diário de tremembé

Repercussão da série 'Tremembé' eleva buscas por livro proibido sobre penitenciária; entenda

Autor de 'Diário de Tremembé', Alcir Filló cita censura e afirma que obra jornalística só está banida 'porque mexeu com poderosos'

''Tremembé'' é uma das novidades no streaming baseada em casos nacionais - Divulgação

A estreia da série "Tremembé" na plataforma Prime Video reacendeu o interesse pelo livro proibido "Diário de Tremembé — O presídio dos famosos", escrito pelo ex-prefeito de Ferraz de Vasconcelos (SP) e jornalista Acir Filló. A obra, que reúne relatos da rotina e dos bastidores da penitenciária de Tremembé (SP), voltou a figurar entre os assuntos mais buscados na internet, embora continue sob embargo judicial desde 2019. Mas, afinal, por que a obra segue totalmente banida?

O livro "Diário de Tremembé" foi escrito por Acir Filló enquanto esteve preso — na P2 de Tremembé — após ser condenado a quase 20 anos por corrupção. Na obra, o jornalista dá detalhes de suas interações com detentos célebres, como Alexandre Nardoni, Cristian Cravinhos, Gil Rugai, Lindenberg Alves, Mizael Bispo de Souza e Guilherme Longo.

Em 2019, a juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, da Vara de Execuções Criminais de Taubaté, determinou a suspensão da publicação da obra, alegando que violava a "privacidade dos detentos" e que continha "informações ou fatos não legítimos ou reportados".

Em sua decisão, a magistrada afirmou que o livro não passava de um conjunto de "fofocas" e que, "dos vários detentos mencionados (...), ficou comprovada a autorização formal de apenas três, sendo que dois deles acusam o escritor de não haver sido fiel ao relato, tendo inserido no contexto informações ou fatos não legítimos ou reportados".

Relator do processo no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o desembargador João Morenghi afirmou, à época, que a medida não configurava censura e apenas buscava resguardar a imagem de outros presos, todos sob tutela do Estado. "Não se discute que qualquer tipo de censura é nefanda e deplorável. Porém, conforme bem demonstrado pela magistrada, no caso concreto se verifica também o direito da preservação da imagem dos detentos retratado, os quais estão sob guarda estatal."

Desde então, o livro sumiu das prateleiras de livrarias, bibliotecas e sites na internet. Diante da repercussão da série, espectadores inspiram uma "corrida" por qualquer resquício da obra. "Agora estou com fome desse livro", brincou um usuário do X. Vale lembrar que a produção audiovisual do Prime Video é inspirada em outro livro, "Tremembé: o presídio dos famosos", escrito pelo jornalista e colunista do GLOBO Ulisses Campbell, autor do blog "True crime".

Acir Filló se manifesta
A defesa de Acir Filló sustenta que a proibição do livro foi motivada pelas revelações sobre o cotidiano prisional e por expor manobras de detentos famosos para obter vantagens — entre as quais está a revelação de que os problemas de saúde e a prisão domiciliar de Roger Abdelmassih foram uma fraude. Já a Justiça afirma que Filló não teve permissão para escrever o livro dentro do sistema penal.

— Meu livro foi proibido porque mexeu com poderosos, inclusive Roger Abdelmassih. Ele continua poderoso mesmo preso. Meu livro foi censurado por isso — frisa Acir Filló, em entrevista ao blog "True Crime", do GLOBO, após a repercussão da série "Tremembé".

O jornalista vem tentando, há tempos, a liberação do livro mediante a Justiça. E reforça que não desistirá.

— Estou recomeçando a batalha. É inadmissível censurar um livro em um país que diz viver num Estado Democrático — diz. — Nenhum dos personagens me processou. Tenho autorizações. O Supremo Tribunal Federal já pacificou a questão de biografias. Estamos vivendo como se fosse nazismo, queimando livros. A penitenciária de Tremembé só existe com aquela estrutura porque o Estado dá privilégios para manter presos famosos calados, para não denunciarem a falência do sistema. É um acordo velado. Os criminosos notórios recebem melhores empregos na prisão, possibilidade de circular em todas as dependências e até atendimento médico externo sem pedir.