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Último parceiro de Lô Borges, Zeca Baleiro detalha últimos dias do artista mineiro

Desde 2019, Lô lançou um disco autoral por ano

Lô Borges morreu aos 73 anos - Bianca Aun/MTC

Lô Borges vinha trabalhando ativamente até ser internado em Belo Horizonte, no dia 18 de outubro, quando foi para a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Unimed-Contorno, na capital mineira, para tratar de um quadro de intoxicação medicamentosa.

Desde 2019, Lô lançou um disco autoral por ano. O último, “Céu de giz”, de agosto de 2025, trouxe canções mais canções inéditas, desta vez feitas em parceria com Zeca Baleiro.

— Surgiu de uma forma muito inusitada — conta Zeca em entrevista exclusiva ao GLOBO. — Em outubro do ano passado, ele me ligou, pegou o telefone com um amigo comum e disse: 'Zeca, aqui é o Lô, quero te chamar para fazer dez canções comigo, fiz dez melodias, gosto muito das suas músicas, das suas letras, queria que você pusesse letras nelas. Você topa? Aí a gente faz um disco'. E eu falei: 'Pô, você está de sacanagem, é claro que eu topo. Eu sou seu fã desde adolescência, sei tocar várias de suas músicas, enriqueci meu vocabulário musical de acordes ouvindo você, Beto, Toninho, Milton. Claro, será uma honra' — relembrou o músico.

Assim ia nascendo "Céu de giz", como ficou batizado o último disco de Lô Borges, feito em parceria com o maranhense. Lô foi mandando "lotes" de três músicas para que Zeca fosse colocando as letras. No Instagram, Zeca Baleiro disse que as melodias eram "Lô puro malte".

— Fui trabalhando devagarinho, mas com agilidade, pois senti que ele estava com pressa de gravar. Ele já tinha outro projeto à frente, com o Márcio Borges. Assim nasceu o "Céu de giz", que a gente até brincou que era uma homenagem às avessas. O Zé Ramalho tem o "Chão de giz", a gente tem o "Céu de giz". O nome surgiu assim, como mote de uma canção, e acabou dando o nome ao disco — explica Zeca Baleiro.

Por conta da parceria, Lô e Zeca estavam se falando sempre. O disco foi lançado em agosto (ouça abaixo) e o próximo passo era alinhar uma turnê da dupla. A notícia da internação do mineiro pegou Zeca Baleiro de surpresa.

— A gente estava se falando quase toda semana. Falei com ele um ou dois dias antes dele ser internado. Estavamos planejando o show do disco, negociando. Eu ia pra Belo Horizonte sair com a banda dele. A gente estava nesse momento de planejar. Quando veio essa notícia triste e imprevisível. Agora eu estou no Maranhão, mas estive lá no velório dele e de uma amiga que faleceu anteontem também, então assim, semana dura, difícil — lamenta Zeca.

O último parceiro se somou a todas as homenagens feitas para Lô Borges que tomaram a internet desde a manhã de segunda-feira (3). O post em que se despede do amigo tem mais de 64 mil likes.

— O Lô está aí eternizado nessas canções incríveis dele, únicas, de harmonias estranhas e líricas que nos levam pra uma atmosfera de sonho. Um cara realmente fantástico, único no mundo, vai deixar um vazio, daqueles vazios impossíveis de preencher. Acho que cada um desses veteranos que se vai é uma matriz da música brasileira que a gente perde, talvez pra sempre. Estou um pouco decepcionado com a notícia, entristecido, mas sei que ele já tem a eternidade. Pra mim é uma honra e ao mesmo tempo uma pena ter sido o último parceiro dele em vida, dele ver o lançamento de um disco, presenciar o lançamento de um disco em parceria comigo. Vai estar aí a obra e ela ficará — concluiu.