Incêndio: MP do Trabalho vai investigar situação de trabalhadores de fábrica que pegou fogo
As chamas começaram por volta das 7h30 no imóvel em Ramos, Zona Norte da cidade. Fogo foi controlado e 21 pessoas foram levadas para hospitais da cidade
O Ministério Público do Trabalho (MPT) quer respostas sobre a situação das pessoas que trabalhavam na fábrica de roupas que pegou fogo na manhã desta quarta-feira, em Ramos, na Zona Norte.
A empresa atendia a escolas de samba da Série Ouro do carnaval carioca preparando vestimentas e fantasias. Há relatos, por exemplo, de que os empregados, que seriam terceirizados contratados pelas agremiações, segundo informou o presidente da Liga RJ, dormiam no local de trabalho. A fiscalização do MPT esteve no local no período de tarde.
— Ainda temos informações muito preliminares. Viemos entender o que aconteceu e o que podemos fazer para resguardar os direitos dessas pessoas. Saber também se existem crianças trabalhando no local. Isso é um acidente de trabalho ampliado. Também queremos saber quem são as pessoas que administram esse local — disse Ana Luísa Horcades, auditora fiscal do trabalho e chefe da sessão de Segurança e Saúde do Trabalho do MPT no Rio de Janeiro.
Mais cedo, em nota o MPT informou que "autuou com urgência uma Notícia de Fato (NF) para apurar as condições de trabalho na fábrica onde ocorreu o incêndio".
No local, os funcionários costuravam as fantasias que seriam usadas este ano na Sapucaí. Três agremiações perderam as produções no incêndio desta quarta-feira: Unidos de Bangu, Unidos da Ponte e Império Serrano.
A Liga das escolas organizará uma plenária para decidir como será o julgamento durante o desfile.
Alguns moradores, que acompanhavam o trabalho dos bombeiros nesta manhã, explicaram que a fábrica funcionava em três andares.
O primeiro era onde as fantasias eram feitas, enquanto o depósito ficava nos fundos.
Os funcionários que moram distante de Ramos usavam o terceiro como dormitório. Ao todo, 21 pessoas foram resgatadas do incêndio.
Durante o combate às chamas, alguns trabalhadores ficaram do lado de fora da fábrica à espera de notícias. Apesar de terem optado por não dar entrevista, era possível ouvi-los reclamar da estrutura do local. Um deles chegou a apontar que não havia extintores de incêndio e que as condições de trabalho são “sempre assim”.
Outros lamentaram a perda das fantasias, reforçando o tempo que haviam dedicado às produções:
— Eu entrei rapidinho lá e vi as cabeças que costuramos destruídas. Não sobrou nada… está tudo amassado. Foram meses de produção, para perdermos tudo — lamentou um rapaz, próximo a amigos.
Deputada pede investigação trabalhista
A deputada estadual Dani Balbi, presidenta da Comissão de Trabalho, Seguridade Social e Legislação Social da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), informou que vai acionar o Ministério Público do Trabalho (MPT) para investigar as condições dos trabalhadores e do funcionamento da fábrica de fantasias.
Relatos indicam que a fábrica operava 24 horas por dia, com cerca de 100 funcionários revezando-se em turnos para atender à alta demanda pré-carnavalesca. Alguns trabalhadores chegaram a dormir no local devido à carga de trabalho.
— É inadmissível que, em pleno século XXI, trabalhadores sejam submetidos a condições precárias que colocam suas vidas em risco. Vamos exigir uma investigação rigorosa para responsabilizar os culpados e garantir que tragédias como essa não se repitam — afirmou a parlamentar.
Fábrica estava irregular
Segundo o major do Corpo de Bombeiros do Rio, Fabio Contreiras, o prédio não tinha aprovação da corporação para funcionar.
— A fábrica não tinha condição de segurança necessária para o funcionamento. A edificação tem muitos materiais de alta combustão, como plásticos, papéis. Podemos afirmar que não tinha aprovação do Corpo de Bombeiros para aquele trabalho.
Equipes do Corpo de Bombeiros seguem no local, mas segundo a corporação o incêndio foi controlado e o trabalho no momento é de rescaldo. Vinte e uma pessoas foram resgatadas das quais nove estão em estado grave no Hospital Getúlio Vargas, quatro no Hospital Souza Aguiar, das quais duas em estado grave; duas por CER da Ilha do Governador, em estado estável; três para o Hospital de Bonsucesso, também estáveis; e um para o Hospital do Andaraí, em estado gravíssimo e dois no Hospital Salgado Filho, em avaliação. Das vítimas resgatadas, 10 ainda permaneciam em estado grave por volta do meio-dia.
Segundo o oficial dos bombeiros, entre as equipes da corporação foram acionadas às 7h39 e chegaram ao local às 8h43. A área atingida foi de cerca de 500 metros quadrados. Foram empregados 70 homens de 13 quartéis. O trabalho teve apoio da defesa Civil estadual.
O porta-voz do Corpo de Bombeiros, major Fabio Contreiras, esclareceu que apenas a perícia vai poder confirmar o tamanho da destruição do prédio. Sobre as condições legais da confecção, Contreiras confirmou que o prédio “não possuía aprovação do Corpo de Bombeiro para atuar”:
— Não tinha condição de segurança necessária para o funcionando. A característica da edificação é uma edificação que possuía muitos materiais de alta combustão, como plásticos, papéis. A edificação não possuía aprovação do corpo, por consequência, não tinha as condições de segurança para funcionamento.
Em um dos momentos de maior tensão, quatro pessoas que estavam dentro do prédio no segundo andar foram resgatadas pelas equipes por uma das janelas. Até saírem do imóvel, elas ficaram no local, pediam por socorro cercadas por fumaça. Moradores do entorno tentavam ajudar.
Segundo funcionários resgatados, cerca de 30 pessoas trabalhavam na confecção quando o incêndio começou. Às 9h50, a corporação confirmou que faz o trabalho de rescaldo, e não há mais focos de incêndios.
Por volta das 8h50, moradores do condomínio que fica ao lado da fábrica tiveram que deixar suas casas por determinação da Defesa Civil dada a proximidade do fogo.
Em nota, a direção do Hospital Estadual Getúlio Vargas informa que todos os 10 pacientes que deram entrada na unidade tiveram queimadura em via aérea após inalação de fumaça tóxica. Um agente do Corpo de Bombeiros relatou que os materiais encontrados dentro da fábrica são, em sua maioria, inflamáveis.
— Tem muito plástico, cola, adereços em isopor, a própria telha que a gente subiu era em amianto, que produz material tóxico. As janelas são todas gradeadas, o que atrapalha a gente sair e entrar.
As pessoas recebem os primeiros atendimentos no local, em ambulâncias. O Corpo de Bombeiros foi acionado às 7h39 para o incêndio. Num primeiro momento, equipes de seis quartéis atenderam a ocorrência.
Agora, estão empenhados homens de 13 unidades operacionais, incluindo o Grupamento de Operações Aéreas da corporação e especialistas em salvamento em altura, cerca de 90 bombeiros, com apoio de 30 viaturas.
No prédio funciona a Maximus Confecções, empresa de confecção para escolas de samba e de uniformes militares. Fantasias das agremiações da Série Ouro e das que desfilam na Intendente Magalhães são produzidas no local. A Liga RJ, responsável pela Série Ouro, afirmou que convocará com urgência uma Assembleia Geral Extraordinária com objetivo de avaliar a situação e definir próximos passos.
Em nota, o governador Cláudio Castro afirma que acompanha o trabalho dos bombeiros, que conta com o grupamento aéreo e especialistas em altura da corporação estão entre as equipes. "Edifícios próximos foram evacuados por motivo de segurança", destaca.
A Polícia Civil diz, em nota, que a ocorrência foi registrada na 21ª DP (Bonsucesso). "A perícia será realizada no local e diligências estão em andamento para apurar as causas do incêndio", diz trecho.
Resgate de trabalhadores
Na lateral do prédio, onde os homens estavam no imóvel na janela, os bombeiros tentavam acessar por escadas cedidas por moradores do entorno. No entanto, os equipamentos não alcançavam.
Os bombeiros conseguiram passar uma das escadas reforçadas e foi possível alcançar a janela. Um dos agentes quebrou parte da estrutura de ferro e teve início a retiradas dos homens. Quatro pessoas foram resgatadas. Não há o número total de pessoas resgatadas no local e nem confirmação se pessoas seguem no local.
— Foi muito desesperador, mas eu estou bem. A gente estava dormindo. Tem mais de 20 pessoas lá dentro. Preciso acalmar minha mãe — disse um dos aderecistas resgatados pelos bombeiros pela janela. Ao sair do imóvel, ele falava ao celular para entrar em contato com a família, mostrou o "Bom Dia Rio", da TV Globo.
Outro funcionário que trabalhava no local contou que, no momento, entre 30 e 40 pessoas estavam na produção.
O incêndio, segundo relatou, teve início no andar térreo do imóvel. Ele contou que as chamas logo tomaram conta por conta do material para a confecção das fantasias, como espuma e tecidos.
— Foi muito rápido. Um desespero — contou.
Micheline Barcelos foi uma das vizinhas que se mobilizou no socorro de quem ficou preso no imóvel devido ao incêndio. Ela conta que foi acordada, por volta das 7h, por gritos de socorro. Junto a outros vizinhos, ela disponibilizou escada, mangueira, água, panos molhados e foi orientando quem conseguia sair pela janela do prédio em chamas, que fica por cima do quintal de sua casa.
— Eu levei um susto, gritavam muito! Quando eu fui ver, tinha muita fumaça no quintal, pessoas nas janelas do prédio. Os vizinhos foram chegando, a gente correu pra ajudar.
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O pedreiro Charles Ferreira passou pela mesma situação. Ele ouviu os gritos de socorro, pegou a moto e foi até o Corpo de Bombeiros mais próximo em busca de ajuda.
— Eu achei até que era briga, mas quando vi a fumaça… saí correndo, peguei a moto e fui atrás dos bombeiros.
A fábrica fica nos fundos da casa dele, assim como a de Micheline. Segundo ele, a fumaça estava “insuportável”, de cor muito preta. Junto aos bombeiros, ele ajudou no resgate de cerca de 10 pessoas.
— Nós começamos o resgate com um carro-pipa e uma ambulância, mas logo vimos que não era suficiente. Acionamos a polícia e logo foi chegando mais e mais gente pra ajudar. A loja é uma fábrica antiga, de janelas gradeadas, não tem como sair nem entrar. Quem estava lá dentro estava louco gritando por socorro.
Antes do resgate, moradores do entorno jogavam toalhas molhadas para as pessoas que estavam presas próximas à janela colocarem no rosto e aliviar a respiração por conta da fumaça. Victor Hugo, vizinho da confecção, conta que os moradores conseguiram resgatar quatro vítimas do incêndio:
— As pessoas estavam pedindo socorro. A gente conseguiu tirar quatro pessoas que estavam na janela, já estavam desesperadas, não conseguiam respirar e a gente conseguiu resgatar essas quatro pessoas. Saiu um, tem três aqui, só que a maioria tá saindo pela frente. Deve ter mais de quinze pessoas, vinte pessoas lá na frente. As pessoas estão bem. Só o choque, né? O trauma. O pessoal tinha vários amigos ali, conhecidos, e está no trauma — relatou ao "Bom Dia Rio".
Confecção de fantasias do carnaval do Rio
No prédio funciona a Maximus Confecções, empresa de confecção para escolas de samba e de uniformes militares. Fantasias das agremiações da Série Ouro e das que desfilam na Intendente Magalhães são produzidas no local. Segundo relatos, ao menos 60% do material usado por elas eram fabricados no local.
Segundo uma funcionária relatou ao "Bom Dia Rio", que se preparava para começar o dia, a confecção estava funcionando 24 horas por dia com a proximidade dos desfiles. As escolas de samba Império Serrano, Unidos da Ponte e Em Cima da Hora tinham produção no local.
Um agente do Corpo de Bombeiros relatou que os materiais encontrados dentro da fábrica são, em sua maioria, inflamáveis.
— Tem muito plástico, cola, adereços em isopor, a própria telha que a gente subiu era em amianto, que produz material tóxico. As janelas são todas gradeadas, o que atrapalha a gente sair e entrar.
"O Império Serrano lamenta profundamente o incêndio que ocorre nas dependências da Maximus Confecções, nesta manhã, em Ramos. Informamos que toda a produção das fantasias do carnaval 2025 do Império Serrano se encontram na fábrica. Neste momento, estamos focados em garantir a segurança de todos os envolvidos neste acidente. Quando tivermos mais informações sobre os danos ocorridos, informaremos", publicou a Império Serrano em seu perfil no Instagram.
Em nota, a Liga RJ, responsável pelo carnaval da Série Ouro, afirmou que convocará com urgência uma Assembleia Geral Extraordinária com objetivo de avaliar a situação e definir próximos passos, "garantindo que nenhuma escola de samba filiada seja prejudicada".
"A Liga RJ recebe com profunda preocupação a notícia do incêndio ocorrido na Fábrica Maximus, um espaço essencial para o Carnaval carioca. Nossa primeira e maior preocupação é com a segurança e o bem-estar de todas as pessoas que estavam no local, esperando que todos estejam fora de perigo e recebendo o devido amparo", afirmou a nota.
Segundo a Liga, a Maximus fornece material para escolas e serve de espaço de confecção de fantasias para várias delas. "O impacto deste incidente atinge diretamente o planejamento do Carnaval e toda a cadeia produtiva envolvida na sua realização", diz a nota.
A fábrica fica próxima ao Colégio Pio XI. Os alunos foram liberados da aula por volta das 8h10. Segundo o Centro de Operações Rio (COR), o incêndio interdita a