"Eu disse isso?'" Antes de assinar acordo, Trump "esquece" ter chamado Zelensky de "ditador"
Presidente quer que Kiev ceda parte de seus recursos aos EUA como forma de compensação pelos pacotes de ajuda enviados desde 2022
O presidente dos EUA, Donald Trump, pareceu deixar no passado as tensões com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que chega na sexta-feira (28) a Washington para assinar um acordo sobre os recursos minerais de seu país.
Há menos de 10 dias, ele chamou o ucraniano de “ditador”, mas sugere, ao menos em público, ter mudado de ideia.
— Eu disse isso? — afirmou, em declarações à imprensa na Casa Branca, ao lado do premier britânico, Keir Starmer. — Não posso acreditar que tenha dito isso.
Ele declarou que “quer trabalhar” com Zelensky”, e disse acreditar manter uma boa relação com o ucraniano, que, em sua avaliação, pode ter ficado um pouco “ríspida” recentemente, e o colocou em um patamar similar ao do líder russo, Vladimir Putin.
— Eu me dou bem com ambos. Tenho um relacionamento muito bom com o presidente Putin. Acho que tenho um relacionamento muito bom com o presidente Zelensky.
Trump jamais foi um entusiasta dos pacotes de ajuda militar e financeira a Kiev, que superam os US$ 100 bilhões, e após sua chegada à Presidência defende alguma forma de “reaver” o dinheiro. Neste contexto, as riquezas minerais ucranianas, que incluem materiais usados em indústrias estratégicas, como de alta tecnologia e aeroespacial, saltaram aos olhos do presidente americano.
Um acordo inicial, que previa um retorno de cerca de US$ 500 bilhões, foi rechaçado por Zelensky, que alegou “não poder vender o Estado ucraniano”. Após a recusa, Trump passou a usar argumentos do próprio Putin para atacar Kiev, citando uma suposta baixa popularidade de Zelensky (ela está em torno de 60%) e questionando sua legitimidade o mandato presidencial terminou no ano passado, mas a Constituição lhe permite seguir no poder, uma vez que a Lei Marcial ainda está em vigor.
Foi quando chamou o ucraniano de "ditador", pouco depois de Zelensky afirmar que Trump estava tentando "agradar a Rússia".
Após as ofensas, as negociações avançaram, e um acordo preliminar, divulgado ao longo da semana, aponta que os ganhos obtidos com a venda futura de parte dos recursos serão depositados em um fundo, mantido por americanos e ucranianos.
Mas o ponto principal para os ucranianos, as garantias fornecidas pelos EUA para que a Rússia não os invada novamente, não apareceram nas primeiras versões do texto.
Starmer e o presidente francês, Emmanuel Macron, foram à Casa Branca nesta semana tentar obter concessões de Trump, mas o republicano não parece disposto a ceder. Ele se recusa a contribuir com tropas para uma força de manutenção de paz, não dá sinais de que mandará mais ajuda militar sem contrapartidas, e tem mostrado uma disposição maior ao diálogo com o Kremlin do que com Kiev.
Nesta quinta-feira (27), ele disse que a presença de empresas americanas do setor de mineração no país poderia ser, por si só, uma garantia de segurança.
— É um apoio, você poderia dizer, não acho que ninguém vai brincar se estivermos lá com muitos trabalhadores e lidando com terras raras e outras coisas que precisamos para o nosso país.