OPINIÃO

Sobre a morte de policiais

No dia 28/10/2025, Marcus Vinicius Cardoso de Carvalho, 51 anos, Comissário da 53º Delegacia de Polícia do RJ; Rodrigo Velloso Cabral, 34 anos, da 39º DP do RJ; Cleiton Serafim Gonçalves, 40 anos, Sargento do Bope; Heber Carvalho da Fonseca, 39 anos, Sargento do Bope, saíram de casa para participar da Operação Contenção, e perderam a vida. Cleiton, Rodrigo e Heber, deixaram mulher e filhos. O objetivo da operação, era o combate frontal à facção Comando Vermelho, uma das maiores e mais perigosas organizações criminosas do Brasil, criada em 1979, no Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 

O policial veste o uniforme como quem se prepara para um ritual diário, carregando consigo temores silenciosos, sonhos e responsabilidades tangíveis. Cada plantão é um voo sobre a linha tênue entre a vida e a morte, onde cada decisão, por mínima que pareça, pode alterar destinos, mudar histórias e transformar o ordinário em extraordinário. Ele sabe que pode não voltar para casa, que poderá deixar filhos, familiares e projetos interrompidos. Não devemos esquecer o drama diuturno, que é vivido pelas esposas de policiais. Seu dia a dia, é marcado por um alerta constante e esperança silenciosa. É aprender que a coragem não está apenas na ação de quem enfrenta o perigo, mas também na força de quem espera. É um amor que de prova nos instantes de ausência e tira sua força do medo, e que floresce na gratidão por cada retorno seguro.  Ainda assim, avança, porque na missão descobre propósito, alegria e a imensa satisfação de servir à sociedade e ao país. Neste caminho de tensão e dedicação, surge a inspiração de Vito Corleone ou Don Carleone, personagem vivido pelo ator Marlon Brando, no magistral O Poderoso Chefão (1972), obra prima do cinema americano.

O Don, embora integrando um mundo de poder e estratégias obscuras, oferece lições universais de liderança e ética. Mesmo imerso em um universo de risco e violência, valorizava fidelidade à família e laços fortes, ensinando que a liderança verdadeira exige cuidado, respeito e responsabilidade. Seu poder era temperado por lealdade, proteção e visão estratégica, qualidades que o policial traduz em sua própria missão, de forma ética, para proteger vidas e promover segurança. Assim, o medo se transforma em força disciplinada, a angústia em vocação comprometida, e cada plantão se torna um ato silencioso de bravura, onde o policial protege vidas, sustenta famílias e fortalece a sociedade. Ele se ergue entre o risco e a missão, consciente de que sua entrega não é apenas um trabalho, mas uma arte de liderança, coragem e propósito. A perigosíssima missão policial, era cumprir 180 mandados busca e apreensão, 100 de prisão, sendo 30 expedidos pela Justiça do Pará. A operação contou com efetivo de 2.500 policiais, e foi considerada como a que resultou, no maior número de mortos no Estado, nos últimos 15 anos. Foram realizadas 113 prisões, apreensão de 118 armas e uma tonelada de drogas, além de 121 óbitos. A ação do Estado, teve intensa repercussão no país.

A jornalista, Vilma Gryzinski, revela que a pesquisa Atlas Intel, demonstrou que, nos bairros do Alemão e da Penha, o apoio à operação foi de 87,6%: os pobres não aguentam pagar por serviços taxados pelos criminosos (...) A situação gerada pela ocupação de gangues em bairros cariocas, é completamente absurda. A discussão e o debate público, levou a alguns programas de televisão concluírem ser mais perigoso para Representantes das Forças de Segurança, do que uma posição na linha da Operação de Contenção, e arremata: o Estado de Descalabro da criminalidade exige todas as formas de combate já utilizadas, tais como operações de inteligência, reforço da vigilância de fronteiras, repressão aos cooptados dentro das fileiras da lei, bem como a ajuda da Inteligência Artificial. Por sua vez, o Governador Cláudio Castro, teve sua aprovação por 60,4%, enquanto a desaprovação foi de 33,4%, segundo a pesquisa da empresa Futura Inteligência, em parceria com a Apex. Apesar da aparente magnitude da ação policial carioca, o Diretor da Área de Ensino e Instrução da Subsecretaria de Inteligência da Policia Militar do Rio de Janeiro, Capitão Daniel Ferreira de Souza Lima, no dia 5/11/2025, afirmou no Congresso Nacional, que as 121 mortes registradas da operação policial, representam um impacto ínfimo, diante da estrutura do Comando Vermelho (CV) e outras facções na estrutura do Rio de Janeiro. O saldo, sem incluir os feridos, foram 121 mortes, sendo duas de policiais civis e duas de policiais militares.

Durante a sessão, o delegado da Polícia Federal Leandro Almada, chefe da Diretoria de Inteligência Policial (DIP) e ex-superintendente da PF no Rio, questionou a efetividade da operação do ponto de vista dos moradores das comunidades onde a ação ocorreu. O problema é que o Estado não precisa entrar, mas estar. O que mudou efetivamente para o cidadão que mora lá? Eu não consigo tachar como um sucesso uma operação em que você teve quatro enterros no dia seguinte. Com efeito, ao que tudo indica, ação policial, sob o comando do Governador Claudio Castro, obteve um resultado politicamente positivo, como já revelou a já referida pesquisa, realizada nos bairros do Alemão e da Penha, na capital fluminense - aprovação de 60,4% e desaprovação em 33,4%. Concluindo, a Operação de Contenção e seu resultado, até certo ponto funesto, teve o condão de reascender a violência como principal alvo da agenda nacional. Assiste razão ao jornalista Murillo de Aragão, quando assinala em artigo publicado recentemente: Depois de anos dominados por economia, custo de vida e polarização, o medo voltou. Parcela expressiva do Eleitorado, aponta a violência como principal problema. O tema ressurge porque atravessa o cotidiano e reordena prioridades eleitorais. Vida que segue. Vamos observar o andar da carruagem. Seja o que Deus quiser.