Pressão arterial: novas regras miram prevenção de doenças, diz um dos criadores da diretriz
Três instituições de saúde endossam documento que aplica novidades sobre pressão elevada
Desde que foi divulgada, a nova diretriz para o diagnóstico de hipertensão arterial no Brasil tem levantado discussões sobre a aplicação das regras e o que muda. O documento foi publicado na última quinta-feira durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em São Paulo. Três importantes instituições médicas brasileiras reconhecem o parâmetro: Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).
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A pressão a partir de 12 por 8 (120 mmHg sistólica e/ou 70 mmHg diastólica), antes considerada normal, agora passa a significar quadro de pré-hipertensão, já apresentando um alerta para os médicos. A hipertensão arterial oficial segue sendo a partir de 14 por 9 (140 mmHg sistólica e/ou 90 mmHg diastólica).
O cardiologista pernambucano Audes Feitosa está entre os criadores da "Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial - 2025". Ele conversou com a Folha de Pernambuco e se mostrou feliz por poder contribuir com várias sociedades científicas e especialistas em prol dos pacientes. Além dele, o nefrologista pernambucano Rodrigo Bezerra participou da criação.
Segundo o especialista, natural de Serra Talhada, no Sertão do Pajeú, essa atualização vem para antecipar o cuidado contra doenças que podem ser resultado do agravamento da hipertensão, como acidente vascular cerebral (AVC), infarto e doenças renais. É a primeira vez que a categoria "pré-hipertensão" passa pela atualização que já foi adotada na Europa e nos Estados Unidos.
“A partir de 120/80 mmHg até 139/89 mmHg, o indivíduo já não é mais considerado 'normal', mas alguém que precisa olhar a saúde de frente. Esse paciente não vai para o remédio, precisa iniciar mudanças concretas no estilo de vida - alimentação equilibrada, redução do sal, atividade física e sono adequado. Ou seja: a ideia é agir antes que a pressão alta se instale de vez”, comenta.
Audes acredita que médicos e equipes de saúde tendem a receber bem essa mudança, porque ela traduz uma mensagem simples: quanto mais cedo identificar o risco, maior a chance de evitar complicações.
“É um olhar preventivo que facilita a comunicação com o paciente - não há mais dúvida entre 'normal' e 'quase normal'. Há um alerta claro para agir”, complementa o médico.
Segundo o Ministério da Saúde, a principal causa de AVC no Brasil é a hipertensão arterial. O dado também é citado pelo cardiologista Tomás Mesquita, ao concordar que a reclassificação vem como prevenção aos pacientes. Ele expõe ainda que os casos de acidente vascular cerebral têm aumentado no país.
Resistência à mudança de hábitos
Mesmo existindo a possibilidade de controle da pressão arterial por meio de tratamento não farmacológico, Mesquita admite que os pacientes apresentam resistência a essa proposta, optando assim pelos medicamentos que são receitados pelos profissionais de saúde.
“Do público hipertenso, apenas 10% conseguem controlar a pressão arterial. Na verdade, 60% das pessoas podem controlar os níveis sem medicação, só com mudança de estilo de vida, sem remédios. Mas a gente não consegue isso, porque a adesão ao tratamento é muito complicada. Esses dados são antigos. Foram reacendidos agora no CBC”, destaca.
Importância
Nas redes sociais, a SBC afirmou que a atualização da diretriz é essencial para quem busca fazer medicina baseada em evidências e alinhada às recomendações mais recentes.
“As complicações da pressão alta são o AVC, infarto, doença renal e doença aterosclerótica. O tratamento é para minimizar e diminuir as complicações e proteger os órgãos-alvo, que são o cérebro, o coração e os rins”, finaliza Tomás.