Após denúncia do golpe, PF descarta novo relatório sobre o caso
Investigadores devem apresentar apenas síntese da análise do material apreendido em operações no fim do ano passado, como o conteúdo dos celulares do general Braga Netto e de seu ex-assessor Flávio Peregrino
A Polícia Federal não deve mais apresentar um relatório complementar do inquérito que apurou uma tentativa de golpe de Estado.
Depois da denúncia feita à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas, na semana passada, os investigadores agora pretendem elaborar apenas uma síntese do material apreendido na Operação Contragolpe, em novembro, e na que prendeu o general Braga Netto, em dezembro.
A ideia é incluir as informações encontradas nos celulares do ex-ministro e de seu então assessor, coronel Flávio Peregrino. Não há prazo para que isso ocorra.
As primeiras apreensões ocorreram uma semana antes de a PF concluir o relatório final com os pedidos de indiciamento, o que levou a própria corporação a anunciar que entregaria o relatório complementar posteriormente. Em entrevista ao GLOBO em janeiro, o diretor-geral da corporação, Andrei Rodrigues, afirmou que esse relatório incluiria, além da análise do que foi apreendido nas operações, novos depoimentos que ainda seriam tomados e “outros fatores” que estavam sendo apurados. Na ocasião, ele disse que o material serviria de base para a denúncia da PGR.
Agora, porém, a PF tem tratado como um “equívoco” o diretor-geral ter usado a expressão “relatório complementar” para se referir ao resultado da análise do material, pois não haverá novas conclusões, tampouco novos indiciamentos.
Após concluir o relatório final do inquérito do golpe, em novembro, com o indiciamento de 37 pessoas, a PF chegou a apresentar um complemento no mês seguinte, indiciando mais três militares. Eles não haviam sido incluídos na primeira leva porque ainda não tinham prestado depoimento na ocasião.
Com base na investigação da PF, a PGR denunciou 34 pessoas na semana passada, incluindo Bolsonaro e Walter Braga Netto, por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta a Estado Democrático de direito, organização criminosa, dano contra o patrimônio da União e com prejuízo à vítima e deterioração de patrimônio tombado. As defesas do ex-presidente e de seu ex-ministro têm negado envolvimento nos episódios.
A Operação Contragolpe foi deflagrada após a PF identificar a existência de um suposto plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Um dos alvos foi o general Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, além de militares do grupo chamado “kids pretos”, integrantes das Forças Especiais do Exército.
‘Punhal Verde Amarelo’
O plano, denominado Punhal Verde e Amarelo, previa uma ação para o dia 15 de dezembro de 2022, mas foi cancelado pouco antes de ser executado, conforme indicaram trocas de mensagens apreendidas pela PF. A defesa de Fernandes tem negado participação dele em articulações golpistas.
Já Braga Netto foi preso em dezembro sob suspeita de tentativa de obstrução de Justiça. Segundo a polícia, ele tentou obter informações sobre a delação de Cid, o que foi confirmado pelo tenente-coronel em depoimento. O general, porém, ainda não foi ouvido pela PF para tratar do caso.
Procurada para comentar a situação, a defesa de Braga Netto não respondeu. Em nota divulgada na semana passada, quando a denúncia contra o general foi apresentada, os advogados chamaram as acusações de “fantasiosas”. “O general Braga Netto teve o seu pedido para prestar esclarecimentos sumariamente ignorado pela PF e pelo MPF, demonstrando o desprezo por uma apuração criteriosa e imparcial”, diz a nota.