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Gripe aviária: exportação de frango será direcionada a países que continuam abertos para o Brasil

Associação estima que 15 mercados poderão suspender compras de todo o produto nacional, entre 150 destinos

Trabalhador examina aves em busca de sinais de infecção por gripe aviária em granja - Chaideer Mahyuddin / AFP

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, afirmou, nesta segunda-feira, que o setor deverá remanejar os embarques de carne de frango e derivados de aves para países que se mantiverem abertos ao Brasil, após o registro de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul.

Segundo Santin, em volume, as exportações brasileiras desses produtos somaram 5,3 milhões de toneladas em 2024.

Santin disse que o Brasil vende para 150 mercados e apenas 15 deverão se fechar integralmente para o frango brasileiro.

Entre os países a serem buscados, estão aqueles que adotaram restrição apenas ao município gaúcho de Montenegro, onde foi confirmado o primeiro caso da doença em um estabelecimento comercial, ou no estado do Rio Grande do Sul. São exemplos Japão, Filipinas, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

— Somos o maior exportador mundial, com 39,3% do market share global. Atrás de nós, estão os Estados Unidos e a Europa, mas a soma dos dois ainda não dá o tanto que o Brasil exporta. Não temos expectativa sobre quanto deixaremos de vender. Vamos redirecionar nossas vendas para os outros mercados que estão abertos, que permanecerão abertos ou que suspenderam as compras em um raio de 10 km de onde teve o foco — afirmou o presidente da ABPA.

Para Santin, neste momento, o surto está sob controle, embora não seja possível prever o que pode acontecer no futuro. Ele ressaltou que todas as providências já foram tomadas, como a desinfecção da granja em Montenegro.

— Esperamos que nenhum caso novo vá surgir. O Brasil tem preparação, tem biosseguridade e é importante lembrar que a influenza aviária em aves silvestres chegou no Brasil em 2023. Agora temos um caso pontual. Esperamos que não tenhamos mais, mas também estamos dizendo ao mundo que, se por acaso surgirem outros casos, temos as regionalizações, os controles que asseguram que o Brasil pode controlar qualquer surto e continuar a vender e ajudar na segurança alimentar do país e do mundo — disse.

Com a suspensão de parte das exportações, Santin acredita que, no mercado interno, podem ocorrer quedas pontuais e em algumas situações, sem nada generalizado. Isso porque as vendas devem ser redirecionadas, ou os produtores poderão armazenar o frango, esperando o retorno das encomendas.

— A China, por exemplo, importa mais de 500 mil toneladas do Brasil. No entanto, 350 mil dessas 500 mil toneladas são de pé de frango, um produto que o brasileiro não costuma comer. Então ele vai ser utilizado, se não for para a China, para fazer ração animal, sem nenhum impacto no preço.

Ele afirmou que, nos quatro primeiros meses do ano, houve alta das exportações e 9% do volume embarcado e 15% da receita, em dólares.

Em nota, a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reiterou que a doença não é transmitida pela ingestão de carne de aves e de ovos, não havendo restrição de consumo e riscos ao consumidor final.

A entidade lembrou que esse é o primeiro foco em granja comercial no país e que, em 2023, foram verificados focos apenas em animais silvestres e aves de subsistência.

"O Brasil possui um forte sistema de defesa sanitária, graças ao trabalho do Serviço Veterinário Oficial (SVO), em conjunto com os produtores rurais e demais elos da cadeia. O Plano de vigilância contra a doença prevê tanto a vigilância passiva, quando as amostras são coletadas de forma espontânea, mediante notificações de casos, e também a vigilância ativa, com investigações sendo realizadas de forma sistemática em busca de casos", diz um trecho da nota da CNA.

Desde 2022, foram realizadas quase 4 mil investigações no Brasil envolvendo suspeitas de síndrome respiratória em aves, com coleta de amostras em mais de 1 mil situações.