CINEMA

Cinema brasileiro espera por Oscar de "Ainda estou aqui": "Não podemos mais ficar vivendo de crises"

Longa de Walter Salles, estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, concorre em três categorias: melhor filme, filme internacional e atriz

Cena do filme Ainda Estou Aqui. - Alile Dara Onawale/Sony Picutres

O tão aguardado primeiro Oscar brasileiro parece perto. A equipe de “ Ainda estou aqui” irá cruzar o tapete vermelho do Dolby Theater, em Los Angeles, amanhã, com certo favoritismo para conquistar pelo menos uma das três categorias em que concorre no prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Mas, independentemente de levar uma estatueta para casa, o longa de Walter Salles já fez história. Nunca antes uma produção brasileira, falada em português, tinha recebido uma indicação a melhor filme.

Fenômeno de público
Para além do prestígio internacional, “Ainda estou aqui” também é um fenômeno no Brasil, onde já vendeu mais de 5,2 milhões de ingressos e arrecadou R$ 105 milhões nas bilheterias, o maior sucesso comercial nacional desde a pandemia de Covid-19. Agora, a pergunta que fica é: o que a febre “Ainda estou aqui” e um eventual Oscar significam para o futuro do cinema brasileiro?

— O mais importante da trajetória de “Ainda estou aqui” foi a conexão do público com o filme. É muito significativo ver o brasileiro orgulhoso dos nossos filmes e das nossas histórias, e a reconexão com o nosso cinema — destaca Maria Carlota Bruno, produtora do filme. — Todas as premiações são importantes pois fazem com que a nossa cinematografia seja vista e reconhecida aqui e em várias latitudes, e isso fortalece e oxigena a nossa produção.

Presidente da Academia Brasileira de Cinema, a produtora Renata Almeida Magalhães acredita que o sucesso do drama dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres pode fazer com que as pessoas “levem mais a sério o cinema brasileiro”.

— É uma boa oportunidade para entendermos que a cultura é fundamental e que a gente não pode mais ficar vivendo de ciclos e crises. O cinema e os artistas brasileiros têm que ser levados a sério — diz a produtora. — É uma oportunidade também para a gente se perguntar como o Brasil anda tratando seus artistas. Estar num lugar como o Oscar talvez faça as pessoas se tocarem.

A produtora Mariza Leão destaca que o sucesso de “Ainda estou aqui” faz uma provocação ao cinema nacional: “vamos pensar grande”.

— Nossas métricas do que sejam filmes de mercado envelheceu. É preciso ousadia e coragem para arriscar — aponta a produtora de sucessos como “De pernas por ar” e “Meu passado me condena”. — Rodrigo Teixeira e Maria Carlota ousaram e essa deve ser a nossa meta.

Um caminho para tentar reproduzir a trajetória de “Ainda estou aqui” também pode ser investir em parcerias internacionais. O primeiro filme Original Globoplay é uma coprodução entre Brasil e França.

— Acho que esta exposição internacional, com chances de levar o Oscar, pode atrair empresas estrangeiras que queiram investir em parcerias com o Brasil, os famosos acordos bilaterais. O que seria muito positivo para o nosso mercado em questão de emprego, renda e visibilidade — acredita Marina Rodrigues, produtora executiva.

"País de honra" em Cannes
Especializada em políticas para o audiovisual, Rodrigues defende que o governo federal aproveite o momento para combater deficiências históricas de distribuição e comercialização dos filmes brasileiros.

O cinema nacional, por sinal, vem sendo destaque para além de “Ainda estou aqui”. Produções nacionais integraram as mostras competitivas dos últimos festivais de Cannes (“Motel Destino”), Veneza (“Ainda estou aqui”) e Berlim (“O último azul”, vencedor do Urso de Prata de Grande Prêmio do Júri).

No próximo mês de maio, o Marché du Film, área de mercado do Festival de Cannes, terá o Brasil como “país de honra”. Já a disputa da Palma de Ouro tem um filme brasileiro sendo apontado como possível concorrente: “O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho, que lançou “Aquarius”, “Bacurau” e “Retratos fantasmas” no evento francês.

Apostas para o cinema nacional em 2025

"O último azul"
Filme de Gabriel Mascaro, estrelado por Rodrigo Santoro e Denise Weinberg, acaba de ganhar o Urso de Prata de Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim.

"O agente secreto"
Thriller político de Kleber Mendonça Filho passado no Recife durante a ditadura militar. Wagner Moura lidera o elenco.

"A melhor mãe do mundo"
Diretora de “Que horas ela volta?”, Anna Muylaert lança seu novo filme, com Shirley Cruz como a catadora de lixo que tenta escapar de uma relação tóxica.

"Oeste outra vez"
Vencedor do Festival de Gramado de 2024, o faroeste acompanha Ângelo Antônio e Babu Santana como homens frágeis que disputam o amor de uma mulher.

"Homem com H"
Cinebiografia de Ney Matogrosso estrelada por Jesuíta Barbosa. A direção é de Esmir Filho.

"O filho de mil homens"
Adaptação de romance de Valter Hugo Mãe dirigida por Daniel Rezende e estrelada por Rodrigo Santoro.

"Os enforcados"
Leandra Leal volta a ser dirigida por Fernando Coimbra, de “O lobo atrás da porta”. Irandhir Santos vive herdeiro do jogo do bicho no Rio.

"Manas"
Drama de Marianna Brennand retrata a rotina de violência sexual contra crianças na Ilha do Marajó, no Pará. O filme levou o GDA Director’s Award no Festival de Veneza.

"Vitória"
Fernanda Montenegro vive senhora de 80 anos que filmou a rotina do tráfico de drogas na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Com direção de Andrucha Waddington.