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As “fachadas” de Paulo César Morato

Camaleônico, o homem que atuava como testa de ferro do esquema de lavagem de dinheiro, tinha uma vida, aparentemente, simples. Mas repleta de “mistérios”

Peça "Andarte Andarilho" é promovida pelo ator pernambucano Márcio  FecherPeça "Andarte Andarilho" é promovida pelo ator pernambucano Márcio Fecher - Foto: Divulgação

No bojo da Operação Turbulência, da Polícia Federal, o desconhecido empresário foragido Paulo César de Barros Morato, que apareceu morto no dia 22 de junho no motel Tititi, em Olinda, era considerado um “testa de ferro” do esquema de lavagem de dinheiro que abasteceu campanhas políticas e estaria por trás da compra do avião que provocou a morte do ex-governador Eduardo Campos.

Mas apesar da simplicidade dos locais em que viveu nos últimos anos, Morato tinha intensa atividade na operação, que movimentou mais de R$ 600 milhões. Ele tinha uma atuação fundamental para que o esquema desse certo. Em seu nome, estavam a Câmara & Vasconcelos, empresa que recebeu mais de R$ 18.858.978,16 da Construtora OAS, e a Lagoa Indústria e Comércio - também de fachada, que em três anos movimentou R$ 792 mil.

A participação de Morato no esquema de corrupção envolveu mais empresas e mais gente. Entre eles está o empresário Pedro Vasconcelos e a mulher Gemim Câmara Vasconcelos. O casal fundou, em 1990, a Vasconcelos & Câmara Ltda. Em 2007, abriram outra empresa, a Câmara & Vasconcelos Locação e Terraplanagem, tendo como sócio oculto Paulo César de Barros Morato.

Em 2009, o casal deixou a sociedade e Morato convidou Hélio Dias de Morais e seu irmão, Ernani Dias de Morais Filho, donos de uma oficina mecânica, além de Henrique José da Silva, para integrar a sociedade, alegando que não poderia fazê-lo por estar com o nome sujo.

Segundo depoimento de Ernani à Justiça Federal de Pernambuco, Morato os teria convencido dizendo que receberiam um valor fixo por mês, uma espécie de pró-labore, ficando também responsáveis pelas manutenções dos caminhões da empresa. Ernani disse, ainda, que acreditou que a empresa de fato existisse ,porque sempre recebia os caminhões para manutenção.

Em fevereiro de 2014, a empresa saiu da rua Agamenon Magalhães, nº 16, Sertãozinho, um endereço fantasma, para outro também fantasma, rua Coelho Neto, nº 9, loja 4, no Juá, também em Nazaré da Mata. As duas empresas teriam declarado funcionar no mesmo endereço.

Após o acidente aéreo com o ex-governador Eduardo Campos (PSB), quando surgiram dúvidas sobre o verdadeiro dono do avião, a empresa instalou-se de fato num endereço real: rua Dantas Barreto, 1267 A, no centro de Nazaré da Mata.

Em agosto de 2015, foi arquivada a alteração contratual, mudando o nome da Câmara & Vasconcelos para Morato - locação e Terraplanagem EIRELI-ME, empresa individual de responsabilidade limitada, com capital social de R$ 600 mil, tendo Morato como único sócio, evidenciando, segundo os investigadores, o vínculo dele com a gestão das contas da Câmara & Vasconcelos. Todavia, no mesmo mês, a Receita Federal decretou suspensão da empresa por falta de pluralidade de sócios. Ainda em 2015, outra empresa de Morato, a Lagoa Indústria e Comércio Ltda., aberta em 2005, foi suspensa pela Receita Federal pelo mesmo motivo.

Além disso, processos judiciais e o inquérito da Polícia Federal, aos quais a Folha de Pernambuco teve acesso, mostram que houve, pelo menos, uma operação de crédito, em 2014, da Vasconcelos e Câmara Ltda, no valor de R$ 312.455,176, para a Câmara e Vasconcelos. Não bastasse esse vínculado, também há um processo judicial que envolve as duas empresas e a OAS no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) 6ª Região.

Lagoa
A outra empresa em nome de Morato, a Lagoa Indústria e Comércio, foi aberta em 2005 tendo apenas ele como único sócio. A empresa declarava funcionar na Estrada da Camboa, s/n, Lagoa do Itaenga, mesmo endereço de outras “fachadas” investigadas nos autos. Entre 2010 e 2013, de acordo com o relatório do Conselho de controle de Atividades Financeiras (COAF), a Lagoa movimentou 62 transações de forma fracionada, que totalizaram R$ 792 mil. Desse valor, mais de R$ 580 mil foram para Câmara e Vasconcelos. No mesmo período, Paulo Morato teria sacado R$ 125 mil.

Ao contrário da Câmara & Vasconcelos e Lagoa, a Vasconcelos & Câmara é uma empresa constituída. Segundo o inquérito, a organização misturava o dinheiro limpo com o dinheiro sujo para despistar. A reportagem da Folha de Pernambuco tentou contato com Vasconcelos & Câmara, tanto pessoalmente quanto por telefone, sem sucesso.

O procurador da República em Pernambuco, Cláudio Henrique Dias, um dos investigadores da Operação Turbulência, explicou que Paulo César Morato possuía um “papel muito importante na organização criminosa”. “Na investigação, o que temos, até agora, é que Morato arregimentava pessoas para constituir empresas e muitas delas eram de fachada, constavam como laranjas. Não sabemos, ainda, se todos esses processos eram mediante remuneração, ou se essas pessoas eram colocadas lá sem conhecimento, emprestando seus nomes para que os verdadeiros donos não aparecessem”, afirmou. Dias, todavia, não deu detalhes sobre Pedro ou Gemim Vasconcelos.

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