EUA

Governo Trump abre investigação contra mais de 50 universidades por programas de diversidade

Universidades de elite americanas convivem com ameaças de cortes de verba por parte do governo federal

Protesto pró-Palestina no campus de Morningside Heighs da Universidade Columbia - David Dee Delgado/Getty Images/AFP

O Departamento de Educação dos EUA anunciou nesta sexta-feira a abertura de investigações contra mais de 50 universidades do país para averiguar supostas práticas discriminatórias contra estudantes brancos e asiático-americanos, no mais novo avanço da administração do presidente Donald Trump contra programas de diversidade, equidade e inclusão.

A medida foi anunciada em um momento em que universidades de elite pelo país enfrentam um movimento coordenado de pressão do governo federal, que ameaça com cortes milionários de verba, sob alegações que variam de promoção de agendas "woke" e suposta condescendência com práticas antissemitas.

"Os estudantes devem ser avaliados de acordo com o mérito e a realização, não pré-julgados pela cor de sua pele", disse a secretária de Educação americana, Linda McMahon, em comunicado anunciando a abertura da investigação. "Não cederemos neste compromisso."

Entre os alvos da investigação está um grupo de 45 instituições vinculadas ao PhD Project, uma iniciativa sem fins lucrativos que auxilia alunos de grupos subrrepresentados a alcançarem formação em cursos ligados à área de negócios.

A Associated Press noticiou que fazem parte do grupo sob escrutínio do departamento instituições como Ohio State, Yale e MIT.

Grande parte das universidades americanas, incluindo algumas das instituições de ensino superior mais bem avaliadas do mundo, entraram na mira de Trump, que há muito aponta para a elite intelectual do país e para as universidades como um reduto de ideais liberais e progressistas dignas de serem combatidos.

O republicano anunciou recentemente cortes e retenção em valores repassados às instituições, o que já teve efeito prático.

Harvard e Penn State impuseram um congelamento temporário na contratação de professores.

O Instituto de Tecnologia da Califórnia (Cal Tech) deixou de preencher vagas de pós-doutorado. Cornell e Columbia estão entre as instituições que registraram protestos pró-Palestina no ano passado, e agora sofrem ameaças de suspensões milionárias em contratos com o governo.

Na segunda-feira, o governo alertou que 60 outras universidades poderiam enfrentar penalidades por investigações pendentes sobre antissemitismo.

Embora o setor privado tenha historicamente fornecido mais financiamento para pesquisa e desenvolvimento nos EUA, especialistas dizem que tanto as demissões em massa promovidas pela a administração Trump na administração federal — incluindo no Departamento de Educação — e o congelamento de bilhões de dólares no Congresso, que seriam destinados às instituições de ensino, podem ter efeito cascata na produção científica nos próximos anos.

Muitos cortes de pessoal e financeiros estão sendo feitos sob a bandeira do corte de gastos da administração pública — uma ideia defendida pelo bilionário Elon Musk e seu Departamento de Eficiência Governamental — enquanto alguns cancelamentos de financiamento e ameaças estão vinculados a alegações de antissemitismo.

Ultimato
No caso de Columbia, localizada em Nova York, a presidente interina da instituição, Katrina Armstrong, recebeu um ultimato do governo na quinta-feira, exigindo mudanças drásticas em seus modelos de admissão, aplicação de processos disciplinares e mesmo em aspectos acadêmicos, por ter "falhado fundamentalmente em proteger estudantes e professores americanos da violência e assédio antissemita, além de outras supostas violações de direitos civis".

Em carta assinada por autoridades da Administração de Serviços Gerais, do Departamento de Educação e do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, o governo dá um prazo até a quarta-feira da próxima semana para que a instituição responda sobre as medidas elencadas, indicando que a manifestação é uma "condição prévia para negociações formais sobre a relação financeira" entre a universidade e o governo americano — que tomará uma decisão final sobre a revogação ou não de uma suspensão de US$ 400 milhões (R$ 2.3 bilhões no câmbio atual) em subsídios e contratos com o governo federal imposta anteriormente.

Entre as medidas elencadas, o governo exigiu a conclusão dos procedimentos disciplinares sobre a ocupação de Hamilton Hall (principal prédio da universidade) e os acampamentos pró-Palestina durante os protestos realizados no ano passado — ressaltando que, por disciplina, referia-se a "expulsão ou suspensão de múltiplos anos" —, a extinção do Conselho Judicial Universitário e concentração dos processos disciplinares no gabinete da presidência, a proibição do uso de máscaras com finalidade de "ocultar a identidade ou intimidar" nas dependências da instituição e a ampliação do uso de força policial dentro do campus, admitindo prisões e remoção de "agitadores".

Outra exigência do governo foi a abertura de um processo de "recuperação acadêmica" do programa de Estudos sobre Oriente Médio, Sul da Ásia e África.

Na carta, as autoridades detalham que este procedimento deve ter duração mínima de cinco anos, e que a universidade se obrigaria a apresentar um cronograma completo, estabelecendo marcos de avanço a serem avaliados em datas estabelecidas — o que arrisca resultar em uma interferência externa na liberdade acadêmica.

Em uma publicação nas redes sociais, o diretor do Knight First Amendment Institute de Columbia, Jameel Jaffer, descreveu a carta do governo como uma espécie de aviso de implosão: "Vamos destruir Columbia, a menos que você a destrua primeiro", escreveu.

No mesmo dia em que a carta foi recebida, Columbia anunciou uma série de ações disciplinares contra alunos que ocuparam prédios do campus incluindo "suspensões de vários anos, revogações temporárias de diplomas e expulsões".

A escola não divulgou os nomes dos estudantes punidos, em conformidade com as leis federais de privacidade. Não está claro quantos alunos foram afetados.