Esperança

Bebê nasce com anticorpos contra a Covid-19 em Santa Catarina

A imunidade de Enrico foi transmitida pela mãe, a médica Talita Menegali Izidoro que havia sido vacinada no terço final da gestação, em fevereiro

Enrico nasceu no dia 9 de abril e passou pelo teste neutralizante para o coronavírus aos dois dias de vidaEnrico nasceu no dia 9 de abril e passou pelo teste neutralizante para o coronavírus aos dois dias de vida - Foto: Talita Menegali/Arquivo Pessoal

A Secretaria de Saúde de Tubarão, cidade do sul de Santa Catarina, informou nesta quarta-feira (19) que um bebê nascido na cidade há cerca de 40 dias possui anticorpos contra a Covid-19. A imunidade foi transmitida pela mãe, a médica Talita Menegali Izidoro, de 33 anos, que havia sido vacinada no terço final da gestação, em fevereiro.

Enrico nasceu no dia 9 de abril e passou pelo teste neutralizante para o coronavírus aos dois dias de vida. Na amostra analisada, havia 22% de anticorpos contra a Covid-19 –segundo Talita, a imunidade é atingida com índices acima de 20%.

Além do próprio laboratório que fez o exame e da mãe, o teste foi avaliado por médicos que acompanharam a gestação e o bebê.

"O valor padrão que se coloca para considerar se é reagente ou não é acima de 20%, mas não faz muita diferença, pois essa quantidade já dá a ele uma imunidade evitando pelo menos um agravamento da doença", explicou o secretário da Saúde de Tubarão, Daisson Trevisol.

A criança será reavaliada aos três e aos seis meses para saber se os anticorpos permanecerão em seu organismo. "Não sabemos até quando essa imunização estará presente, mas, com o aleitamento exclusivo, há possibilidade de continuar a transmitir anticorpos", explicou a mãe.

A médica atua na linha de frente da pandemia em um posto de saúde de Tubarão e foi vacinada com a Coronavac na 34ª semana de gestação. Ela conta que a decisão pela imunização foi tomada em conjunto com seu obstetra, já que, na época, o Ministério da Saúde só recomendava a vacinação de grávidas sob orientação médica.

Pesaram na decisão o fato de o bebê já estar praticamente formado no momento da aplicação da dose e de o imunizante ser produzido por meio do vírus inativado, o que representaria menos risco ao feto, já que não houve testagem em grávidas dos imunizantes disponíveis no Brasil.

"Não tive medo algum [da vacinação], pois, como médica, estava na linha de frente e a vacina traria muitos mais benefícios", afirmou Talita.

A médica também leciona no curso de Medicina da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) e, em conjunto com outros colegas, incluindo o secretário Trevisol, pretende publicar um relato do caso em uma revista científica internacional.

"Ficamos felizes e emocionados com a imunização dele. Que isso sirva de incentivo a outras gestantes para a vacinação. É uma dose de esperança a todos", disse Talita.

Segundo informou o secretário, este é o primeiro caso documentado da região de imunidade contra o coronavírus transmitida da mãe ao filho.

Trevisol é farmacêutico bioquímico e explica que não é rara a transmissão de anticorpos de grávidas aos bebês, mas avalia que o resultado do teste de Enrico representa uma esperança a mais na imunização. Isso porque a vacinação geral de gestantes se iniciou há pouco tempo, e a maioria ainda não deu à luz. Além disso, poucos bebês são testados para Covid-19.

"Foi bom ter essa resposta, dá uma esperança, uma perspectiva de que vamos ter um bom retorno da vacinação nas pessoas em geral. Pensando nas grávidas, deve haver um fortalecimento, já que uma vacina vai valer por duas", avaliou.

Presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), Cecília Roteli Martins cita que o fenômeno de "transmissão vertical de imunidade", ou seja, da mãe para o bebê, já é conhecido principalmente pela vacinação contra a coqueluche.

"Neste caso, a passagem faz com que o bebê tenha níveis elevados de anticorpos até os dois primeiros meses, a partir de quando ele mesmo pode tomar a vacina, o que é importante, porque essa doença em recém-nascidos é muito grave", apontou.

Ela explica que, pelo fato de a Covid-19 ser uma doença nova, cuja vacina também está sendo aplicada pela primeira vez, ainda não se sabe como os imunizantes disponíveis vão se comportar em relação à transmissão vertical.

O caso de Santa Catarina, portanto, ganha uma importância a mais nos estudos.

"À medida em que conseguirmos avançar nos estudos, vamos poder responder a três questões: qual o nível de anticorpos transmitidos, qual é a melhor fase para vacinar as grávidas -se no começo ou no final da gestação-, e por quanto tempo o anticorpo vai proteger o bebê."

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