Hamas entrega quatro corpos de reféns israelenses, em troca de mais de 600 prisioneiros palestinos
Essa é a última libertação sob a primeira fase do acordo de cessar-fogo firmado entre as partes no mês passado
O Hamas entregou quatro corpos à Cruz Vermelha na noite desta quarta-feira, e um líder sênior do grupo terrorista palestino afirmou que os restos mortais pertenciam a reféns israelenses.
A informação foi confirmada por autoridades de Israel, que devem, em troca, libertar em torno de 600 prisioneiros palestinos. Essa é a última libertação sob a primeira fase do acordo de cessar-fogo firmado entre as partes no mês passado.
"Os quatro corpos foram entregues há pouco tempo e estamos esperando a libertação dos prisioneiros palestinos", disse o oficial do Hamas em comunicado, referindo-se aos restos mortais dos reféns.
Israel deve fazer a identificação forense dos corpos perto da fronteira para determinar se o Hamas devolveu os reféns conforme o acordado, um pré-requisito para que o Estado judeu liberte mais de 600 prisioneiros palestinos. Até o momento, uma primeira leva de 43 prisioneiros foi entregue à Cruz Vermelha na fronteira com o Egito, em Ramallah, segundo o jornal israelense Haaretz. Outros ônibus estariam a caminho com mais prisioneiros, diz a imprensa local.
Impasse no acordo
Após dias de impasse, autoridades de Israel e do Hamas afirmaram na terça-feira que haviam alcançado um acordo para trocar todos os 602 prisioneiros palestinos que deveriam ser libertados na semana passada pelos restos mortais de quatro reféns israelenses.
Nesta quarta-feira, dois membros do grupo terrorista disseram que seriam libertados 625 prisioneiros, mas a informação não foi confirmada por Israel.
"Um acordo foi alcançado para resolver a questão da liberação tardia de prisioneiros palestinos que deveriam ter sido liberados no último lote", disse o Hamas em uma declaração na véspera.
"Eles serão liberados simultaneamente com os corpos dos prisioneiros israelenses acordados para transferência durante a primeira fase, por um número equivalente de mulheres e crianças palestinas."
No domingo, o Hamas acusou Israel de colocar em risco a trégua de cinco semanas em Gaza ao atrasar a libertação de prisioneiros palestinos.
O Estado judeu justificou o atraso citando a maneira como o Hamas lidou com a entrega de 25 reféns desde o início do cessar-fogo, com combatentes mascarados escoltando-os até locais decorados com slogans do Hamas.
Por sua vez, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, denunciou esses métodos como "cerimônias humilhantes".
Na semana passada, o retorno dos corpos de quatro reféns, incluindo duas crianças pequenas, gerou polêmica porque o Hamas exibiu seus caixões ao lado de imagens retocadas de Netanyahu com dentes de vampiro.
O caso se tornou mais grave depois que uma análise forense revelou que o suposto corpo da mãe das crianças, uma israelense de origem argentina, Shiri Bibas, não correspondia a nenhum refém israelense.
O Hamas reconheceu um possível erro e liberou o corpo da mulher um dia depois, que foi enterrado nesta quarta-feira ao lado dos filhos dela, Ariel e Kfir, que tinham quatro anos e oito meses e meio na época do sequestro. Após a controvérsia, o Hamas libertou seis reféns israelenses no sábado, mas Israel adiou a libertação dos 600 prisioneiros palestinos correspondentes à sétima troca desta trégua.
Nesta quarta-feira, milhares de pessoas se reuniram na beira da estrada para acompanhar seu cortejo fúnebre e o Parlamento israelense realizou um minuto de silêncio em homenagem a eles e outras vítimas do dia 7 de outubro. No funeral, realizado perto do Kibutz Niz Or, no sul de Israel, onde ocorreu o sequestro, a família pediu aos líderes israelenses que assumam a responsabilidade pelas mortes de seus parentes.
— Eles poderiam tê-los salvado, mas preferiram a vingança — disse Ofri Bibas, cunhada de Shiri.
Acordo frágil
A primeira fase do acordo previa a libertação de 33 reféns até ao início de março, incluindo oito deles dados como mortos, em troca de cerca de 1.900 palestinos detidos em prisões em Israel.
O frágil acordo, no entanto, esteve à beira do colapso diversas vezes, já que ambos os lados se acusam mutuamente de violá-lo. O exército israelense disse nesta quarta-feira que bombardeou locais de lançamento de foguetes em Gaza após identificar um tiro.
Os termos da segunda fase do acordo, que deve pôr fim ao conflito e levar à libertação de todos os prisioneiros que ainda estão em Gaza, ainda precisam ser negociados. A terceira e última fase será dedicada à reconstrução da Faixa de Gaza.
Na noite de terça-feira, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, relatou "muito progresso" em direção à retomada das negociações. Segundo ele, Israel enviaria uma equipe de negociadores "para Doha ou Cairo, onde as negociações seriam reiniciadas". No entanto, Israel não confirmou esta informação.
Das 251 pessoas feitas reféns durante o ataque de outubro de 2023, 62 ainda estão em Gaza, incluindo 35 que o Exército israelense diz estarem mortas. O ataque do Hamas resultou na morte de 1.215 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP dos números oficiais israelenses.
A campanha de retaliação de Israel matou pelo menos 48.319 pessoas em Gaza, a maioria delas civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do território administrado pelo Hamas que as Nações Unidas consideram confiáveis.