Lula prevê pressão interna sobre Trump com tarifaço: 'O povo americano vai sofrer'
Em entrevista, presidente diz que 'continua disposto a negociar' com Trump
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a afirmar hoje que tem disposição para negociar com o homólogo americano, Donald Trump, sobre o tarifaço que sobretaxa em 50% produtos brasileiros exportados para os EUA.
No entanto, apontou o impacto na vida dos americanos como o principal fator de pressão sobre o republicano.
As taxas de importação são pagas pelos importadores, que repassam o aumento do importo para os preços. Economistas preveem aumento da inflação nos EUA, embora números divulgados hoje ainda não tenham captado impactos da política comercial de Trump.
Em entrevista à rádio e TV Band News, o petista afirmou ainda que o tarifaço de Trump vai aumentar os preços para os americanos — citando inclusive uma suposta picanha sendo vendida a 150 dólares nos EUA, o equivalente a R$ 810 na cotação atual:
– Uma das coisas que eu acho é que o presidente Trump não pensou, embora ele diga que está juntando muito dinheiro (com a arrecadação do tarifaço), que os produtos taxados em todos os países do mundo vão aumentar os preços nos Estados Unidos. Não existe milagre. A economia não tem milagre. Eles não ficarão impunes, porque o povo americano vai sofrer. Trump vai sofrer as consequências dessa taxação.
Foi quando afirmou que os americanos já estariam sentido a alta dos preços no supermercado:
— Aliás, para quem reclama, eu queria que você entrasse no site americano e procurasse uma picanha. Uma picanha hoje estava sendo vendida a US$ 150.
'Continuo preparado para negociar'
Em várias vezes ao longo da entrevista, porém, Lula voltou a pregar o respeito mútuo e a negociação entre EUA e Brasil como solução ao tarifaço:
— Eu continuo preparado para negociar com os Estados Unidos. É importante os estados saberem. Se tem uma coisa que nós estamos é preparados para negociar. Eu não sei qual é a experiência de negociação do presidente Trump, mas eu, desde 1968, quando entrei no mundo sindical, eu aprendi a negociar. É importante que a gente converse, ele não precisa gostar de mim. Eu não preciso gostar dele, ele só tem que gostar do Brasil e eu gostar do povo americano. Se a gente respeitar o que a gente é, está de bom tamanho — disse Lula.
O presidente afirmou que enviou uma carta a Trump convidando o americano para a COP30 de Belém e que pode se encontrar com ele na assembleia geral da ONU, em setembro, quando tradicionalmente o presidente do Brasil abre as sessões de discursos antecedendo o dos EUA.
Por fim, Lula também afirmou que mantém boa relação com o empresariado brasileiro mais afetado pelas tarifas de Trump.
— Eu trato eles (empresários) com o respeito que eu acho que eles merecem. Porque eles têm muita responsabilidade com a economia brasileira, com o crescimento do Brasil. Então, eu trato eles bem — disse o presidente.
No entanto, ele disse saber que as classes empresariais não o têm como candidato preferido nas eleições. Descreveu a falta de afinidade como "coisa de pele", afirmando que sua posição em favor dos mais pobres o afasta dos empresários.
Nova defesa de alternativa ao dólar
Anunciada no último dia 9 de julho, em uma carta publicada por Trump, entra em vigor, nesta quarta-feira, uma sobretaxa de 40% passou a incidir sobre parte das exportações brasileiras para os EUA, que já havia aplicado 10% aos itens do Brasil. Os produtos fora das listas de exceção terão no total uma tarifa de 50% paga pelos importadores americanos, o que inviabiliza a transação em muitos casos.
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O presidente Lula também voltou a defender que o comércio entre países dos BRICS seja feito com moedas desses países, e não em dólar, um dos motivos que levaram Trump à taxação.
— A gente não quer mexer com o dólar, o dólar é uma moeda importante, os EUA têm a máquina que roda essa moeda, mas nós podemos discutir nos Brics a necessidade de uma moeda de comércio entre nós dos Brics. Eu não recuo dessa ideia, porque é preciso testá-la — disse.
Plano de ajuda a empresas sai nesta quarta
Ainda na entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, da Band News, Lula afirmou que vai assinar amanhã uma Medida Provisória para criar uma linha de crédito de R$ 30 bilhões destinada a empresas que foram prejudicadas pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O GLOBO adiantou que o valor do pacote em estudo era de R$ 30 bilhões.
Desde o último dia 6, produtos brasileiros exportados para os EUA são taxados em 50%, exceto uma lista de quase 700 exceções, como suco de laranja e aviões.
– Amanhã eu vou assinar uma medida provisória que cria uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para as empresas brasileiras que porventura tiverem prejuízos com a taxação do Trump. R$ 30 bilhões é o começo — afirmou Lula.
Questionado por Azevedo se também lançaria mão de compras governamentais dos produtos taxados para aliviar o tarifaço, Lula confirmou a hipótese e citou "conteúdo nacional" sem detalhar do que se trata:
— Vai, vai, vai ter. A gente vai ter crédito, compras governamentais e abertura de novos mercados (outros destinos para esses produtos). E vai ter (prioridade para) conteúdo nacional também, nas coisas que nós fabricamos aqui, porque nós vamos garantir a sobrevivência das empresas brasileiras, como eu acho que todos os outros países vão fazer um sacrifício enorme para as empresas deles.
'Ninguém fica desamparado'
O presidente deu a entender que as medidas seriam principalmente focadas em pequenas empresas:
— Vai ter uma política de crédito que a gente está pensando em ajudar, sobretudo as pequenas empresas, o pessoal que exporta fruta, mel e outras coisas. Então, nós vamos aprovar amanhã (o pacote) e eu acho que vai ser extremamente importante para que a gente possa mostrar que ninguém fica desamparado por conta da taxação do presidente Trump – afirmou o presidente.