Moradores da comunidade Icauã tentam recomeçar a vida após incêndio no último sábado (29)
Incêndio criminoso, provocado por um homem, matou a esposa dele, seus quatro filhos e atingiu cerca de 20 casas da comunidade
Recomeçar. Assim vem sendo a vida das pessoas que moram na comunidade Icauã, na Zona Oeste do Recife, desde o último sábado (29), quando um incêndio criminoso, provocado por um homem, matou a esposa dele, seus quatro filhos e atingiu cerca de 20 casas.
Uma das famílias afetadas no incêndio foi a de Hamilton Ribeiro, de 29 anos, que morava ao lado da casa das vítimas. À reportagem da Folha de Pernambuco, o pedreiro, que mora com a esposa e com os dois filhos, um menino de 2 anos e uma menina de 1 ano, perdeu tudo e está, aos poucos, recuperando seus bens materiais através de doações.
"Para se recuperar, primeiramente, Deus, porque tudo está sendo difícil para nós. No dia a dia, Deus está dando saúde, como todo mundo sabe, está trazendo material para a gente, porque a gente perdeu tudo, só ficou com a roupa. Estamos recomeçando: alguns já estão ganhando material, já podem fazer o seu 'barraquinho' e assim vai, até chegar no ponto que estava", contou Hamilton, que conseguiu encontrar um espaço para morar com a sua família.
Hamilton Ribeiro perdeu tudo no incêndio | Foto: Leandro de Santana/Folha de PernambucoQuem também perdeu tudo no incêndio foi Rode Ferreira, de 47 anos, que morava com as duas filhas, uma de 5 e outra de 8 anos, também ao lado da casa das vítimas. Agora, a moradora está na casa de sua filha mais velha, Cauany Vitória, de 25 anos, que também está tentando se recuperar.
"É revoltante, a gente não sabe de onde começar, está pedindo a Deus aqui e ali. Mas agora é recuperar. Estou reaterrando, já chegou um abençoado e abençoou de um lado, e Jesus vai mandando [ajuda] aos poucos. A gente não pode desistir não, ainda temos que ter fé na humanidade, mesmo acontecendo esse tipo de coisa. Foi um feminicídio, uma chacina, no meu ponto de vista", desabafou.
Moradores da comunidade Icauã reunidos | Foto: Leandro de Santana/Folha de Pernambuco
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Doações
Desde o último domingo (30), movimentos sociais, ONGs e projetos estão se mobilizando para ir até o local com carregamentos de roupas, alimentos, materiais de limpeza, higiene e de construção.
Nesta terça (2), a Escola Municipal Zumbi dos Palmares, também na Zona Oeste do Recife, promoveu doações para os moradores da comunidade.
"Hoje nós juntamos a comunidade do Zumbi dos Palmares, meus professores, minha equipe e trouxemos Mucilom, leite, fralda descartável, água mineral, pasta de dente, sabonete, alimento para eles biscoito para as crianças, sanduíche, refrigerante. A gente não pode sentir apenas a dor e cruzar os nossos braços. Depois do enterro, a gente se mobilizou, enquanto ser humano, para trazer alguma coisa para ajudar essas pessoas que estão aqui", explicou Ana Gláucia de Araújo, gestora da escola.
Comunidade Icauã está recebendo doações após incêndio no último sábado (29) | Foto: Leandro de Santana/Folha de PernambucoPara ajudar os moradores da comunidade, o Centro da Mulher Camila Cardoso também está recebendo doações na sede da organização. O ponto fica na Avenida Malacó, 136, Alto Santa Isabel, no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife.
O Espaço Solidário Gris, localizado na Rua Diogo Barbosa Machado, 15, na Várzea, Zona Oeste do Recife, também está recebendo doações.
Os materiais de maior necessidade são roupas, alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza.
Assistência
A Prefeitura do Recife também está presente na comunidade, por meio da Secretaria de Direitos Humanos de Juventude (SJDH), realizando o mapeamento das famílias que perderam suas documentações.
"Neste momento, a Secretaria de Direitos Humanos de Juventude se faz presente aqui no território onde a ocorrência aconteceu. Desde ontem, a gente tem feito todo o mapeamento das famílias para que a gente possa tirar o registro civil, as certidões necessárias para que possamos tirar a identidade", iniciou o secretário da pasta, Marco Aurélio Filho.
"Nós compreendemos que entre a dor do outro e a ponte para essa política pública está a nossa secretaria, estamos em campo em território com expresso Recife, com as nossas gerências, com o Núcleo de Mediação de Conflitos, com o Margarida Alves, com apoio psicológico, com toda escuta social que é importante", concluiu.
Prefeitura presta assistência para os moradores afetados pelo incêndio | Foto: Leandro de Santana/Folha de PernambucoO secretário da pasta também explicou que estão sendo oferecidos abrigos provisórios para os moradores da comunidade, mas que muitos estão optando por permanecerem na região.
"É importante ressaltar que muitas dessas famílias, através da assistência, podemos observar que muitos deles não quiseram ir para o abrigo provisório, preferiram ficar aqui no território. A gente tem acompanhado também as condições dessas famílias neste local e nesse momento", explicou.

