Política

Aécio: PSDB foi o único que não se curvou ao bolsonarismo nem ao lulopetismo

Em entrevista ao podcast "Direto de Brasília, o deputado federal, que voltará a comandar o PSDB nesta quinta-feira, disse que o partido é programático e necessário para o Brasil

Aécio (D) lamentou a saída de Raquel Lyra do PSDB, mas reforçou a confiança no novo presidente da sigla no estado, Álvaro Porto - Reprodução Youtube/Folha de Pernambuco

Oito anos depois de deixar a presidência nacional do PSDB, o deputado federal Aécio Neves (MG) voltará ao comando da sigla. A solenidade que marcará seu retorno será nesta quinta-feira (27), em Brasília, quando sucederá Marconi Perillo. Em entrevista ao podcast "Direto de Brasília", ele defendeu o legado da sigla, que governou o Brasil entre 1995 e 2003, mas disse que o foco no momento não é tentar voltar à Presidência da República.

“Estamos reconstruindo o PSDB no país inteiro. O PSDB é necessário para o Brasil. Somos um partido programático, quase como uma ilha cercada por partidos programáticos, que qualquer que seja o governo estarão junto dele. Não nos curvamos nem ao bolsonarismo nem ao lulopetismo”, cravou.

“Temos um desafio grande, que é recolocar o PSDB no centro das grandes decisões nacionais. Nós nascemos na adversidade. Em 1988, nos reunimos na assembleia constituinte, e todos pertencíamos a partidos de governo em nossos estados e a nível nacional. A grande maioria veio do MDB, para acreditar num sonho, na possibilidade de ter um partido político que fosse claro na defesa do parlamentarismo, da responsabilidade fiscal. Nosso legado é poderoso. O que temos que fazer é juntar pessoas que não estão preocupadas com cargos, com fundo eleitoral, e continuarmos acreditando na possibilidade de fazer um partido com princípios. É para dar voz a essas pessoas que hoje não se sentem representadas nem por um lado nem por outro. Não vai ser fácil, mas antes também não foi, e a experiência do passado me inspira para acreditar que o Brasil merece um partido que não trate o adversário como inimigo, que aceite discutir propostas independente de sua origem. Falta esse partido político no brasil”, completou o futuro dirigente tucano.

Aécio encontrará um partido bem menor que aquele ao qual já presidiu, entre 2013 e 2017. Na época, disputou a Presidência da República, em 2014, mas perdeu para Dilma Rousseff (PT) no segundo turno. No comando do tucanato, ele foi sucedido pelo pernambucano Bruno Araújo, e depois pelo então governador de São Paulo, João Dória, com quem viveu diversas turbulências e a quem atribui o encolhimento do PSDB nas eleições posteriores.

“Há formas distintas de se enxergar o cenário atual. Se tivéssemos ido para o caminho mais fácil, da incorporação ou da fusão, e não foram poucas as oportunidades que surgiram, talvez alguns estariam mais confortáveis. Mas não abrimos mão daquilo que representamos. Perdemos quadros, cometemos equívocos, e houve o projeto megalomaníaco de João Dória, que impediu que tivéssemos candidatura nacional. O partido nacional se subordinou a um projeto regional e pagamos um preço alto em relação a isso”, disparou Aécio.

“Acredito que já na próxima janela partidária estaremos com um número maior de parlamentares, e devemos apresentar perspectivas de fazermos uma bancada em torno de 30 parlamentares. Mas o PSDB é muito maior que essa aritmética, ele está na memória das pessoas como o partido que transformou o Brasil em muitos aspectos, e está vivo e presente na vida de todos os brasileiros, com resultados muito marcantes. Temos que resgatar isso. E vamos fazer como PSDB mesmo, não como fusão”, completou o deputado federal.

Aécio ainda lamentou a saída da governadora Raquel Lyra da sigla, ocorrida em maio deste ano. Mas reforçou a confiança no novo presidente, o deputado estadual Álvaro Porto. “Tenho carinho enorme pela governadora Raquel Lyra, lamentei muito sua saída, até porque fui eu que a convidei para vir, quando ela estava sem partido para disputar a Prefeitura de Caruaru, e ela veio e venceu duas vezes. Mas todos têm as suas circunstâncias, e as dela a levaram a deixar o PSDB. E seguimos, estamos otimistas com a presidência do deputado Álvaro Porto e com o resultado que vamos ver em Pernambuco. É assim, alguns que se sentiram incomodados com o PSDB, talvez devessem estar em outro campo. Queremos quem esteja confortável conosco para voltarmos a sonhar. Política tem que ter um idealismo muito forte, e a filiação de Ciro Gomes mostra que vamos voltar para o jogo político e que é possível sair dessa radicalização que paralisou o país”, completou o parlamentar.

Ele ainda recordou do ex-governador Eduardo Campos, com quem construiu laços de amizade, que pautaram uma aliança para o segundo turno da eleição em que disputaram em palanques opostos. “Com Eduardo eu tinha uma relação geracional muito próxima. Conversávamos muito, e olhe que fomos adversários em 2014. Tínhamos um compromisso de quem chegasse no segundo turno, contra o PT, que vinha com uma máquina violentíssima, teria o apoio do outro. Aconteceu aquela tragédia, mas Eduardo deixou uma marca extraordinária na política brasileira. E sua vice, Marina Silva, que depois o sucedeu como candidata a presidente, acabou nos apoiando. Se fosse o inverso, eu certamente a teria apoiado também. E com qualquer uma dessas alternativas, Eduardo ou eu, o Brasil iria estar muito melhor esses anos, após o desastre do governo Dilma e a radicalização da política que vieram”, completou Aécio.