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"Trump colocou a faca e o queijo na mão de Lula", diz João Santana

Em entrevista ao e-book 'Quem será o próximo presidente?', ex-marqueteiro de Lula e Dilma Rousseff reconhece que popularidade do governo aumentou após o tarifaço, mas não acredita que o tema será suficiente para a reeleição no ano que vem

João Santana, ex-marqueteiro do PT e da campanha eleitoral de Ciro Gomes - Will Shutter/O Globo

O ex-marqueteiro do presidente Lula, João Santana, afirma que o governo precisa continuar criando pautas mais ligadas ao campo da esquerda para chegar ao ano da reeleição de maneira competitiva. Em entrevista ao e-book "Quem será o próximo presidente?", Santana diz que investir apenas no contraponto ao presidente americano Donald Trump não será suficiente:

— O discurso de soberania que Trump entregou de bandeja colocou de novo a faca e o queijo na mão do governo. Afinal, o tema está muito mais ligado à esquerda do que à direita. A questão é que dificilmente esse discurso terá fôlego para o ano que vem. Não será uma chama permanente.

Santana sugere o enfrentamento da escala 6x1 como uma pauta que o governo deveria abraçar mais para sustentar a melhora da popularidade ao longo do próximo ano.

— O que é o Brasil de hoje? De um lado, uma esquerda moderada clientelista; de outro, uma direita selvagem e antidemocrática. O equilíbrio não é a busca por um centro amorfo. Se for por aí, Lula não tem condições de vencer em 2026. Isso não é papo de esquerda defasada, não. Em alguns momentos é, sim, necessário partir para alguns enfrentamentos. Há uma amnésia do governo com relação à escala 6x1. Devia estar na linha de frente das iniciativas do Planalto. Mas, se você teme reações de corporações, não vai fazer.

O e-book "Quem será o próximo presidente" apresenta 12 entrevistas com os maiores estrategistas políticos e donos de institutos de pesquisa do Brasil. Entre os entrevistados estão os protagonistas das últimas eleições presidenciais: os dois marqueteiros do PT nas últimas cinco disputas — João Santana (2006, 2010 e 2014) e Sidônio Palmeira (2018 e 2022); e os estrategistas que estiveram ao lado de Bolsonaro nas vezes em que concorreu — Marcos Carvalho (2018) e Duda Lima (2022).

Além disso, foram ouvidos profissionais vitoriosos em campanhas estaduais e municipais recentes: Pablo Nobel (Tarcísio de Freitas, em São Paulo), Paulo Vasconcelos (Cláudio Castro, no Rio); Renato Pereira (hoje marqueteiro de Romeu Zema, e no passado de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, no Rio); Marcelo Faulhaber (Eduardo Paes e Marcelo Crivella, no Rio).

Completam o trabalho o marqueteiro Chico Mendez, responsável pela comunicação de Hugo Motta, o atual presidente da Câmara dos Deputados; e três donos de institutos de pesquisa (Felipe Nunes, da Quaest, Maurício Moura, do Ideia, e Renato Meirelles, do Locomotiva).