Dom, 07 de Dezembro

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guerra no oriente médio

Ataques a instalações nucleares do Irã suscitam temor por radiação; vazamento não é identificado

Bombardeiros americanos miraram infraestrutura em Natanz, Isfahã e Fordow

A usina de Natanz, cuja existência veio à tona em 2002, é a mais conhecida das instalações nucleares iranianasA usina de Natanz, cuja existência veio à tona em 2002, é a mais conhecida das instalações nucleares iranianas - Foto: AFP

Os ataques americanos às instalações do programa nuclear iraniano suscitaram o temor de possíveis vazamentos de material radiológico e químico, com efeitos danosos às vidas de civis.

A Agência Internacional de Energia Atômica já havia apontado preocupações com a segurança nuclear em meio a bombardeios de Israel contra o programa atômico de Teerã. A ofensiva de Washington, por sua vez, "destruiu" as principais infraestruturas iranianas, segundo o presidente americano Donald Trump.

Apesar do temor, nenhum aumento nos níveis de radiação foi detectado nas usinas nucleares do Irã após os bombardeios dos EUA, informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) neste domingo.

"Após os ataques a três instalações nucleares no Irã (...), a AIEA pode confirmar que nenhum aumento nos níveis de radiação foi relatado até o momento", afirmou a agência na plataforma de mídia social X, horas após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar que os bombardeios "destruíram totalmente" as instalações em Fordo, Isfahan e Natanz.

Natanz, localizada a cerca de 220km a sudeste de Teerã, é (ou era, na versão de Trump) uma peça-chave do programa nuclear do país, que o regime dos aiatolás afirma ter fins pacíficos. Ela contribuiu para a ampliação da produção de urânio a 60% — um nível de pureza muito acima do necessário para a maior parte do uso civil (usinas nucleares, por exemplo, normalmente usam urânio enriquecido de 3% a 5%), mas abaixo dos 90% para desenvolvimento de armas nucleares.

Relatórios da própria AIEA nos últimos anos vinham apontando para o enriquecimento de urânio pelo Irã em ritmo acelerado. Um relatório de maio do ano passado indicava que o país havia obtido 408,6kg de urânio a 60%, tendo produzido 133,8kg em três meses. Em março de 2023, a agência notificou ter encontrado "partículas" de urânio enriquecidas com 83,7% de pureza.

Apesar do enriquecimento de urânio para uma bomba no padrão das produzidas por EUA e Rússia precisar ser de 90%, analistas apontaram anteriormente que a preocupação com o urânio a 60% não era apressada. Em um ensaio publicado em 2021 — quando o enriquecimento do urânio iraniano começou a chamar a atenção das autoridades — o Instituto Internacional para Estudo da Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) apontou que as centrífugas utilizadas no processo são projetadas para trabalhar em etapas.

O salto de enriquecimento de 60% para 90%, portanto, poderia acontecer "em um período muito curto", na avaliação dos pesquisadores do instituto.

Embora tenham emitido relatórios demonstrando preocupação com os desdobramentos do programa iraniano — incluindo uma resolução aprovada na quinta-feira contra o Irã por não cumprimento de suas obrigações de não proliferação nuclear —, a preocupação imediata da AIEA se voltou aos ataques sofridos pelas instalações.

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