TURISMO

Postura de Sabino irrita cúpula do União Brasil, mas partido vê pedido de demissão como definitivo

Ideia do ministro é costurar a permanência para ficar bem posicionado na disputa ao Senado

Celso Sabino, Ministro do Turismo - Lula Marques/ Agência Brasil

As atitudes recentes do ministro do Turismo, Celso Sabino, irritaram a cúpula do União Brasil, que deseja desembarcar do governo Luiz Inácio Lula da Silva de forma imediata. Mesmo após determinação da Executiva da sigla, o chefe da pasta decidiu postergar sua saída em duas oportunidades. Nesta sexta-feira, Sabino afirmou, após conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que entregou uma carta de demissão, mas ressaltou que só deixará o posto na próxima semana.

A ideia do ministro é costurar a permanência para ficar bem posicionado na disputa ao Senado pelo Pará em 2026. 

Integrantes da executiva da sigla avaliam que o movimento é uma “manobra” sem chances de prosperar. Segundo um dirigente, apesar da intenção de Sabino, “o cenário é completamente irreversível”, e a saída deve mesmo ocorrer na próxima semana.

— Tive uma conversa hoje com o presidente da República e, em virtude da decisão que o partido tomou, entreguei ao presidente minha carta com pedido de saída do ministério, cumprindo meu compromisso — disse Sabino nesta sexta-feira no Planalto.

A leitura entre os aliados de Antonio Rueda, presidente do União, é de que Sabino rompeu a lógica do acordo firmado internamente. 

Quando a executiva decidiu, na última quinta-feira, pela entrega imediata dos cargos de todos os filiados, o prazo fixado foi de 24 horas. Diante da ausência de Lula, que estava em viagem a Nova York, Rueda pediu paciência à bancada e postergou o prazo até quarta-feira. 

Em seguida, após novo apelo, Sabino esticou a corda até sexta. Agora, com a decisão de permanecer no cargo até a semana seguinte, Sabino teria ido além do combinado.

 A avaliação é que a postura de Sabino enfraquece a Executiva do União.  Caciques do União repetem que Sabino deveria ter sido “coerente e grato”, já que só chegou ao comando do Turismo após uma carta de apoio assinada pela bancada na Câmara. 

Com os episódios recentes, alertam, qualquer filiado pode protocolar uma denúncia contra ele no Conselho de Ética por descumprimento de decisão da executiva — o que poderia levar à sua expulsão. Outros integrantes, contudo, ponderam que mais seis dias no cargo não é motivo para tal punição.

O ministro, no entanto, mantém o discurso de que busca diálogo com o partido. Nesta sexta-feira, após se reunir com Lula no Planalto, anunciou ter entregue o pedido de demissão, mas frisou que o presidente pediu que o acompanhasse em compromissos oficiais em Belém na próxima semana, voltados às entregas da COP30.

—  Acredito no diálogo e que os homens públicos vão trabalhar pelo bem do país— disse Sabino ao ser questionado se a situação ainda poderia ser revertida. — Vou seguir conversando com as lideranças do partido.

Caso sua demissão se concretize, Sabino tenta emplacar uma sucessora. O nome é a secretária-executiva da pasta, Ana Carla Machado Lopes, tida como sua aliada de primeira hora. Outros partidos, como PDT e PT, pressionam pelo cargo. São ventilados o deputado federal André Figueiredo (PDT) e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo (PT).

Sabino já havia discutido sua saída em reunião com Lula na sexta-feira passada, mas no encontro acertou que entregaria sua carta de demissão apenas após a volta do presidente da viagem a Nova York, o que ocorreu ontem. Os dois almoçaram juntos nesta sexta-feira.

Deputado federal eleito pelo Pará, Sabino planeja disputar o Senado em 2026, em aliança com o governador Helder Barbalho. Pessoas próximas afirmam que Lula já teria sinalizado apoio a esse projeto, numa tentativa de consolidar sua base no estado — onde venceu a eleição de 2022 com 54% dos votos.

Apesar de ter anunciado o desembarque, o União Brasil ainda mantém três pastas na Esplanada. Além do Turismo, o partido controla os ministérios da Integração Nacional, com Waldez Góes, e das Comunicações, com Frederico Siqueira Filho. Ambos são ligados ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), também membro da executiva nacional, e não devem ser afetados pela decisão.