Refeno: experiência de uma viagem inesquecível
O repórter do Portal FolhaPE, André Amorim, percorreu 545 quilômetros entre Recife e Fernando de Noronha e relatou a sua experiência nesta aventura.
Uma viagem com apenas uma certeza: essa é uma experiência inesquecível e que todos deveriam ter a oportunidade de vivenciar. Percorrer os 545 quilômetros que separam o Recife do Arquipélago de Fernando de Noronha não é como fazer uma viagem de carro, em que imprevistos podem acontecer e, em sua maioria, são facilmente solucionados. Na imensidão do mar tudo é diferente. A todo instante, o vento muda, o mar é outro e os imprevistos ocorrem. O desconhecido é a única certeza.
Antes do catamarã La Vie deixar o Cabanga Iate Clube, no sábado pela manhã, as baterias que alimentam o motor do barco não funcionaram. Frouxo como poucos que conheço, logo pensei que era o momento certo de encarar o que vinha martelando a minha cabeça desde que eu aceitei o convite: - “acho que ainda dá tempo de desistir”. Em alguns minutos, o problema foi logo resolvido. “O que será que fez com que as duas baterias morressem dessa forma, rapaz?” questionou ao longo da viagem o capitão José Guilherme Borja Martins, um baiano de 54 anos.
E não tardou para o medo voltar a aparecer. Na saída do Porto do Recife, durante uma manobra, o catamarã Denise, de São Luís do Maranhão, bateu na lateral do barco. Para um bom medroso, as únicas referências que surgem na cabeça são filmes em que os navios afundam e que o mocinho fica entre a vida e a morte. Pode parecer exagero, mas era só isso que vinha à cabeça. “Ninguém viu eles chegando? Posso continuar viajando? Estou confiando em você”, repetia o capitão ao seu marinheiro Anderson Lima, apelidado de Neo.
E caso a previsão de meu colega de redação que fez a mesma viagem no ano anterior estivesse correta, o perrengue só estava começando. Piorando até. Prevenido por Geison Macedo, o subeditor do caderno de Esportes da Folha de Pernambuco, busquei logo informações sobre como evitar os enjoos. Não há nada mais chato do que enjoar, não conseguir controlar o seu corpo. Foram cinco dias que antecederam a viagem tomando um remédio, outros dois dias tomando outro medicamento, e... nada! Os enjoos não apareceram e, com isso, eu ainda pude apreciar a comida preparada no barco e alguns muitas azeitonas - dica do capitão para não enjoar.
Para um marinheiro de primeira viagem, continuarei sendo um marinheiro sem experiência. Construído com o que há de mais moderno em termos de tecnologia, o La Vie, aos olhos de um leigo, não precisa de muitos braços para ser comandado. As poucas expressões náuticas que vou guardar são bombordo (esquerda), boreste (direita) e genoa - uma dos tipos de vela da embarcação.
Foi com os mesmos olhos de leigo que enxerguei a noite mais estrelada, com estrelas a perder de vista. E o nascer do sol da primeira manhã embarcado trouxe outra surpresa. Dezenas de golfinhos acompanharam o barco, como que em uma resposta a minha angústia e mostrando que o mar também é capaz de surpreender positivamente.
E o tempo? O tempo parecia não passar junto com a imensidão do oceano. A viagem logo ficou cansativa, mesmo sem precisar se esforçar para manter o rumo da embarcação. “Agora falta pouco. O vento está mais forte do que no ano anterior”. O tempo parecia não passar. Dormir, tomar banho, escovar os dentes, coisas simples do seu dia a dia, ganham ares de tortura. São tarefas difíceis. Mas como eu dormi. Dormi muito! E foi assim, depois 37 horas, 25 minutos, 26 segundos e alguns sustos que chegamos ao paraíso. Fomos premiados com uma noite linda e estrelada oferecida pelo céu de Noronha. E o dia, que amanhecer! Essa foi uma viagem sem igual.