência
nem recebe informação de trajeto de organizada”.
A Secretaria de Defesa Social (SDS) foi procurada pela reportagem e afirmou em nota que o planejamento de segurança para eventos esportivos leva em conta variáveis como trânsito, vias de acesso, horários e rotas das torcidas, além da identificação de pontos estratégicos com risco de emboscadas ou confrontos.
De acordo com a SDS, o esquema de segurança conta com o suporte da Inteligência, monitoramento aéreo e atuação integrada das forças de segurança para proteger torcedores, a população e o patrimônio público e privado.
“Apesar de todo o planejamento e da tentativa de antecipar possíveis crises, os fatos que ocorreram no último sábado (1º) fugiram do padrão esperado, exigindo uma resposta
rápida e firme das forças de segurança. O efetivo atuou para evitar mortes e minimizar danos às pessoas e ao patrimônio, dispersando os grupos envolvidos e controlando os confrontos da maneira mais ágil possível”, diz a nota.