"Rage bait" é a palavra do ano de 2025 segundo o dicionário de Oxford
Ao longo dos anos, os vencedores incluíram "selfie" (2013), "pós-verdade" (2016), "tóxico" (2018) e "vacina" (2021)
Nos últimos meses, Jennifer Lawrence, fãs de baseball e influenciadores de direita confessaram. E agora, os responsáveis pelo Dicionário Oxford da Língua Inglesa também entraram na onda.
A Oxford University Press escolheu “rage bait” — "isca de raiva", numa tradução direta, definida como “conteúdo online deliberadamente criado para provocar raiva ou indignação, sendo frustrante, provocativo ou ofensivo” — como a Palavra do Ano de 2025.
“Rage bait” triunfou sobre ideias mais otimistas como “biohack” e “aura farming”. O termo remonta pelo menos a 2002, quando apareceu num grupo de discussão da Usenet para descrever a reação de um motorista quanto outro piscava os faróis para ultrapassá-lo. Desde então, tornou-se uma gíria cada vez mais comum para um comportamento online de busca de atenção.
No último ano, de acordo com os dados da Oxford, a frequência de uso triplicou. A palavra composta de duas sílabas tem um impacto direto e contundente. Ela também provoca um “eureka” imediato.
“Mesmo que as pessoas nunca tenham ouvido falar dela antes, imediatamente sabem o que significa”, disse Casper Grathwohl, presidente da Oxford Languages, em entrevista. “E querem falar sobre o assunto.”
A Palavra do Ano da Oxford, que começou em 2004, baseia-se em evidências de uso extraídas de seu corpus continuamente atualizado de cerca de 30 bilhões de palavras, compilado a partir de fontes de notícias de todo o mundo de língua inglesa. A ideia é identificar palavras novas ou emergentes com significado social e cultural, com base em dados.
Como nos últimos anos, os especialistas da Oxford escolheram uma lista restrita e, em seguida, convidaram o público a dar sua opinião. Este ano, houve uma novidade: as palavras foram transformadas em candidatos personificados, que se promoveram em vídeos verticais modernos produzidos pelo estúdio criativo Uncommon.
O vencedor foi escolhido pelo comitê de Oxford, com base na votação (mais de 30 mil pessoas participaram), em conversas públicas e na análise de dados.
“O objetivo da Palavra do Ano é incentivar as pessoas a refletirem sobre onde estamos como cultura, quem somos no momento, através da lente das palavras que usamos”, disse Grathwohl. “O objetivo principal é gerar conversa.”
Ao longo dos anos, os vencedores incluíram “selfie” (2013), “pós-verdade” (2016), “tóxico” (2018) e “vacina” (2021). Nos últimos anos, eles tenderam a ter um apelo nitidamente da Geração Z, muito ligado à internet. Alguns vencedores, como “rizz” (abreviação de “charisma”) de 2023, dão um nome novo e vibrante a algo familiar. “Às vezes, trata-se do prazer intangível de dizer e pronunciar uma palavra”, disse Grathwohl.
Outros termos, como o vencedor de 2024, “brain rot” (a suposta deterioração da capacidade mental causada pelo consumo excessivo de conteúdo trivial online), descrevem uma nova experiência que muitos estão sentindo sem saber como nomeá-la. E, independentemente de “brain rot” ser real ou não, o termo continua em alta, com seu uso aumentando cada vez mais.
Os finalistas deste ano, disse Grathwohl, refletem as maneiras pelas quais 2025 foi definido por “questionamentos sobre quem realmente somos, tanto online quanto offline”, e as formas como a internet nos manipula emocionalmente e nos permite manipular os outros.
“Aura farming”, definida como o cuidadoso “cultivo de uma persona ou personalidade impressionante, atraente ou carismática”, surgiu por volta de 2023, de acordo com a pesquisa de Oxford. O uso do termo quase dobrou no último ano, com um pico em julho, em conexão com um vídeo viral de um menino na Indonésia fazendo uma dança motivacional na proa de um barco de corrida.
Linguisticamente, ele combina um empréstimo latino um tanto místico, "aura", com uma palavra do século XV relacionada ao cultivo de plantações. "O que eu adoro é a união do banal e do sublime", disse Grathwohl.
"Biohack", um verbo que descreve tentativas de "melhorar ou otimizar o desempenho físico ou mental, a saúde, a longevidade ou o bem-estar", foi registrado pela primeira vez por volta de 2011. Seu uso também dobrou no último ano, impulsionado pelo crescente diálogo entre "broligarcas", como Grathwohl os chamou, e outras pessoas influentes. (Ele mencionou um incidente em setembro, quando o presidente russo Vladimir Putin e o líder chinês Xi Jinping foram flagrados por um microfone aberto conversando sobre transplantes de órgãos e a possibilidade de viver até os 150 anos.)
A expressão "isca para provocar raiva" apareceu nas manchetes no início de novembro, depois que Jennifer Lawrence confessou ter criado um perfil anônimo no TikTok para poder discutir com fãs de cinema online. E é algo que até lexicógrafos já foram acusados de promover. Em 2015, quando Oxford escolheu o emoji de lágrimas de alegria, alguns lexicógrafos da velha guarda não ficaram nada felizes.
"As pessoas tem uma relação tão apaixonada que é impossível não provocar raiva em uma parcela do público amante das palavras", disse Grathwohl. "Não importa o que escolhamos, muita gente vai se exaltar online."