EXTREMA DIREITA

Sob gritos de 'morte aos árabes', torcedores israelenses agridem motoristas palestinos; vídeo

Uma das vítimas disse que a polícia demorou mais de 20 minutos para chegar

Sob gritos de 'morte aos árabes', torcedores israelenses agridem motoristas palestinos; vídeo - reprodução/X

Dezenas de torcedores do Beitar Jerusalém — clube com histórico de violência racista e preconceito anti-árabe — agrediram dois motoristas árabes de ônibus depois que o time perdeu a final da Copa do Estado de Israel na noite de quinta-feira, em Jerusalém, publicou o jornal israelense Haaretz. Vídeos publicados nas redes sociais mostram vários torcedores espancando um dos motoristas e atirando objetos contra ele.

A Polícia de Israel informou que, após receber uma denúncia sobre o incidente, agentes foram até o local e iniciaram uma investigação. Até a última atualização deste texto, no entanto, ninguém havia sido preso pelo ataque. Um dos motoristas agredidos, Ahmad Kar’in, contou ao Haaretz que a agressão ocorreu enquanto ele fazia sua rotina habitual — e que a polícia demorou de 20 a 30 minutos para chegar ao local.
 



— Reconheci [os torcedores] pela roupa e pelos cachecóis. Eles perceberam que eu era árabe depois de falarem comigo. Do nada começaram a gritar ‘morte aos árabes’, xingaram e me agrediram. Mais e mais deles foram se juntando — relatou, acrescentando que um colega motorista tentou ajudá-lo, mas também foi atacado. — Eu estava com muito medo. Achei que não sairia vivo.


O prefeito de Jerusalém, Moshe Leon, condenou o ataque e pediu que a polícia e o Ministério dos Transportes “coíbam esse tipo de comportamento e garantam a segurança de motoristas e passageiros”:

“A violência contra motoristas de ônibus ultrapassa todos os limites. Não aceitaremos uma realidade em que trabalhadores dedicados tenham que temer por suas vidas enquanto fazem seu trabalho”, afirmou ele em comunicado, acrescentando: “Causar dano a alguém por sua etnia é algo gravíssimo. É inaceitável e fere nossos valores judaicos”.

Precedentes
Em 2012, centenas de torcedores do Beitar Jerusalém invadiram o shopping Malha, proferindo ofensas racistas contra trabalhadores e clientes palestinos, entoando cantos antiárabes e ocupando a praça de alimentação no segundo andar. Em seguida, agrediram funcionários árabes da limpeza. O episódio foi considerado um dos maiores confrontos étnicos já registrados em Jerusalém.

Na época, 16 torcedores foram presos por suspeita de envolvimento no caso. Ainda assim, apenas um ano depois, um incidente semelhante ocorreu em um McDonald’s da cidade: imagens de segurança mostraram torcedores do Beitar tentando invadir o local, atirando objetos e agredindo funcionários com cadeiras.

Um segmento ainda mais radical da torcida do Beitar, conhecido como La Familia, está associado tanto ao ataque a um motorista árabe durante um protesto antigoverno em 2020 quanto ao linchamento de um cidadão árabe em Bat Yam, durante os confrontos civis entre israelenses e palestinos em 2021, no contexto de mais uma guerra entre Israel e Hamas, publicou o Haaretz.