Rizian escolhe o samba com lançamento de "Reza a Lenda" após seis anos sem novidades; escute
Artista pernambucano fala sobre novo passo na carreira musical e processo criativo com influência do afoxé e do maracatu
O artista pernambucano Rizian, de 25 anos, estreou a faixa "Reza a Lenda", um contagiante samba com influência do afoxé e do maracatu - impossível ficar parado. Após seis anos sem lançamentos, em setembro passado, o cantor compartilhou a canção, marcando um novo passo na carreira musical ao escolher um novo gênero para chamar de seu. Em tempo.
Rizian também é ator e participou de "Carro Rei" (2022), filme de ficção científica dirigido por Renata Pinheiro, vencedor do 49º Festival de Gramado. Em 2024, integrou a Jornada de MC's no REC’n’Play.
Orgânico
Em "Reza a Lenda", o maior acerto de Rizian é unir sua voz com a colaboração de outros nove artistas. O samba no pé ganha autenticidade com a presença de instrumentos como agbê, alfaia, ganzá, pandeiro, tamborim, além do baixo, bateria, cavaco e guitarra. O cantor também é acompanhado por três vozes femininas de apoio.
Essa escolha faz toda a diferença. É uma realidade que os artistas utilizam ferramentas como GarageBand para criar demos e canções através de uma biblioteca de instrumentos virtuais, baixando o custo de produção. Por outro lado, a sensação de escutar uma faixa gravada em estúdio por músicos eleva a experiência sonora. Esse é o caso de "Reza a Lenda".
"O samba não consegue ser artificial. O samba é de gente tocando, vivenciando e criando. Eu precisava de artistas que fossem orgânicos porque eu tenho certeza que se ‘Reza a Lenda’ fosse feita no beat não seria tão linda como ela é", avaliou Rizian, em entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco.
Do rap ao samba
Com o lançamento do single, o artista pernambucano troca o rap pelo samba. Quem escutou a faixa anterior, de 2019, que teve quase 50 mil reproduções no streaming, vai perceber de primeira. Antes, a batida servia como a base para a melodia sobre o qual o rapper cantava, agora, os instrumentos ganham protagonismo, deixando quem escuta com vontade de dançar.
Rizian diz ter amadurecido muito durante a pandemia, período em que ele começou a escutar mais Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Alcione, Elza Soares. Migrar para o samba era um desejo antigo, motivado pela vontade de se sentir representado.
"Imagine um artista LGBTQIAPN+ lançando um samba em que a letra fala sobre traição?", questionou o artista que tinha medo da faixa não ser comercial. Inclusive, "Reza a Lenda" já em data de estreia no palco. No dia 25 de outubro, Rizian se apresenta no Festival da Conferência Nacional do Mapa Educação, que será no Bairro do Recife.
"Tipo capim, eu corto pela raiz e deixo crescer novamente. Esse crescimento foi 'Reza a Lenda''', continua o artista. A música foi escrita em 2015 por Rodrigo Bezerra, amigo e antigo professor de Filosofia de Rizian.
Influenciado por nomes como BaianaSystem e Nação Zumbi, o pernambucano ressalta a importância da mudança estética inserida como estratégia no lançamento da faixa.
''Eu preciso que as pessoas me enxerguem. (...) Nação Zumbi é uma banda que fez essa alusão. Se não houvesse Chico (Science), não haveria a nova música'', opinou Rizian.
Dissidente
Rizian, como uma pessoa não binária, se define como "dissidente de um mundo que virá".
"Rizian não é filho, nem filha, é falha. Eu sou uma artista que faz música, faz cultura enquanto pessoas tentam me silenciar. Por isso, sempre serei um dissidente desse País, desse sistema. It's time to crack in the system (é hora de invadir o sistema, em tradução livre)'', referindo-se à expressão "CIS", usada a favor da desconstrução dos sistemas binários tradicionais, que o artista tem tatuado.
Confira o visualizer: