Antes de se tornar traficante, Diaba Loira foi denunciada por coagir lojistas em Santa Catarina
Traficante oriunda de Santa Catarina passou a integrara as duas maiores facções criminosas do Rio e foi executada na última quinta-feira, em Cascadura, na Zona Norte
A traficante Diaba Loira, encontrada morta em Cascadura, na Zona Norte do Rio, e que chegou a ser presa duas vezes em Santa Catarina, já colecionava problemas antes de entrar para o mundo do tráfico. Em sua cidade natal, quando ainda trabalhava em uma loja de roupas, ela foi acusada de coagir funcionários e ridicularizar o estabelecimento para exigir uma indenização, alegando ter se machucado no local.
Em 2020, Eweline Passos Rodrigues, de 28 anos, foi alvo de uma ação judicial em Tubarão. A empresa Lojão Urussanga Comércio de Confecções Ltda pediu uma tutela de urgência para que ela cessasse os contatos com a loja.
O processo, porém, não avançou. A Justiça de Santa Catarina julgou a ação improcedente, considerando que não havia provas suficientes para confirmar as alegações da empresa. Segundo a decisão, o contato de Eweline para reivindicar um direito não configurou conduta ilícita, tratando-se de um “exercício regular de direito”.
Vida no crime
Antes de mergulhar de vez no mundo do crime, Eweline Passos Rodrigues trabalhou como revendedora de cosméticos, vendedora de trufas e até como alfaiate, com salários que variavam entre R$ 1.017 e R$ 1.346. Em Tubarão, sua cidade natal, em Santa Catarina, levava, aparentemente, uma rotina comum e uma vida profissional relativamente estável antes de se envolver com o tráfico e as facções criminosas. No nome dela, também há uma empresa voltada para promoção de vendas, registrada em Tubarão, sua cidade natal, em Santa Catarina, com capital social de R$ 3 mil.
Com o dinheiro da venda das trufas, Eweline pagava a mensalidade do curso de Direito numa universidade de Santa Catarina. Ela, inclusive, usava os estudos como slogan do negócio: "Adoce seu dia com essas delícias e me ajude na faculdade".
Segundo a Polícia Civil catarinense, Diaba Loira vira traficante após sofrer uma tentativa de feminicídio em 2022, em Capivari de Baixo, município de cerca de 24 mil habitantes. Ela foi atacada com uma facada no pulmão pelo ex-companheiro enquanto buscava o filho pequeno, precisando passar por cirurgia de emergência.
Eweline também justificou a transformação na vida num vídeo publicado este ano no TikTok: "Foi culpa da polícia que não fez nada por mim lá em Santa Catarina. Antes de julgar, vem ver a nossa história".
— A primeira vez que me deparei com a Eweline foi quando ela foi vítima de uma tentativa de feminicídio. O sujeito e a família alegavam que ela havia se apossado de uma quantia em dinheiro dele — contou o delegado André Crisóstomo, da 5ª DRP, em Tubarão.
Segundo o policial, o ex-marido de Eweline trabalhava em outro estado e relatou que, ao voltar a Santa Catarina, descobriu que Eweline o traía e havia se apropriado do dinheiro que ele enviava para ser guardado.
A dinâmica do crime aparece resumida no recurso em habeas corpus em favor do ex-companheiro, negado no Superior Tribunal de Justiça no ano passado. Nele, há a informação de que o homem a atacou pelas costas, dando-lhe uma facada que perfurou o pulmão, durante uma briga na casa onde moravam — e onde estavam seus dois filhos.
Ela foi socorrida pela mãe, a sogra e conhecidos, e passou por uma cirurgia de emergência. Eweline tinha contra o agressor medidas protetivas, todas desrespeitadas. O processo do crime, que está em segredo de Justiça, foi concluído com a absolvição do ex-companheiro dela.
Foragida
Após o ataque, a Polícia Civil de SC passou a investigá-la por tráfico de drogas em Tubarão. Segundo o delegado, eweline já tinha conexões suspeitas com traficantes da região. Enquanto aguardavam a expedição de um mandado de busca e apreensão, Eweline foi presa em flagrante pela Polícia Militar em maio de 2023, por tráfico de drogas.
Em janeiro de 2024, veio a segunda prisão. Já investigada por integrar uma organização criminosa, ela e um comparsa, chamado Ruan Carlos dos Santos, foram detidos por porte ilegal de arma de fogo, com provas de que se deslocavam para executar outro desafeto. Em determinação judicial, Eweline Passos Rodrigues passou a ser monitorada por tornozeleira eletrônica.
— A sequência dos elementos deixava claro que ela fazia parte de uma facção catarinense e atuava também em Florianópolis — afirmou Crisóstomo.
Diaba Loira chegou a receber o direito de responder em liberdade e foi solta, usando uma tornozeleira eletrônica. No entanto, após Eweline romper duas vezes o monitoramento, o delegado Pereira solicitou novamente sua prisão, e ela se tornou foragida da Justiça. Ainda naquele ano, seu destino foi a capital fluminense, onde buscou abrigo em redutos do Comando Vermelho no Rio: primeiro no Complexo do Alemão, na Zona Norte, e depois na Gardênia Azul, na Zona Oeste.
— Nesse período, recebíamos diversas fotos e vídeos dela portando fuzis nas favelas cariocas — contou Pereira.
O apelido “Diaba Loira” surgiu após sua chegada ao Rio, coincidindo com sua notoriedade nas redes sociais, onde coleciona cerca de 92 mil seguidores e compartilhava vídeos portando armas pesadas. Até pouco antes, era conhecida como “Pitbull”.
Em junho deste ano, voltou a chamar atenção ao ser vista atirando contra policiais durante uma operação na Gardênia Azul.
Do CV para o TCP
Em vídeos, a Diaba Loira já deixava claro que havia migrado de facção e contava que não temia ser executada por traficantes rivais por classificá-los como "despreparados".
"É para eu ter medo? Eu estava do lado de vocês esse tempo todinho, sei que vocês são despreparados. Então antes de falar que a 'equipe caos' vai te pegar, parem de querer ameaçar, está chato já. Quem faz não fala", dizia em um dos vídeos
Em julho, publicou um vídeo lamentando a morte da mãe, afirmando que ela teria sido assassinada por criminosos rivais do CV. Na realidade, a mãe está viva e chegou a se apresentar na delegacia de Tubarão para esclarecer a suposta morte da filha.
"Vocês pegaram a minha família, mataram a minha mãe. Vocês destruíram a única pessoa que eu tinha. Acabaram com ela, mesmo sabendo que ela morava sozinha e quase não falava comigo. Esses filhos da p*ta do Comando Vermelho sabiam", disse Diaba Loira num vídeo publicado em julho deste ano.
Eweline também confirmou publicamente sua aliança com o TCP, compartilhando conteúdo ligado à Tropa do Coelhão, liderado pelo traficante William Yvens Silva, grupo ligado ao TCP no Complexo da Serrinha, em Madureira, Zona Norte do Rio, cujo chefe do tráfico é um dos criminosos mais procurado do Rio, Wallace Brito Trindade, o Lacosta.