Deputados admitem ligações de Tarcísio e avaliam que ele atuou por desgaste ao PT
Governador de São Paulo, porém, vem negando publicamente ter feito articulações com parlamentares e dirigentes do Centrão
Apesar de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), negar publicamente que tenha atuado na articulação política para a derrubada da Medida Provisória (MP) do IOF no Congresso, parlamentares da base ouvidos pelo Globo afirmam o contrário. Um deles conta, reservadamente, ter recebido uma ligação de Tarcísio horas antes de a MP deixar de ser votada.
– Na ligação, ele me falou que a votação estava estranha e questionou o fato de a MP tirar imposto das bets e deixar IOF a mais para o povo pagar. Falou também que uma possível aprovação seria ruim para a eleição de todo mundo e, principalmente, para o país – diz o deputado, que é de São Paulo e de um partido que não fechou questão sobre a votação do tema – Vejo que ele fez isso para mostrar sua força de articulação com o Congresso e, principalmente, para tirar força do governo no ano que vem. Afinal, ele ainda é o candidato a presidente pela direita – completa.
Uma parlamentar também de São Paulo, cujo partido fechou questão sobre o assunto, diz não ter recebido ligação de Tarcísio, mas que ouviu nos bastidores o nome do governador em conversas com os líderes. Segundo ela, o próximo "teste" de Tarcísio ocorrerá em breve, quando a PEC da Segurança Pública for a votação.
Dos 59 votos registrados de parlamentares de São Paulo, 37 foram pela derrubada da MP. Votaram contra a retirada de pauta da matéria os partidos de esquerda (PT, PSOL, PCdoB e PSB), enquanto MDB e Podemos ficaram divididos (Renata Abreu, aliada de Tarcísio votou com o governo, assim como Fábio Teruel, do MDB). O bloco de oposição à pauta ficou consolidado com PSD, Republicanos, Progressistas, União Brasil e Solidariedade, siglas associadas ao “Centrão”, além de PL, Novo e PSDB-Cidadania.
Outro foco de virada de votos foi o Republicanos, presidido pelo deputado federal Marcos Pereira, de São Paulo, aliado do governador. Procurado, o parlamentar negou que Tarcísio tivesse articulado pela derrubada da MP. No caso de partidos como PP, PSDB e União, que afirmam ter sinalizado pela derrubada desde o começo, os parlamentares paulistas dizem que não foram procurados.
— Não fui pressionado por ninguém — afirma o tucano Vitor Lippi.
O deputado federal Fernando Marangoni (União Brasil) afirma que a decisão do partido foi tomada porque o governo já havia conseguido reverter parte da derrota da elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no Supremo Tribunal Federal:
— Essa MP veio em razão da derrubada dos decretos de IOF. Uma vez que foram restabelecidos pelo STF, ela não faz mais sentido — disse. Ele também alega não ter conversado com o governador a respeito.
O diagnóstico do bloco antipetista é que o governador não estaria interessado em entregar R$ 17 bilhões ao governo Lula no próximo ano, com eleições a caminho, e pode ter atuado em favor de grupos que o apoiam hoje.
Apesar de o relator Carlos Zarattini (PT-SP) ter aberto mão de taxar as Letras de Crédito ao Agronegócio (LCA) e os Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRAS), o que aliviou o lobby ruralista, estava mantida a alíquota padronizada de 18% de Imposto de Renda sobre rendimentos de aplicações financeiras e para Juros sobre Capital Próprio (JCP), além da elevação de imposto sobre o lucro de fintechs e instituições de pagamento, o que afeta diretamente o sistema financeiro e a Faria Lima.
Houve ainda ausências na votação nominal, principalmente no MDB, que adotou a mesma posição do governo, pela manutenção da MP na pauta. O deputado federal Baleia Rossi, presidente nacional do partido que se divide entre apoiar Lula no plano federal e Tarcísio em São Paulo, não depositou voto, apesar de ter comparecido à sessão. O mesmo ocorreu com Simone Marquetto e João Cury. Delegado Palumbo votou pela derrubada, contrariando a sigla.
Interlocutores de Tarcísio na Câmara apostam na continuidade da postura do governador em tentar influenciar os rumos de Brasília, apesar do discurso de que está focado no governo de São Paulo e nos seus problemas imediatos, como a crise do metanol. Um deputado aposta que o governo Lula não deve deixar barato a derrota com a MP e provavelmente tentará editar outro decreto para elevar a arrecadação em 2026.
– O Tarcísio é candidato a presidente, sim, e o que ele faz ontem está dentro desse scrip. O negócio dele vai ser atrapalhar o governo o quanto puder. Porém, vejo que o Lula agiu de forma republicana com ele desde o início, vide o projeto do túnel entre Santos e Guarujá, mas o Tarcísio nunca terá reconhecimento por isso. Ele está refém do Bolsonaro e da Faria Lima – afirma um ministro de Lula.
Outro foco de atenção passa pela medida provisória do "Brasil Soberano", que oferece linhas de crédito a exportadores brasileiros afetados pelo tarifaço dos Estados Unidos em troca da assinatura de cláusulas de compromisso pelas empresas, como veto ao fechamento de vagas de emprego.