Política

Relator de CPMI acusa Wolney de se reunir com "Careca do INSS" no início do governo

Alfredo Gaspar foi o entrevistado da semana no podcast "Direto de Brasília", apresentado por Magno Martins

Deputado (D) disse que tem obrigação de dar respostas ao povo - Reprodução Youtube/Folha de Pernambuco

Relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as fraudes no INSS, o deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) fez uma grave acusação ao ministro da Previdência, Wolney Queiroz (PDT). Em entrevista ao podcast "Direto de Brasília", ele afirmou que o auxiliar do presidente Lula (PT) recebeu o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como "Careca do INSS", que está preso preventivamente desde 12 de setembro e seria um dos principais envolvidos no esquema bilionário de desvios.

A acusação se refere ao período em que Wolney era o número 2 da pasta, então comandada por Carlos Lupi. A reunião teria ocorrido menos de duas semanas após Lula tomar posse para o terceiro mandato no Palácio do Planalto.

“Não quero imputar conduta a ninguém. Mas Wolney, com 13 dias do presidente Lula empossado, recebeu o 'Careca' na sala do ministro. O 'Careca' foi lá, levado pelo assessor do pai do ministro Wolney (o ex-prefeito de Caruaru, José Queiroz). Todos os diretores do INSS estavam lá, com exceção de duas pessoas que nada tinham relação com o sistema previdenciário, dentre elas o maior criminoso, responsável por desvio de bilhões. Não me recordo se ele foi recebido por Lupi, mas foi recebido pela estrutura do ministério em que Lupi era ministro”, disparou Alfredo Gaspar.

O lobista é peça central do escândalo que desviou bilhões de aposentados e pensionistas. Gaspar pretende convocá-lo para a CPMI nas próximas semanas, embora revele não ter esperança de que o "Careca" entregaria o real esquema.

“Ele trabalhou com mais de um bilhão de reais. Não sei com quanto ele ficou, mas acho que o suficiente para ficar calado. Hoje ele está preso, mas tem muita gente trabalhando para ele ser solto. Só não está solto porque a relatoria no Supremo Tribunal Federal (STF) caiu nas mãos de um ministro que está interessado em esclarecer os fatos, que é o ministro André Mendonça. A CPMI tem colaborado, colocando holofotes nessa safadeza”, afirmou o deputado.

“Se o 'Careca' falar, a República cai. Pelo grau de envolvimento de muitos, a República cairia. O Careca está fazendo medo à República. Tem indícios muito concretos e provas de que esse dinheiro que foi desviado não terminou na mão dele, mas que foi distribuído para muitas autoridades, dos três Poderes da República. Não posso dizer relativamente as funções ou cargos dessas autoridades, mas posso dizer que vai do Judiciário, ao Legislativo e ao Executivo. Infelizmente, o que estamos vendo na CPMI é que o dinheiro comprou muitas consciências. O conjunto dessa obra trouxe desesperança a milhares de brasileiros”, disparou Gaspar. “Parece pouco provável que um esquema dessa magnitude não tenha parlamentares envolvidos. Me parece que sim. Vamos ver se o colegiado tem a coragem de fazer esses esclarecimentos”, completou.

Irmão de Lula

A CPMI do INSS também deverá debruçar em breve sobre a convocação de Frei Chico, irmão do presidente Lula (PT). Ele é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), uma das entidades mais ligadas a desvios no esquema que fraudava aposentados e pensionistas. Gaspar acusou a base aliada de blindar a convocação do dirigente.

“O Sindnapi é a segunda ou terceira maior entidade em termos de volume, que já tem muito tempo detendo acordos de cooperação com o INSS, e que tem na vice-presidência o irmão do presidente Lula. Ele já foi blindado de ser convocado à CPMI, a base governista impediu. Vamos tentar colocar (o nome dele) de novo em votação, tem fatos que precisam ser esclarecidos. Vamos esclarecer, ele não será chamado por ser irmão do presidente Lula, mas porque existem indícios muito fortes e provas já concretas, de desvio de recursos. E como o presidente do sindicato (Milton Baptista de Souza Filho), se calou perante a CPMI, ele (Frei Chico), pela hierarquia, é o segundo da entidade e talvez tenha muito o que dizer”, afirmou Gaspar.

“Na CPMI, não estamos protegendo ninguém, a não ser determinadas pessoas que a base do governo não deixou que fossem convocadas. Mas que é importante. Posso citar o Frei Chico, irmão do presidente Lula; o Paulo Bodens, que recebeu R$ 3 milhões do Careca do INSS; o Gustavo Gaspar, que tem muito a explicar; e uma ex-marqueteira do PT, que pegou R$ 5 milhões do Careca. Por aí você vê que essas pessoas ajudariam na investigação e estão sendo blindadas. Mas todas constarão no relatório da CPMI, o caminho a seguir e o que iria atingir. Estamos falando de milhões de reais que foram para essas pessoas, e elas repassaram para quem? Quais autoridades estão trabalhando para que esses investigados não prestem esclarecimentos?”, disparou o relator.

“Sabemos o quanto é difícil fazer justiça no país, imagine no ambiente político. Como relator, tenho a obrigação de dar respostas ao povo brasileiro, e irei apontar efetivamente todos que tiveram participação nos desvios. Já a consequência desse apontamento dependerá das instituições. A CPMI aponta os indícios e as instituições tomam conta dos próximos passos. Na minha relatoria, não haverá proteção a quem quer que seja”, concluiu Alfredo Gaspar.