Congresso pioneiro no Nordeste discute desafios e caminhos do autismo na vida adulta
Evento em Recife propõe debates sobre saúde, autonomia e inclusão de pessoas autistas após a infância, reunindo especialistas e autistas de todo o país
O autismo não termina na infância , e é justamente a partir dessa provocação que o III Congresso Autismo na Vida Adulta chega a Recife com uma proposta inédita no Nordeste.
O evento, promovido pelo Instituto Dimitri Andrade, será realizado nos dias 18 e 19 de outubro de 2025, no Mar Hotel Conventions, em Boa Viagem, e tem o objetivo de ampliar o debate sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) para além da fase infantil, abordando temas como saúde mental, independência e inclusão social.
As inscrições já estão abertas no site.A iniciativa busca preencher uma lacuna ainda pouco explorada no país: o acompanhamento e a qualidade de vida de pessoas autistas adultas.
De acordo com o Censo 2022 do IBGE, há 2,4 milhões de brasileiros com diagnóstico de autismo, o equivalente a 1,2% da população. O
s números reforçam a necessidade de políticas públicas e de formação profissional voltadas à fase adulta, um tema que, segundo os organizadores, ainda carece de espaços de discussão.
“Há uma alta demanda de famílias e, ao mesmo tempo, um número reduzido de profissionais e espaços preparados para atender a pessoa adulta com TEA. Nosso congresso busca trazer conhecimento científico, experiências de autistas e práticas multidisciplinares que possam ser aplicadas na vida real. É também um espaço para construir projetos e pensar em uma sociedade mais inclusiva”, destaca a direção do Instituto Dimitri Andrade.
Debate interdisciplinar e inclusão ativa
A programação reúne mais de quinze palestrantes de diferentes áreas, que vão abordar os eixos comportamento, cognição e saúde mental; socialização, independência e empregabilidade; educação e aprendizagem; comunicação e linguagem; direito da pessoa autista e o espaço “autistas sobre autistas”, voltado ao compartilhamento de experiências pessoais.
Entre os palestrantes confirmados estão o neurologista Thiago Simões, o terapeuta ocupacional André Pontes, a pedagoga e psicopedagoga Carol Mota, a fonoaudióloga Maria Bethânia Mendes, a médica e autista Elizangila Leite, a psicóloga Maria Elisa Granchi, o psicólogo Hugo Gomes, a advogada Viviane Guimarães e a economista Flávia Poppe, cofundadora e diretora do Instituto JNG, entre outros nomes.
O congresso também contará com a participação de autistas adultos, como o estudante de Direito Samuel Afonso, a artista plástica Tati Oliveira, a mãe atípica e autista Cátia Bessoussan e o auxiliar administrativo Eduardo Faver, que vão compartilhar vivências e reflexões sobre autonomia, representatividade e diversidade dentro do espectro.
Livro e minicurso marcam programação inédita
Durante o evento, será lançado o livro “Autismo na Vida Adulta – Guia Interdisciplinar”, que reúne artigos e reflexões de 20 especialistas de diversas áreas.
A obra, organizada pela psicóloga e mãe atípica Frínea Andrade, apresenta 15 capítulos sobre os múltiplos aspectos do autismo na vida adulta, da saúde mental à empregabilidade, passando por temas como sexualidade e relações familiares.
Entre as novidades desta edição, o congresso também oferece o minicurso “Implementação do Emprego Apoiado”, ministrado pela administradora e consultora em diversidade e inclusão Flávia Cortinovis.
Com duas horas de carga horária, a formação aborda metodologias acessíveis de capacitação profissional para pessoas com deficiência intelectual, aplicadas com sucesso em diferentes países.
Os participantes receberão certificação dupla.
Cultura, ciência e convivência
O evento pretende ir além das discussões técnicas, promovendo trocas humanas e experiências culturais. A programação inclui apresentações artísticas de pessoas neurodivergentes, exposição de trabalhos científicos (com submissões abertas até 30 de setembro) e momentos de networking entre participantes.
Haverá ainda transmissão online ao vivo, garantindo o acesso de quem não puder comparecer presencialmente.
De acordo com os organizadores, o III Congresso Autismo na Vida Adulta se consolida como um espaço de escuta e visibilidade para pessoas autistas e seus familiares, além de contribuir para a formação de profissionais de saúde, educação e direito mais preparados para lidar com as especificidades da vida adulta no espectro.
“Nosso objetivo é conectar ciência, vivência e afeto. Queremos criar um ambiente em que o conhecimento acadêmico se encontre com as histórias reais das pessoas autistas e de suas famílias, fortalecendo a rede de apoio e de aprendizado mútuo”, conclui Frínea Andrade, idealizadora do evento.