Após Trump, Argentina anuncia que sairá da OMS
Argumento é o custo aproximado de US$ 10 milhões anuais, além da rejeição de Javier Milei à gestão da organização durante a pandemia
O governo argentino anunciou hoje a saída do país da Organização Mundial da Saúde (OMS). O anúncio foi feito pelo porta-voz presidencial, Manuel Adorni, em entrevista coletiva. Segundo fontes do governo citadas pelo jornal La Nación, a decisão será oficializada por meio de um decreto assinado pelo presidente Javier Milei. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump tomou a mesma decisão ao assumir recentemente o cargo.
A saída da OMS é a primeira de uma série de retiradas planejadas pela administração libertária, que pretende se desvincular de outros organismos internacionais nos próximos dias. Fontes do governo argentino disseram ao La Nación que está sendo feita uma “avaliação estratégica” de cada uma das possíveis saídas. Entre as possibilidades, considera-se a retirada do Acordo de Paris, em oposição à narrativa global sobre mudança climática.
O plano de desligamento de organizações internacionais está sendo analisado pelos ministros da Economia, Luis “Toto” Caputo; de Desregulação e Transformação do Estado, Federico Sturzenegger; e de Relações Exteriores, Gerardo Werthein, segundo fontes próximas a Milei.
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A decisão de deixar a OMS está alinhada com a postura de Trump, com quem Milei voltará a se encontrar em breve na cúpula conservadora da CPAC. Além disso, reflete as ideias que o presidente argentino já havia expressado em seu livro Pandemonics, publicado em setembro de 2020, durante a crise da pandemia. Na obra, Milei classificou o isolamento preventivo como um “crime contra a humanidade” que atentou contra a liberdade individual.
O governo argentino também argumentou que a decisão se justifica por razões econômicas. Segundo fontes oficiais, a contribuição do país à OMS custa cerca de US$ 10 milhões por ano, sem contar salários, diárias e despesas dos representantes argentinos no organismo.
Assessores do presidente lembraram que, na última reunião do G20, realizada em novembro, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, tentou abordar Milei em um corredor e solicitou uma reunião, que foi recusada pelo mandatário. Após a negativa, Adhanom tentou interceder junto à secretária-geral da Presidência, Karina Milei, mas também não teve sucesso.
A decisão ainda segue a recusa da Argentina em assinar o tratado global de pandemias da OMS em julho passado. Na época, o porta-voz Manuel Adorni declarou que a Argentina não iria aderir ao “acordo pandêmico da OMS”, indicando que Buenos Aires não assinaria “nenhum tratado que possa comprometer a soberania nacional”. Nesta quarta-feira, ele reafirmou a decisão na Casa Rosada:
— A decisão [da retirada da Argentina da OMS] se baseia em profundas divergências sobre a gestão da saúde, especialmente durante a pandemia, que, junto com Alberto Fernández, nos levou ao confinamento e à falta de independência. Não vamos permitir que um organismo internacional intervenha na nossa saúde. Não recebemos financiamento da OMS para gestão, então essa medida não representa perda de recursos nem impacta a qualidade dos serviços.
A OMS é a agência especializada em saúde das Nações Unidas, responsável por coordenar a resposta global a ameaças sanitárias, como surtos de varíola dos macacos, ebola e poliomielite. Também fornece assistência técnica a países mais pobres, distribui vacinas e suprimentos médicos, além de estabelecer diretrizes para diversas condições de saúde, incluindo saúde mental e câncer.