UE já discute medidas de retaliação com "tarifa proibitiva" para o comércio transatlântico
Ministro da Economia da França afirma que bloco deve permanecer unido e colocar na mesa sua capacidade de resposta
A ta rifa de 30% proposta por Donald Trump sobre produtos da União Europeia é “efetivamente proibitiva” para o comércio transatlântico e pode justificar retaliação, disse o comissário de comércio da UE, Maros Sefcovic, principal negociador do bloco.
Em entrevista coletiva com jornalistas em Bruxelas nesta segunda-feira, antes de uma reunião de ministros do comércio, Sefcovic alertou que medidas de retaliação podem estar em discussão como uma opção para responder às tarifas impostas pelo presidente dos EUA.
— A atual incerteza causada por tarifas injustificadas não pode persistir indefinidamente. Portanto, devemos nos preparar para todos os desdobramentos, incluindo — se necessário — contramedidas bem pensadas e proporcionais para restaurar o equilíbrio em nossa relação transatlântica — afirmou, ressaltando, no entanto, que a UE deseja uma solução negociada.
Sefcovic também observou que qualquer ação poderá incluir a opção de atingir o setor de serviços, além do uso do instrumento anticoerção, a ferramenta comercial mais poderosa da União Europeia. Essa medida nunca foi utilizada até agora.
A pressão para que a UE mude de estratégia está crescendo, especialmente por parte da França. Em um tom mais duro, o ministro da Economia, Laurent Saint-Martin, afirmou que o bloco deve agora estar aberto a uma resposta mais firme.
— A prioridade é que a UE permaneça unida. Mas, obviamente, a situação desde sábado deve nos levar a mudar de método. Precisamos apresentar de forma concreta e clara a capacidade da UE de colocar contramedidas na mesa, de retaliar.
O comissário de comércio da UE deve conversar com representantes americanos ainda nesta segunda-feira, após Trump ter anunciado tarifas de 30% sobre as exportações europeias aos EUA a partir de 1º de agosto.
As declarações de Sefcovic apontam para o risco de uma escalada no impasse das relações bilaterais, que autoridades de Bruxelas consideram as mais importantes do mundo em termos de comércio e investimento.
—Sentimos uma enorme responsabilidade pelo maior relacionamento comercial deste planeta”, disse Sefcovic. — Estamos demonstrando enorme paciência, enorme criatividade para encontrar soluções— acrescentou.
A UE está prestes a prorrogar a suspensão das tarifas sobre € 21 bilhões (US$ 24,5 bilhões ou R$ 136,8 bilhões) em produtos de aço e alumínio dos EUA, sinalizando que Bruxelas quer evitar uma escalada imediata.
O bloco já tem preparado outro pacote de retaliação que abrange cerca de € 72 bilhões em bens, além de alguns controles de exportação, que serão discutidos pelos Estados-membros ainda hoje.
Ministros presentes à reunião em Bruxelas demonstraram surpresa e determinação diante da ameaça tarifária feita por Trump no sábado.
— Os EUA estão assumindo um risco —disse o ministro do Comércio Exterior da Finlândia, Ville Tavio, alertando que eventuais contramedidas atingiriam a economia americana. — As negociações não podem ser unilaterais — acrescentou.
Já o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, disse a jornalistas que a UE deve encontrar um equilíbrio entre evitar uma escalada e demonstrar “prontidão para responder”.
— Queremos um acordo com os EUA, mas precisa ser um acordo justo — somos 450 milhões de cidadãos na união aduaneira europeia, o que nos dá muita força de negociação — afirmou Rasmussen. — Mas, se você quer a paz, precisa se preparar para a guerra — e acho que é exatamente onde estamos.
Enquanto isso, a União Europeia está se preparando para intensificar o diálogo com países afetados pelas tarifas de Trump, após uma série de novas ameaças ao bloco e a outros parceiros comerciais dos EUA, segundo fontes familiarizadas com o assunto.
Contatos com nações como Canadá e Japão podem incluir a possibilidade de coordenação conjunta, disseram as fontes, que falaram sob condição de anonimato por se tratar de deliberações privadas. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, falará com o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, nesta segunda-feira, informou um funcionário em Bruxelas.