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INTERNACIONAL

Após ataques, tropas dos EUA no Oriente Médio ficam 'na linha de fogo' de possível retaliação do Irã

Soldados americanos teriam apenas 'minutos para se proteger' de eventuais ações armadas, especialmente no Iraque, no Bahrein e no Kuwait, segundo especialistas

Donald Trump, presidente dos Estados UnidosDonald Trump, presidente dos Estados Unidos - Foto: Jim Watson/ AFP

Milhares de soldados americanos podem estar na linha de fogo direta do Irã se as autoridades iranianas cumprirem as ameaças de retaliação aos ataques dos Estados Unidos contra suas instalações nucleares. Muitos teriam apenas alguns minutos para se proteger de um míssil de Teerã.

Antes de Trump ordenar que os militares americanos participassem diretamente da campanha israelense de bombardeios, especialistas afirmavam esperar que o Irã retaliasse rapidamente contra as tropas americanas baseadas em todo o Oriente Médio.

— Os americanos devem saber que qualquer intervenção militar americana será, sem dúvida, acompanhada de danos irreparáveis — alertou o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, na semana passada, segundo a mídia estatal.


Mais de 40 mil soldados e civis americanos da ativa trabalham para o Pentágono no Oriente Médio, e bilhões de dólares em armas e equipamentos militares estão armazenados lá. Ao longo de décadas, tanto durante quanto após a guerra, as Forças Armadas americanas fortaleceram suas defesas na região, disse Dana Stroul, principal autoridade do Pentágono para a política do Oriente Médio durante o governo de Joe Biden.

Os Estados Unidos fortaleceram ainda mais essas defesas, disse ela, após os ataques do Hamas contra Israel em outubro de 2023, que desencadearam um conflito mais amplo entre Tel Aviv e os aliados regionais do Irã.

— De certa forma, as Forças Armadas americanas prepararam totalmente o cenário para responder aos ataques iranianos, caso o regime decida voltar seus mísseis ou ativar suas milícias contra as forças americanas — disse Stroul, na semana passada.

Adel Abdel Ghafar, analista sênior do Conselho de Assuntos Globais do Oriente Médio em Doha, no Catar, previu que as tropas americanas estacionadas no Iraque, no Bahrein e no Kuwait seriam os primeiros alvos do Irã. Pessoal americano não essencial e parentes já foram retirados das embaixadas nesses três países.

Os combatentes do Irã no vizinho Iraque, de maioria xiita, e em outros lugares representam uma ameaça terrestre aos postos militares e diplomáticos dos EUA, disse Abdel Ghafar. Levaria apenas três ou quatro minutos para um míssil balístico disparado do Irã atingir bases em países do Golfo que abrigam tropas americanas, disse ele.

Isso dá muito menos tempo para as defesas aéreas interceptarem mísseis, disse ele, "então seria desastroso". Veja abaixo onde as tropas dos Estados Unidos estão mais vulneráveis à retaliação.

Iraque

Cerca de 2.500 soldados e outros prestadores de serviço americanos estão no Iraque, baseados na capital, Bagdá, bem como na região curda do norte e no deserto ocidental. A base desértica de Ain al-Asad, controlada pelo Exército iraquiano, foi alvo de ataques de drones por forças xiitas apoiadas pelo Irã no início desta semana. As forças americanas estacionadas lá abateram os veículos aéreos.

Os militares americanos têm uma relação tensa com os iraquianos, após a guerra de oito anos e a ocupação que terminou em 2011, mas as tropas americanas foram recebidas de volta poucos anos depois para combater os integrantes do Estado Islâmico que haviam tomado o controle de áreas no Norte e no Oeste do país.

Em 2020, o governo Trump ordenou um ataque aéreo que matou o comandante da Força Quds de elite do Irã, o general Qassem Soleimani, quando ele chegava a Bagdá para se encontrar com o primeiro-ministro iraquiano. O ataque aumentou as tensões entre os Estados Unidos e o Irã.

Bahrein

O quartel-general da 5ª Frota da Marinha fica em Manama, Bahrein, e abriga cerca de nove mil militares e civis americanos. Parte de sua missão é garantir a passagem segura de navios comerciais pelo Estreito de Ormuz, por onde passa 20% do suprimento mundial de petróleo. O Irã ameaçou semear o estreito com até seis mil minas navais, uma tática destinada a imobilizar navios de guerra americanos no Golfo Pérsico. Isso também interromperia o comércio global de petróleo, especialmente para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que transportam grande quantidade de petróleo pelo estreito, bem como para compradores de energia como China e Índia.

Kuwait

Cinco bases no Kuwait, onde cerca de 13.500 soldados americanos estão estacionados, têm servido há décadas como um ponto de parada essencial para forças, armas e equipamentos militares a caminho de campos de batalha em todo o mundo.

Os laços militares entre o Kuwait e os Estados Unidos permaneceram fortes desde a Guerra do Golfo Pérsico de 1991. Após a invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990, os Estados Unidos lideraram uma coalizão para conter as forças de Saddam Hussein na região e impedi-lo de tomar a Arábia Saudita. Em poucos meses, as forças americanas expulsaram as tropas de Saddam Hussein de volta ao Iraque. As tropas dos EUA estão baseadas no Kuwait desde então.

Mais de uma década depois, em 2003, tropas americanas e internacionais usaram o Kuwait como plataforma de lançamento para invadirem o Iraque e expulsarem Saddam.

Catar

A Base Aérea de Al Udeid, no Catar, é a maior base militar dos EUA no Oriente Médio e o quartel-general regional do Comando Central americano, que supervisiona as forças na região. Cerca de dez mil soldados estão lotados lá.

Os militares americanos utilizam Al Udeid desde os dias seguintes aos ataques de 11 de setembro, quando posicionaram aviões ali para atacar o Talibã e a Al-Qaeda no Afeganistão. Dois anos depois, Al Udeid tornou-se o principal centro de operações aéreas dos EUA na região.

Comandantes americanos utilizaram o local para coordenar uma ampla variedade de missões durante as guerras no Iraque e no Afeganistão, bem como ataques contra o grupo Estado Islâmico na Síria. A Força Aérea deslocou várias aeronaves para lá, desde caças avançados e bombardeiros de longo alcance até drones, aviões de transporte e aviões-tanque de reabastecimento em voo.

Também se tornou o ponto central de evacuação para dezenas de milhares de afegãos e americanos que fugiram do Afeganistão em 2021, quando os militares americanos se retiraram.

Emirados Árabes Unidos

Cerca de 3.500 militares americanos estão na Base Aérea de Al Dhafra, nos arredores de Abu Dhabi, onde os Estados Unidos mobilizaram caças F-22 nos últimos anos, inclusive para proteger navios-tanque de combustível dos Emirados que foram atacados por combatentes houthis ligados ao Irã em 2022.

A 380ª Ala Expedicionária Aérea da Força Aérea dos EUA está baseada em Al Dhafra, de onde lançou operações de combate contra o grupo Estado Islâmico e os houthis, e no Afeganistão. Também foi usada como unidade de coleta de inteligência e vigilância durante as guerras dos EUA no Iraque e no Afeganistão, bem como para reabastecimento aéreo.

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