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Bolsonaro mudou tom sobre pandemia após conversa com Villas Bôas e ministros da ala jurídica

Na fala de quase oito minutos, pronunciamento do presidente deu maior equivalência à preservação de "vidas e empregos"

Presidente Jair BolsonaroPresidente Jair Bolsonaro - Foto: Reprodução/TV Globo

A mudança de tom do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em seu pronunciamento nesta terça-feira (31) ocorreu após conversa com o ex-comandante do Exército general Villas Bôas e ministros militares e da área jurídica.

Na fala de quase oito minutos, o presidente deu maior equivalência à preservação de "vidas e empregos", divergindo do que afirmou na semana passada, quando estimulou a retomada das atividades no país e propôs o isolamento apenas a grupos de risco.

Bolsonaro procurou o general na segunda-feira (30), numa tentativa de resgatar o apoio dos militares. Ele vinha se sentindo isolado em seu posicionamento nas medidas de combate à pandemia do novo coronavírus.

Nos últimos dias, dois ministros com alta popularidade, Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia), se distanciaram do presidente e passaram a apoiar a fala do titular da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na defesa do isolamento social.

Segundo relatos feitos à reportagem, a conversa entre Bolsonaro e o ex-comandante do Exército foi decisiva para a mudança de postura. O presidente costuma se aconselhar com Villas Bôas, visto como uma figura de autoridade nas Forças Armadas.

Os militares ficaram incomodados com as críticas feitas pelo presidente a medidas de isolamento e distanciamento social.

Ele vinha fazendo apelos para que as pessoas voltassem às ruas, na contramão do que orientam o Ministério da Saúde e a OMS (Organização Mundial da Saúde).

O texto lido pelo presidente é resultado de um trabalho feito de forma conjunta com ministros militares, como Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Tarcísio Freitas (Infraestrutura). Além dos juristas Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), André Mendonça (AGU) e Wagner Rosário (CGU).

Diferentemente do que ocorreu na última semana, quando houve uma radicalização da fala do presidente no pronunciamento, os filhos tiveram um papel secundário na formulação do texto.

Desde o último sábado (28), esse mesmo grupo de ministros vinha tentando -com apoio do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso- fazer uma contenção de danos nas ações e declarações de Bolsonaro.

Eles defendiam que o presidente adotasse uma postura mais harmônica em suas declarações com as ações adotadas pelo próprio governo.

Naquele mesmo dia, o grupo conseguiu demover o presidente de um pronunciamento em cadeia nacional que ele pretendia fazer durante o fim de semana. Seria o segundo em menos de uma semana.

Coube a eles organizar um café da manhã entre Bolsonaro e o ministro Gilmar Mendes, do STF.

Do magistrado, que foi advogado-geral da União no governo Fernando Henrique Cardoso, o presidente ouviu que era preciso chamar os outros Poderes para obter sucesso na contenção da crise. Gilmar alertou ainda para a necessidade de um trabalho unificado com os estados e os municípios.

Na conversa, o presidente insistiu que estava preocupado com o aumento do desemprego no país e com a perda de renda dos brasileiros, citando os informais. Ele mencionou sua intenção de editar um decreto para obrigar o funcionamento do comércio de todo país.

Em resposta, ouviu do ministro que a medida não teria efeito, já que a sociedade não voltaria automaticamente para as ruas, com medo da dispersão do vírus. Gilmar alertou ainda que o descumprimento por parte do Executivo das orientações técnicas médicas poderia levar a uma série de derrotas no Judiciário, incluindo o Supremo.

Apesar do esforço do sábado, o acordo firmado entre os ministros e Bolsonaro não durou 24 horas. Ele saiu na manhã de domingo (29) para visitar comércio do Distrito Federal, levando a uma frustração de seus auxiliares.

Mesmo que tenha aceitado diminuir o tom nesta terça, a postura de Bolsonaro no decorrer da crise é imprevisível. Seus auxiliares veem com reserva essa mudança de comportamento, devido ao estilo intempestivo do presidente.

Apesar das inflexões, ele voltou a usar declarações do diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, para sustentar tese que equipara o salvamento de vidas ao de empregos.

O presidente citou trechos de entrevista do chefe da entidade na véspera, na qual enfatizava que os governos devem ter preocupação com os mais pobres durante a pandemia.

Ghebreyesus reiterou a importância do confinamento para a prevenção do coronavírus e disse que os países que adotarem quarentena como uma das formas de conter a disseminação do devem respeitar a dignidade e o bem-estar dos cidadãos.

Bolsonaro afirmou ainda que "temos que evitar ao máximo qualquer perda de vidas humanas", mas acrescentou que "ao mesmo tempo, devemos evitar a destruição de empregos, que já vem trazendo muito sofrimento para os trabalhadores brasileiros".

No pronunciamento, o presidente mudou o tom que vinha adotando em relação à Covid-19, que já chamou de "uma gripezinha".

Nesta terça, disse que "estamos diante do maior desafio da nossa geração".

O presidente, que já defendeu o uso da hidroxicloroquina para o combate à doença, inclusive aparecendo com caixas do medicamento na mão, admitiu que "ainda não existe vacina contra ele ou remédio com eficiência cientificamente comprovada".

Ele também apontou as medidas anunciadas pelo governo tanto na saúde quanto na área econômica.

Acompanhe a cobertura em tempo real da pandemia de coronavírus

 

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