Como tarifaço de Trump pode tirar champanhe e outras bebidas europeias dos americanos
Presidente americano ameaça taxar vinho, champanhe e destilados da UE em 200%, por causa das tarifas sobre o bourbon americano
É quase uma nova Lei Seca. Em breve, os americanos podem ter de dizer adeus aos vinhos e champanhe franceses, à cerveja alemã e ao prosecco italiano, devido à escalada da guerra comercial promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Nas redes sociais, ele ameaçou ontem impor tarifas de 200% sobre bebidas alcoólicas da União Europeia (UE) caso o bloco não revogue um imposto sobre o bourbon americano — adotado em retaliação às taxas de 25% sobre aço e alumínio importados pelos EUA.
“Isso será ótimo para os negócios de vinho e champanhe nos EUA”, escreveu Trump em uma rede social. Não há, no entanto, algo como “champanhe dos EUA”, porque esta denominação é restrita aos vinhos espumantes produzidos na região de Champagne, na França.
Também pelas redes sociais, o ministro de Comércio da França, Laurent Saint-Martin, afirmou que Trump “aumenta a aposta na guerra comercial que ele decidiu lançar.” E garantiu que a França “não vai ceder a ameaças e sempre protegerá” sua indústria.
Mais tarde, Trump disse a jornalistas, na Casa Branca, que não voltaria atrás nas sobretaxas sobre aço e alumínio, motivo das tarifas europeias de 50% para o bourbon americano.
A União Europeia está planejando contramedidas às tarifas sobre metais impostas por Trump, aplicando taxas sobre até € 26 bilhões (US$ 28,3 bilhões) em bens americanos. O bloco também iniciará imediatamente consultas com os Estados-membros, com o objetivo de adotar listas adicionais de produtos agrícolas e industriais sujeitos a tarifas de até 25% até meados de abril.
Vendedores de bebidas nos EUA temem bancarrota
Donos de lojas de bebidas nos EUA afirmaram à agência Associated Press (AP) que taxas de 200% sobre as bebidas europeias podem levar muitos negócios à bancarrota. O CEO da importadora Vine Street, Ronnie Sanders, disse duvidar que os consumidores se disponham a pagar até três vezes mais por “seu vinho ou champanhe favorito”.
Já Jeff Zacharia, presidente da comercializadora de vinhos Zachys, explicou à AP que 80% do que vende vêm da Europa. Ele disse que suspendeu as importações até que o cenário fique mais claro.
Segundo a consultoria especializada IWSR, os vinhos e destilados da UE representam 17% do total de bebidas consumidas nos EUA, informou a AP.
A taxação do bourbon é parte das medidas da UE em retaliação às tarifas de 25% impostas por Trump sobre as importações de aço e alumínio — que também afetam o Brasil.
Trump implementou sua ampla agenda tarifária de maneira fragmentada, uma estratégia marcada por incertezas, incluindo atrasos, reviravoltas e mudanças de direção. Na terça-feira, ele ameaçou dobrar uma tarifa iminente sobre o Canadá, mas recuou horas depois, quando Ontário suspendeu uma sobretaxa sobre a exportação de eletricidade.
Enquanto isso, no Brasil...
Hoje será o primeiro encontro entre representantes dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Trump para discutir o tema. A reunião será realizada no Itamaraty com secretários do Ministério de Indústria e Comércio e de Relações Exteriores e emissários do Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer.
O encontro terá caráter técnico e envolverá apenas representantes de segundo escalão, sem a presença do ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin e do chanceler, Mauro Vieira.
Alckmin afirmou ontem que considera as medidas de Trump equivocadas, mas defendeu que o caminho para resolver o problema é o diálogo, não o “olho por olho”:
— Entendemos que o caminho não é olho por olho. Se fizer olho por olho, vai ficar todo mundo cego. O caminho é ganha-ganha. Reciprocidade e buscar o diálogo.
O vice-presidente afirmou ainda que a medida de Trump foi geral, não contra produtos brasileiros:
— Não foi contra o Brasil, foi uma medida geral, para todos, não foi específica. Nós entendemos equivocada, porque o Brasil não é problema na questão comercial dos Estados Unidos, que têm superávit comercial com o Brasil.
Na quarta-feira, quando as sobretaxas entraram em vigor, o governo brasileiro prometeu avaliar “todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior”.
A reunião de hoje é vista como o primeiro passo de uma negociação que deverá ser longa para tentar neutralizar os efeitos negativos das medidas americanas.