BRASIL

'Fuck you, Elon Musk', 'Bestão' e TikTok: as gafes de Janja como primeira-dama

Em caso mais recente, primeira-dama causou constrangimento em jantar com Xi Jinping ao comentar abusos cometidos na rede chinesa

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja - Reprodução

Durante jantar com o presidente chinês Xi Jinping, a primeira-dama brasileira Rosângela da Silva, a Janja, teria causado constrangimento ao falar sobre os efeitos nocivos da rede social TikTok no Brasil. O episódio se soma a uma série de falas de Janja que causaram críticas da oposição e até de aliados.

Desde o início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Janja tem se destacado por declarações que geram controvérsia e alimentam o debate sobre os limites da atuação de uma primeira-dama e sua influência no governo. Um dos episódios aconteceu em novembro, durante um painel ao lado do influenciador Felipe Neto em um evento paralelo ao G20.

Ao final do debate, Janja pediu a palavra para criticar a demora na regulamentação das redes sociais e associou a propagação de desinformação nas plataformas a tragédias climáticas recentes. O sinal sonoro de um navio interrompeu sua fala, e a primeira-dama interrompeu o discurso para afirmar, em tom de piada, que achava "ser o Elon Musk".

— Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk — completou Janja no episódio, em uma fala que foi criticada por aliados e opositores por soar agressiva e pouco diplomática.

O bilionário reagiu em seu perfil na rede social X com a sigla “lol” e, em outra publicação, declarou que o atual governo “vai perder as próximas eleições”.

"Bestão"
No mesmo evento, em novembro, Janja se referiu, em tom irônico, ao caso do homem que detonou explosivos diante do Supremo Tribunal Federal (STF) dias antes. Sem mencionar o nome de Francisco Wanderley Luiz, o Tiü França, autor do atentado, a primeira-dama disse que "o bestão acabou se matando com fogo de artifício".

A leitura feita por dois ministros do Supremo à coluna da Bela Megale é que a fala da primeira-dama minimizou a gravidade do caso e não deu o tom adequado ao episódio. Além disso, a fala foi amplamente disseminada pela oposição.

"Vários não merecem estar aqui"
No início de novembro, Janja visitou o espaço da galeria de fotografias de ex-presidentes da República no Palácio do Planalto, após uma recuperação de quase dois anos. O espaço, localizado no térreo do edifício, havia sido destruído durante os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Ao chegar ao local, Janja disse a jornalistas que vários dos "ex-presidentes" não mereciam estar ali. Ela citou como exemplo a fotografia de Pascoal Ranieri Mazzilli, afirmando:

— (No poder) do dia 2 ao dia 15. Gente, ele não merece estar aqui. Ah, bom, tem vários que não merecem. Pascoal Ranieri Mazzilli, vocês tinham ouvido falar desse presidente? — disse, em tom de crítica.

Ranieri Mazzilli, à época presidente da Câmara dos Deputados, assumiu interinamente a Presidência da República entre 2 e 15 de abril de 1964, após a deposição de João Goulart, no início do regime militar.

Móveis do Alvorada
No início de 2023, Lula e Janja afirmaram que diversos itens do Palácio da Alvorada haviam desaparecido após a saída do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O casal chegou a justificar a compra de novos móveis e objetos decorativos pela suposta ausência dos itens na residência oficial.

Lula e Janja criticaram publicamente as condições da residência oficial, relatando deterioração e ausência de móveis, utensílios domésticos, livros e obras de arte. O casal chegou a passar o primeiro mês de governo hospedado em um hotel em Brasília, alegando que tanto o Alvorada quanto a Granja do Torto não estavam em condições de uso.

Dez meses depois, os 261 objetos considerados “desaparecidos” foram localizados no próprio Palácio da Alvorada. Segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), os itens estavam espalhados em “dependências diversas” do palácio. Ainda de acordo com a Secom, foram necessárias três vistorias para localizar todos os bens: a primeira, feita em novembro de 2022, identificou o sumiço de 261 peças; a segunda, no início de 2023, encontrou 173; e a última, realizada em setembro, confirmou que nenhum item havia sido retirado pelo casal Bolsonaro.

Apesar de reconhecer que os objetos não foram extraviados, a Secom afirmou que eles foram deixados em condições precárias, indicando "descaso" na gestão anterior.

Após a localização dos bens, Bolsonaro e Michelle acionaram a Justiça alegando acusações infundadas e exigiram indenização por danos morais no valor de R$ 20 mil, além de retratação pública — incluindo uma entrevista no Palácio da Alvorada e pronunciamento oficial nos canais do governo e na emissora GloboNews.

Jantar em Pequim
No caso mais recente, ela teria criado um mal-estar durante um jantar em Pequim com Lula, Xi Jinping e ministros ao citar os abusos cometidos na rede chinesa, segundo a GloboNews. O presidente da China respondeu que o Brasil tinha o direito de regulamentar o TikTok e até banir a rede social se achasse necessário.

Em entrevista a jornalistas após a repercussão da conversa, Lula afirmou que foi ele que tomou a iniciativa de abordar o tema e Janja “pediu a palavra” para mencionar os abusos cometidos na rede.

— Fui eu que fiz a pergunta. Eu perguntei ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para a gente discutir a questão digital, e sobretudo o Tik Tok. E aí a Janja pediu a palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, sobretudo contra as mulheres e contra as crianças.

Lula aproveitou para dar uma bronca em quem vazou a informação, durante a entrevista coletiva que concedeu em Pequim antes de partir, após visita de três dias à capital chinesa. Para ele, “alguém teve a pachorra” de revelar o que aconteceu num encontro confidencial, em que participaram apenas ministros e parlamentares.

— Eu vi na matéria que um ministro estava incomodado. Se um ministro estivesse incomodado, ele deveria ter me procurado e pedido para sair. Eu autorizaria ele a sair de lá — disse Lula.