EXEMPLO

Cearense completa corrida de 5 km após vencer tetraplegia duas vezes: "Não existe nada impossível"

História de vida do palestrante ganhou as redes sociais

Paulo Cavalcante: da tetraplegia à corrida, uma história que inspira - Cortesia

"Não existe nada impossível para quem acredita de verdade nos seus sonhos"

A frase resume a jornada do cearense Paulo Cavalcante, de 41 anos, que venceu a tetraplegia duas vezes. Em 14 de setembro, ele completou uma corrida de rua de 5 quilômetros na beira-mar de Fortaleza.

Desde então, a história de vida do palestrante e maratonista ganhou as redes sociais.

Paulo contou à Folha de Pernambuco que é diagnosticado com neurofibromatose, doença genética rara e sem cura que transforma nervos em tumores. A condição levou à perda de seus movimentos em duas ocasiões.

 
 
 
 
 
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Médicos chegaram a lhe dar 90% de chance de morrer em uma cirurgia, mas ele, além de sobreviver, segue lutando pela vida e viu nas corridas uma chance de provar como o esforço diário pode trazer resultados. 

"Eu não fui com 90% de chance [de morrer] para a cirurgia, eu fui com 100% de chance de dar certo", disse.

Paulo passou por três cirurgias ao longo da vida, sendo a primeira aos 19 anos, quando foi retirado um tumor de 1,3 quilo de sua caixa torácica.

Aos 25 anos, ele fez um procedimento para abrir a coluna na região cervical e criar espaço para os tumores crescerem. E, aos 30 anos, a terceira cirurgia novamente abriu sua coluna para dar mais espaço aos tumores, quando mais de nove vértebras foram abertas. 

Aos 32 anos, após as três cirurgias, os tumores cresceram a um ponto de fechar a medula de Paulo e, ao longo de seis meses, ele perdeu todos os movimentos do corpo, ficando tetraplégico pela primeira vez.

Depois de anos de luta e fisioterapia e o início de um tratamento com uma medicação de alto custo chamada Trametinibe, ele recuperou quase todos os movimentos e voltou a andar. 

Em 2023, depois de participar de uma pesquisa para liberação do medicamento para outros adultos, na qual tomou uma dosagem diferente da que usava, Paulo viu os tumores voltarem a crescer e perdeu novamente os movimentos, ficando tetraplégico pela segunda vez. 

"Eu acreditei que ia voltar a andar, continuei me esforçando, às vezes até na madrugada descendo sozinho no estacionamento para fazer exercícios. Chega um dia que o sucesso é inevitável, a vitória é inevitável. Chegou esse momento para mim, voltei a andar, estou recuperando todos os movimentos", acrescentou Paulo. 

Após a recaída, sua reação foi de determinação. Ele então retomou a medicação anterior e, desde julho de 2023, afirma estar em sua "maior curva de melhoras", sentindo-se mais forte e rápido do que nunca.
 

Paulo Cavalcante venceu a tetraplegia duas vezes | Foto: Instagram @eusoupaulocavalcante/Reprodução

Neurofibromatose
A doença de Paulo transforma os principais nervos do corpo em tumores.

"São dezenas de 'carocinhos', parecem umas 'pipoquinhas'. Eu tenho centenas de tumores dentro do corpo. Em alguns órgãos, por exemplo, eu tenho um tumor no fígado que tem 12x9 cm, é um tumor grande. Tem tumores nas coxas, nos braços, na coluna, na garganta. A doença não tem cura por ser genética e também não tinha tratamento", detalhou.

O tratamento, que é, na prática, uma quimioterapia, é feito com a Trametinibe, que ele começou a tomar após obtê-la por meio judicial. O remédio custa R$ 300 mil por mês. 

"A quimioterapia tem seus efeitos colaterais. O rosto está bem ferido, sangrando. As costelas têm muitas feridas, mas é um preço muito pequeno em comparação com o que eu ganho", disse Paulo, afirmando que, quando começou a tomar o remédio, o próprio laboratório falava que ele deveria ter pouca expectativa, porque poderia "melhorar pouco", cerca de 40%.

Corridas para "liberdade"
As corridas de rua entraram na vida do cearense como um processo gradual de liberdade contra as limitações impostas pelas condições de saúde. Para ele, a parte mais dolorosa da doença não eram as dores físicas em si, mas o isolamento social. 

Assim que recuperou força suficiente para, no mínimo, empurrar sua própria cadeira de rodas, ele começou a ir para a beira-mar de Fortaleza para se movimentar um pouco.

"Comecei a andar para beira-mar e andar foi o meu grito de liberdade. Comecei a andar 10 metros, depois 30 metros, depois 50 metros, já foi para 200 metros. Eu entendi que essa quantidade de andar eram limitações, não do corpo, mas da mente. E aí de 200 metros passei para 1,5 quilômetro. Coloquei na minha cabeça que ia dar uma maratona de 5 quilômetros", celebrou.

Todo esse processo foi acompanhado de perto por suas fisioterapeutas, que passaram a treinar com ele e acompanhá-lo nas corridas. Agora, Paulo se prepara para outras corridas e continua treinando. 

"Eu mostro para todo mundo que podem realizar sonhos".