Polêmica

Sánchez reitera sua 'profunda admiração' pelos protestos pró-palestinos na Volta da Espanha

O líder socialista, que fez da causa palestina uma de suas prioridades, também disse que "enquanto não cessar a barbárie, nem a Rússia nem Israel devem estar em nenhuma competição internacional"

Manifestações pró-palestinas em Madri impediram a conclusão da última etapa da Volta à Espanha - Reprodução/@sanchezcastejon

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, reafirmou nesta segunda-feira (15) sua "profunda admiração por uma sociedade civil espanhola que se mobiliza contra a injustiça", no dia seguinte às manifestações pró-palestinas em Madri que impediram a conclusão da última etapa da Volta à Espanha.

O líder socialista, que fez da causa palestina uma de suas prioridades, também disse que "enquanto não cessar a barbárie, nem a Rússia nem Israel devem estar em nenhuma competição internacional".

Apesar das duras críticas recebidas da oposição de direita após o caótico final da prova ciclística no domingo, com a invasão do percurso por milhares de manifestantes no centro de Madri, Sánchez manteve-se firme em suas posições.

"Nós, é claro, sempre rejeitamos a violência. Não poderia ser diferente. Sempre o fizemos. Sentimos, como disse ontem, uma profunda admiração e respeito pelos nossos atletas, pelos ciclistas da Volta da Espanha", indicou o presidente do governo espanhol, durante uma intervenção parlamentares socialistas.

“Mas também sentimos um enorme respeito e uma profunda admiração por uma sociedade civil espanhola que se mobiliza contra a injustiça e defende a sua ideia de forma de importação”, acrescentou, em referência aos manifestantes pró-palestinos.

O ministro da Cultura, Ernest Urtasun, por sua vez, defendeu nesta segunda que a Espanha deveria boicotar a próxima edição do Festival Eurovisão caso Israel participe.

Na véspera, a última etapa da Volta, um dos eventos esportivos mais importantes do país, acabou tendo que ser suspenso antes da final, apesar do reforço das medidas de segurança implantadas na capital.

Milhares de pessoas - 100.000 segundo a delegação do governo em Madri - invadiram o percurso com bandeiras e faixas para denunciar o "genocídio sionista" em Gaza, obrigando uma etapa a ser finalizada antes do tempo e impedindo também a realização da entrega de troféus como estava previsto.

 
 
 
 
 
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- "Intolerável" -

Os protestos de domingo em Madri já foram rendidos ao chefe do governo espanhol novas críticas do ministro de Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, que o acusou de ter "encorajado os manifestantes a sair às ruas" e descreveu seu governo como "uma vergonha para a Espanha".

Também geraram críticas da União Ciclista Internacional, que afirmou em um comunicado que “lamenta” o apoio do governo espanhol aos manifestantes pró-palestinos, algo que “coloca em dúvida a capacidade” do país “de sediar grandes eventos esportivos internacionais”.

As relações entre Israel e Espanha, que celebraram o Estado da Palestina em 2024, estão especialmente tensas há meses. Essa tensão agravou-se há uma semana, quando Sánchez anunciou novas medidas para "acabar com o genocídio em Gaza", incluindo a proibição de comprar ou vender armas para Israel.

Nessa linha, Madri anulou um contrato de quase 700 milhões de euros (4,38 bilhões de reais) para a aquisição de lançadores de foguetes de design israelense, segundo documentos oficiais consultados nesta segunda-feira pela AFP.

No âmbito interno, a oposição de direita multiplicou suas críticas ao governo e ao próprio Pedro Sánchez, acusando-o de não ter conseguido lidar com os protestos ou até mesmo de tê-los incitados.

"O governo permitiu e induziu a não finalização da Volta, e desta forma, um ridículo internacional televisado em todo o mundo", criticou no domingo Alberto Núñez Feijóo, líder do opositor Partido Popular (direita), em sua conta no X.

A Federação das Comunidades Judaicas da Espanha (FCJE), que ainda não havia se pronunciado sobre os protestos na Volta, também reagiu nesta segunda, condenando o ocorrido.

“Qualquer permissividade à violência constitui um retrocesso democrático e um grave risco à coesão social”, criticou a organização, considerando “intolerável que (...) a violência seja justificada e a hostilidade seja semeada contra a comunidade judaica”, que, segundo afirma, é composta por 45 mil pessoas no país.

Diversas etapas da Volta foram interrompidas por ações de ativistas pró-palestinos que pediam a exclusão da equipe Israel-Premier Tech, chegando a causar quedas de alguns ciclistas.

“É absolutamente inaceitável o que aconteceu ontem”, lamentou nesta segunda o diretor da prova, Javier Guillén, que se mostrou cauteloso em relação ao início do próximo Tour de France, que resulta em Barcelona em 2026.

"Do Tour não quero especular. Barcelona vai ter Tour e será um grande Tour, mas é verdade que as organizações internacionais têm que pensar em soluções", referiu.