Netanyahu desafia Justiça de Israel e nomeia general como novo chefe da agência de segurança interna
Anúncio foi feito após procuradora-geral dizer que o premier estava impedido de nomear novo líder enquanto decisões da Suprema Corte eram analisadas
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nomeou o general David Zini para liderar o Shin Bet, a agência de segurança interna do país. A decisão, anunciada na noite de quinta-feira,ocorreu um dia após a Suprema Corte de Justiça emitir um parecer afirmando que a demissão do atual chefe do órgão, Ronen Bar, por Netanyahu foi feita de maneira “inadequada e ilegal”, indicando que o premier tinha um “conflito de interesses”.
A escolha de Netanyahu também desafia a ordem da procuradora-geral israelense Gali Baharav-Miara, que, na quarta, informou que premier estava impedido de nomear um novo chefe para a agência enquanto ela analisava as implicações da decisão da Suprema Corte. Mesmo assim, o Gabinete do primeiro-ministro anunciou a nomeação de Zini, que “atuou em diversas posições e comandos operacionais das Forças Armadas”.
O anúncio de Netanyahu, no entanto, é apenas o primeiro passo do processo, e os sinais iniciais indicam que o caminho à frente para o general Zini pode ser turbulento. Na quarta, quando o tribunal israelense escreveu que a demissão de Bar havia sido “marcada por diversas falhas”, também foi levantada questões sobre os interesses do premier, já que Bar foi demitido enquanto o Shin Bet investigava assessores do próprio Netanyahu por possíveis irregularidades em suas relações com o Catar.
Netanyahu diz ter perdido a confiança em Bar após os ataques liderados pelo Hamas em outubro de 2023, culpando-o por não tê-los evitado. O anúncio sobre o general Zini mencionou que, em março daquele ano, ele elaborou um relatório para o comandante da divisão de Gaza do Exército israelense sobre a preparação para “um evento surpresa complexo”, concluindo que “uma incursão surpresa poderia ser realizada”.
O Shin Bet, em um relatório de março sobre o ataque, assumiu responsabilidade por não ter dado atenção aos sinais de alerta de uma ofensiva planejada pelo Hamas antes da ação dos militantes. No entanto, o relatório também culpava parcialmente as políticas do governo como fatores que contribuíram para o ataque, afirmando que a administração havia permitido que o Hamas acumulasse armas e arrecadasse fundos para sua ala militar com apoio do Catar.
Ainda não está claro quando o general Zini poderá de fato assumir o comando do Shin Bet. Uma comissão, liderada por um ex-presidente da Suprema Corte, precisa aprovar a escolha do primeiro-ministro, mas essa comissão está com vários assentos vagos, e ainda não se sabe quando — ou se — será possível discutir a nomeação. A resposta da procuradora-geral ao anúncio também indica que Netanyahu poderá enfrentar mais resistência legal.
O líder da oposição, Yair Lapid, pediu que Zini não aceitasse o cargo antes que a Suprema Corte de Israel se pronunciasse sobre o caso. O ministro da Justiça, Yariv Levin, por sua vez, elogiou a decisão de Netanyahu de desafiar a procuradora-geral, descrevendo-a como uma decisão “corajosa, necessária e crucial”, que segundo ele “restaura finalmente a ordem democrática adequada”.
O general Zini, que esteve encarregado de ajudar a gerir o polêmico esforço do Exército israelense para recrutar membros da comunidade ultraortodoxa que antes estavam isentos do serviço militar, ganhou as manchetes em Israel em janeiro, após ser atacado e perseguido na cidade ultraortodoxa de Bnei Brak, no centro do país.