BRASIL

CPI do INSS: PL deve escalar deputados com alcance nas redes para desgastar o governo

Nikolas Ferreira, Bia Kicis e Marco Feliciano estariam entre os contemplados

Parte da bancada do PL reunida no salão verde da Câmara dos Deputados - Divulgação/PL

Fora da relatoria da CPI do INSS, que deverá ficar a cargo de um deputado do Centrão, o PL quer escalar para o colegiado parlamentares com número elevado de seguidores nas redes sociais, em uma tentativa de desgastar o governo com cortes de vídeos.

Dirigentes e congressistas da legenda avaliam que, nas mãos de um deputado de centro, dificilmente um relatório final do colegiado vai pedir indiciamentos que possam ampliar as turbulências para o Palácio do Planalto após as fraudes. Desta forma, o partido vê que a única maneira de desgastar o governo Lula com a CPI é através do "controle da narrativa". Isto poderia ser feito através de cortes feitos para as redes sociais, o que deve pautar a escolha dos membros do partido.

Mesmo após o pedido do PL, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já sinalizou a aliados que vai indicar como relator um deputado com o perfil considerado “equilibrado”. Para driblar esse “veto”, o líder do partido na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), deve contemplar os parlamentares que têm maior alcance nas redes sociais, como os deputados Nikolas Ferreira (MG), Bia Kicis (DF), Marco Feliciano (SP) e André Fernandes (CE).

 

Em sua página no Instagram, por exemplo, Nikolas concentra quase 18 milhões de seguidores e, por isso, é visto como o parlamentar mais "midiático" da bancada do PL. Bia Kicis tem mais de 2 milhões, com influência sobre o eleitorado feminino e conservador. Feliciano supera 3 milhões, com influência sobre o eleitorado religioso, enquanto André Fernandes é visto como um parlamentar capaz de "furar" a bolha no nordeste, com compartilhamentos entre os seus 2.5 milhões de seguidores.

Vídeos feitos por parlamentares bolsonaristas já conseguiram abalar a popularidade do governo Lula, recentemente. Em janeiro, Nikolas foi responsável por fazer críticas às regras anunciadas na época pela Receita Federal sobre o monitoramento de transações financeiras, incluindo o Pix. O parlamentar mineiro semeou a dúvidas: ele reconhecia que a medida não implicava diretamente em taxação, mas disse achar que as pessoas seriam tributadas no futuro. Também falou sobre a possibilidade de trabalhadores informais de baixa renda serem prejudicados no momento da declaração do Imposto de Renda.

A bola de neve que virou a repercussão negativa da medida motivou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a chamar ministros às pressas ao Palácio do Planalto e revogar a normativa da Receita. Além de dúvidas, a ampliação do monitoramento gerou uma onda de notícias sobre uma taxação do Pix, o que o texto nunca estabeleceu.

O vídeo teve mais de 100 milhões de visualizações.

Briga por vagas
Internamente, o PL já vive a disputa por vagas na CPI. No total, o partido terá direito a seis vagas pela Câmara no colegiado — três titulares e três suplentes. Uma das suplências, entretanto, será cedida ao Partido Novo, por acordo. Logo, sobram cinco vagas para 16 parlamentares que pediram assento.

— Tem muitos pedidos na mesa. Diante disso, eu tenho três opções: ou eu mesmo decido, ou faço um sorteio, ou recorremos à estratégia de escolher quem tem mais seguidores, que permitirá o compartilhamento dos momentos de questionamentos no colegiado, o que permitirá o controle da narrativa. Fora isso, sem a relatoria, a CPI já nasceria morta. Precisamos jogar luz sobre essas fraudes aos aposentados — afirma Sóstenes.

Das cinco vagas do PL, duas devem caber aos autores do requerimento da CPI, os deputados Coronel Fernanda (MT) e Coronel Chrisóstomo (AM).

Partidos da base indicam oposicionistas
Legendas da base do governo Lula que comandam ministérios, como o PP e PSD, escalaram na quinta nomes com perfis oposicionistas.

O PSD da Câmara indicou Sidney Leite (AM) como titular e Carlos Sampaio (SP) para a suplência. Leite é autor de projeto de lei apresentado, justamente, em resposta à crise do INSS, depois de investigações apontarem descontos indevidos em aposentadorias.

A proposta, cuja urgência chegou a ser aprovada na Câmara, impede a realização de descontos nos benefícios previdenciários referentes a mensalidades de associações. A expectativa é de que a dupla do PSD trabalhe de forma crítica às medidas do governo Lula para coibir as fraudes.

O PP, por sua vez, já tem escolhidos os seus representantes pelo Senado. De acordo com o presidente nacional da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), o titular será o senador Esperidião Amin (SC) e o suplente, Luiz Carlos Heinze (RS). Amin já declarou que os governistas tentam dominar a composição da CPI com o objetivo de barrar o relatório final. Heinze, por sua vez, é alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

— Ainda não temos os nomes da Câmara definidos. Mas, já sabemos que Amin e Heinze vão compor a nossa dupla do Senado — afirmou Ciro Nogueira.

PT escolhe nomes
Na federação PT-PCdoB-PV, uma das duas vagas titulares ficará com o deputado Paulo Pimenta (RS), ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom). A segunda vaga dos petistas ainda não foi definida, segundo o líder do partido na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), mas nomes como o deputado Rogério Correia (MG) já e colocaram à disposição. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) ocupará uma das suplências.