Os Garotin: "Somos a melhor e a única boy band de MPB da história"
Depois de ganhar o Grammy Latino, trio de São Gonçalo lança o EP "Session 2" nas plataformas e se apresenta com Melly no The Town
São apenas dois anos na cena e muitas realizações: depois de ganhar um Grammy Latino de melhor álbum pop contemporâneo em língua portuguesa por sua estreia, “Os Garotin de São Gonçalo” (2024), e de chegar a um milhão de ouvintes mensais só no Spotify, o trio Os Garotin recarrega suas baterias esta quarta-feira (3) à noite com o lançamento de “Session 2”: um EP com cinco faixas, que chega às plataformas pontualmente às 20h.
— Esse “Session” vem como uma forma de mostrar um pouco para o público o que está vindo por aí, em versões ao vivo. No nosso primeiro “Session” (o EP de estreia do grupo, de 2023), tinha duas faixas que acabaram entrando no primeiro álbum, e nesse a coisa se repete — avisa Cupertino, de 32 anos, que compõe Os Garotin junto com Leo Guima, de 26, e Anchietx, de 29.
— “Calor e arrepio” e “Simples assim” estarão no nosso segundo álbum de estúdio, que sai ano que vem. E nesse “Session 2”, a gente também celebra as nossas carreiras solos, cantando uma canção de cada um (“Coração de Lata”, de Leo Guima; “Força Bruta”, de Cupertino; e “Maldade”, de Anchietx). Isso faz com que a pessoa fique ligada que tem três indivíduos e, ao mesmo tempo, um encontro, uma banda, um trio.
Um desses “encontros da vida que até fazem acreditar que existe algo a mais”, segundo Cupertino, Os Garotin promovem uma grande mistura de samba, soul, funk e r&b, de novidades e clássicos, com ênfase nos vocais, seguindo uma receita que, afinal, não tem nada lá de muito revolucionário.
— Os nossos ídolos mostraram para a gente, lá no passado, que tinha que ser assim. Eles misturavam África com a Europa, o antigo com o novo, o samba com o rock, Beatles com baião... a Tropicália já mostrava esse negócio. Então, por que que a gente não vai fazer isso? — pergunta-se o cantor. — E para falar de uma coisa desse momento, tem o SilkSonic, que é uma grande referência para a gente. Um artista do mainstream ( Bruno Mars) com um cara de um cenário mais nichado, underground (Anderson .Paak). Você junta os dois, o que já contraria o mercado, e eles ainda vêm buscando tanto o Marvin Gaye quanto as coisas de agora. Ou seja, por mais que pareça que a gente tenha tido uma puta sacada, as nossas referências já fizeram isso, a gente só está repetindo.
Para Cupertino, se há algo de realmente característico n’Os Garotin é o fato de ser “a melhor e a única boy band de MPB da história”.
— Perguntei aqui para o ChatGPT o que precisa para ser uma boy band. Aí ele me respondeu: tem que ter de três a seis membros, tem que ter canto e dança, tem que ter uma imagem de marketing bem planejada, estilo visual, roupa e estética, repertório pop, dançante, e, por último, apelo emocional e relacionamento com fãs, interação próxima. Então, Os Garotin configura uma boy band! Não tem para onde fugir.
Anchietx, por sua vez, observa que “o palco é muito sedutor para Os Garotin”.
— A gente nasceu nos palcos, foi no palco que a gente descobriu que era bom. A gente olha nos olhos daquelas pessoas ali e logo sabe: “caraca, tu gosta da gente, velho!” Isso dá até um tesão a mais, e faz a gente dar mais do que a gente tem. É um veneno esse olhar, saber que as pessoas que estão ali na grade... as pessoas que ficam na grade têm que ser estudadas! — diz o cantor, para quem, depois do Grammy, “a galera só vê a gente como artista”. — A minha mãe só me vê como artista! Agora não tem problema eu não lavar meu prato ou ir dormir até tarde.
Dentro e fora de São Gonçalo
Recentemente, Os Garotin tiveram uma prova de sua popularidade na inauguração de um painel do grafiteiro Marcelo Eco, em São Gonçalo, representando os três. Mesmo deixando para divulgar o evento em cima da hora, apareceu uma multidão para abraçá-los. Há algum tempo, porém, eles se mudaram da cidade natal para o Rio de Janeiro. E não só por questões de segurança.
— Foi para a gente poder se sentir mais seguro também no mercado, para poder estar em todo lugar, a toda hora. A gente deu nosso jeitinho de vir morar no Rio. Eu morei em São Gonçalo até os meus 29 anos, chegou a hora em que eu precisava estar perto das ocasiões — diz Cupertino, que certa vez teve um violão roubado voltando de madrugada para SG. — A gente começou a frequentar muito a casa do Caetano Veloso, ele dando muitos conselhos para gente, assim como os nossos produtores, os artistas da nossa geração. Então, a gente quis a possibilidade de estar perto e logo voltar para casa, para poder trabalhar, trabalhar.
A chegada à marca de milhão de ouvintes mensais no Spotify foi muito festejada.
— Quando batemos 900 mil, eu falei: “pô, vamos chegar a um milhão, velho!”. E nada de chegar. Às vezes descia de novo, mas agora chegou mesmo! — conta Leo Guima.
E esse crescimento, segundo Cupertino, se deu “de um jeito orgânico”:
— Isso que é bizarro, até hoje não tivemos um investimento gigante em marketing. Pode ser que em algum momento a gente tenha, que apareça essa oportunidade e que a gente queira dar esse passo, mas é fato que nós não demos ainda. Então, esse número é resultado de muita movimentação, de gente que fala, do boca-a-boca, de outros artistas que indicam a gente. Esses dias, a Ivete Sangalo estava falando pra galera ouvir a gente, o Péricles também, o Caetano sempre fortalece, e Seu Jorge chamou a gente para cantar com ele em São Gonçalo.
Em dois anos, entre músicas do grupo e das carreiras solo, Os Garotin já lançaram mais de 30 faixas.
— A gente lança as coisas junto e separado e isso tudo vai somando. A gente pensou que ia ser difícil se entender, a galera de gravadoras falou “velho, isso é uma confusão!” e tal... mas, ao contrário, as pessoas adoram essa imprevisibilidade. As duas músicas mais ouvidas d’Os Garotin são de carreiras solo — aponta Cupertino.
Em 2026 (talvez na mesma data em que o primeiro álbum completa dois anos), eles pretendem botar no streaming o seu segundo álbum. Um disco, prometem, com muitos feats e a produção do velho escudeiro do grupo, Julio Raposo que, aposta Cupertino, “ainda vai ser considerado um dos maiores produtores da música brasileira”.
Enquanto isso, Os Garotin vão gravando músicas de ídolos como Milton Nascimento (“Bola de meia, bola de gude”) e de Gilberto Gil (“Indigo blue”, a ser lançada), seguem pensando em homenagear Djavan e compuseram até uma música para Jorge Ben Jor (“Quando a nêga gingou”, que Leo puxa o violão para cantar).
Este mês, eles se apresentam com a cantora baiana Melly no The Town e, em novembro, no Afropunk Brasil, em Salvador. Os shows fazem parte de uma turnê que seguirá pelo Brasil em 2026, e que eles farão com banda completa, incluindo metais e tudo que tem direito.
— A gente andou fazendo um monte de show como power trio, para economizar. Agora viremos como uma big boy band! — garante Cupertino.