CANAL SAÚDE

O uso excessivo de telas compromete o desenvolvimento da linguagem infantil

Especialista alerta para os impactos cognitivos, sociais e linguísticos causados pela exposição precoce às telas e reforça a importância das interações reais no início da vida.

Foto: Canva

A linguagem é muito mais do que um conjunto de palavras: trata-se de um processo neurocognitivo e social, construído prioritariamente nas interações humanas. Nos últimos anos, o uso excessivo de dispositivos digitais por crianças e adolescentes tem preocupado especialistas da área da saúde, em especial os fonoaudiólogos. Estudos têm apontado que a exposição prolongada às telas pode comprometer aspectos linguísticos, cognitivos e sociais, fundamentais para o desenvolvimento pleno.


O tema foi destaque nesta sexta-feira (10), no quadro Canal Saúde, do programa Conexão Notícias, na Rádio Folha FM 96,7. O âncora Jota Batista conversou com a fonoaudióloga Luciana Valois, especialista em neuropsicologia, que esclareceu como o uso desenfreado de plataformas digitais interfere no desenvolvimento da linguagem infantil. A entrevista também está disponível no canal da Folha de Pernambuco no YouTube e nas plataformas de áudio.


Assista à entrevista completa abaixo:



Durante a conversa, Luciana Valois explicou que a linguagem se constrói por meio de interações sociais reais com olhar, gestos, entonações e trocas afetivas elementos que não são plenamente reproduzidos nos ambientes digitais:


“A criança precisa da presença do outro, da troca com o mundo real. Quando há um predomínio das telas, essa interação se empobrece. E isso tem impacto direto na aquisição da linguagem, nas funções cognitivas e na capacidade de socialização”, afirmou.


A especialista reforçou que, nos primeiros anos de vida, o cérebro está em pleno desenvolvimento e se molda com base nos estímulos recebidos. Segundo ela, as interações face a face são insubstituíveis neste processo:


“Não é só ouvir palavras, é perceber expressões, gestos, entender o contexto e responder a ele. Tudo isso ativa áreas importantes do cérebro relacionadas à linguagem e à cognição. As telas, por mais interativas que pareçam, não oferecem esse tipo de estímulo completo.”


Luciana Valois alertou ainda para o crescimento do número de casos de atraso na fala e dificuldades de aprendizagem relacionados ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos por crianças, especialmente na faixa etária de 0 a 6 anos. Ela ressalta que, embora a tecnologia tenha seu valor, é preciso estabelecer limites claros e estimular atividades presenciais e interativas:


“O problema não é a tecnologia em si, mas o tempo e a forma como ela é utilizada. Crianças pequenas precisam de convivência, brincadeiras com outras crianças, conversas com os pais. Isso é o que fortalece o desenvolvimento neurolinguístico”, pontuou.


A fonoaudióloga também orientou os pais a ficarem atentos a sinais como desatenção, isolamento, dificuldade de socialização ou atraso na fala, e buscar ajuda especializada o quanto antes. A intervenção precoce, segundo ela, é essencial para minimizar possíveis impactos a longo prazo.


A entrevista reforça a importância do equilíbrio no uso das tecnologias e da presença ativa dos adultos na mediação das experiências infantis. Em um mundo cada vez mais digital, promover o contato humano e a comunicação direta continua sendo essencial para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes.