VATICANO

Habemus papam: O que significa a expressão que anuncia novo Papa no conclave?

A frase, que significa "Temos um Papa", será proclamada pelo cardeal Dominique Mamberti

Papa Francisco logo após ser eleito no conclave de 2013 - Vicenzo Pinto/AFP/arquivo

Instantes após a fumaça branca surgir da chaminé da Capela Sistina, indicando a eleição de um novo Papa, as atenções se voltam para a fachada da Basílica de São Pedro. É ali que o cardeal protodiácono surge para proclamar, em latim, o tradicional “Habemus Papam” — expressão que significa “Temos um Papa”. O anúncio marca oficialmente o início do novo pontificado e antecede a primeira aparição pública do pontífice, que concede a bênção “Urbi et Orbi”, destinada a Roma e ao mundo.

O que é 'Habemus papam'?
"Habemus Papam" é a expressão em latim usada para anunciar ao mundo a escolha de um novo Papa. A frase, que significa "Temos um Papa", é proclamada pelo cardeal protodiácono do Vaticano logo após a decisão dos cardeais reunidos em conclave.

O anúncio é feito da sacada central da Basílica de São Pedro, no Vaticano, seguido pela apresentação pública do novo pontífice, que então concede sua primeira bênção aos fiéis.

Quem vai anunciar o novo Papa no conclave?
Neste conclave, os holofotes estarão voltados para o cardeal francês Dominique Mamberti, de 73 anos. Como cardeal protodiácono – ou seja, o mais antigo entre os que pertencem à ordem dos diáconos no Colégio Cardinalício –, se ele próprio não for eleito, terá a responsabilidade de anunciar ao público, a partir da sacada central da Basílica de São Pedro, o nome do novo Papa logo após a eleição no conclave.

Dominique Mamberti - Foto: Vaticano

“Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus papam!” (“Anuncio-lhes com grande alegria: Temos Papa!”), será a frase em latim que o cardeal Dominique Mamberti deverá proclamar da sacada da Basílica de São Pedro ao anunciar o nome do sucessor de Francisco.

Quem é Dominique Mamberti?
Nascido em Rabat, no Marrocos, e criado na ilha francesa da Córsega, Mamberti tem formação jurídica e trajetória marcada pela diplomacia da Santa Sé, sobretudo em países africanos. Estudou Direito em Estrasburgo e Paris, e posteriormente formou-se em Direito Canônico na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.

Entre 1986 e 1990, trabalhou na nunciatura apostólica (a embaixada da Santa Sé em um país estrangeiro) da Argélia, antes de servir no Chile (1990–1993), na sede das Nações Unidas em Nova York (1993–1996) e no Líbano (1996–1999). Em seguida, passou três anos no Vaticano como conselheiro da Secretaria de Estado para as relações com a ONU.

A partir de 2002, exerceu o cargo de núncio apostólico (embaixador) no Sudão, na Eritreia e na Somália. A experiência o levou, em 2006, a ser nomeado pelo então papa Bento XVI como responsável pelas Relações Exteriores do Vaticano. Em 2014, já sob o pontificado de Francisco, assumiu o Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica — o mais alto órgão da Justiça canônica da Igreja. Pouco depois, foi elevado a cardeal.

Discreto, com trânsito entre diferentes regiões do mundo e conhecido por sua atuação em temas de política internacional, Mamberti é considerado um nome de confiança no Vaticano. Tem especial interesse por América Latina, Oriente Médio, mundo islâmico e Nações Unidas, e defende uma visão do direito internacional ancorada na dignidade humana.

A eleição
O conclave que irá eleger o próximo Papa começa nesta quarta-feira, quando os cardeais eleitores se reunirão a portas fechadas na Capela Sistina. Por sorteio, três cardeais são designados “escrutinadores”, outros três como “infirmarii” (encarregados de recolher o voto dos cardeais doentes) e mais três como revisores para verificar a contagem.

Juntos, os cardeais recebem cédulas retangulares com a frase “Eligo in Summum Pontificem” (“Elejo como Sumo Pontífice”) na parte superior, com um espaço em branco logo abaixo para que os eleitores escrevam o nome de seus candidatos à mão, “com a caligrafia mais irreconhecível possível”. Em tese, é proibido votar no próprio nome.

Cada cardeal se dirige por turnos ao altar, segurando sua cédula no ar para que seja bem visível e pronuncia em voz alta o seguinte juramento em latim: “Ponho por testemunha a Cristo Senhor, que me julgará, de que dou meu voto a quem, na presença de Deus, acredito que deve ser eleito”. Eles depositam suas cédulas em um prato e as deslizam na urna diante dos escrutinadores. Depois, voltam para suas cadeiras.

Na semana passada, o Vaticano anunciou que dois cardeais eleitores — com menos de 80 anos — não estarão presentes por motivos de saúde. Com isso, o número de cardeais passa para 133 (sendo sete brasileiros) e os dois terços necessários para a eleição ficam em 88. As ausências serão de um cardeal sérvio e outro espanhol que não foram identificados. O idioma oficial do conclave será o italiano, mas haverá intérpretes.

O escrutínio
Uma vez recolhidas todas as cédulas, um escrutinador agita a urna para misturá-las, transfere as cédulas para um segundo recipiente e outro cardeal as conta. Dois escrutinadores anotam os nomes, enquanto um terceiro os lê em voz alta e perfura as cédulas com uma agulha no ponto em que está a palavra “Eligo”. Os revisores comprovam em seguida que não foram cometidos erros.

Se nenhum cardeal conquistar dois terços dos votos, os eleitores procedem a uma nova votação. Exceto no primeiro dia, são previstas duas votações pela manhã e duas pela tarde até a proclamação de um novo Papa. Caso a definição do novo Pontífice não seja feita em três dias, a votação é suspensa para um dia de oração.

‘Habemus Papam’
O cardeal eleito deverá responder a duas perguntas do decano: “Aceita sua eleição canônica para Sumo Pontífice?” e “Como deseja ser chamado?”. Caso responda sim à primeira, torna-se Papa e bispo de Roma. Um por um, os cardeais expressam um gesto de respeito e obediência ao novo Papa, antes do anúncio aos fiéis. Em seguida, o novo Pontífice aparece e pronuncia a bênção “à cidade e ao mundo”.