Adolescente é morto por colega em escola ocupada em Curitiba, diz polícia
Segundo a Secretaria da Segurança, os dois se desentenderam após terem usado uma droga sintética no colégio
Um adolescente de 16 anos foi assassinado, segundo a polícia, em uma escola estadual de Curitiba ocupada há 20 dias por estudantes. O crime ocorreu na tarde desta segunda-feira (24).
O adolescente foi morto por outro colega, de 17 anos, que também estava na ocupação do Colégio Estadual Santa Felicidade. Segundo a Secretaria da Segurança, os dois se desentenderam após terem usado uma droga sintética, "balinha", dentro do colégio.
Eles partiram para o confronto, e Mota foi atacado com uma faca de cozinha, na altura do pescoço. O autor do ataque, que pulou o muro e fugiu, foi abordado pela polícia horas depois e, segundo o governo, admitiu o crime. Ele foi apreendido e deve responder por homicídio -o tempo de internação é de três anos.
O Colégio Estadual Santa Felicidade é um das 800 unidades de todo o Estado (de um total de 2.000) ocupadas em protesto contra a medida provisória do governo Michel Temer (PMDB) que prevê a reformulação do ensino médio, com flexibilização do currículo, com disciplinas optativas nas redes pública e particular.
O assassinato do estudante, ainda com suas circunstâncias não esclarecidas, já serviu para acirrar os apelos pró e contra as ocupações das escolas estaduais no Paraná.
Nessa linha de acirramento com os manifestantes, o governador Beto Richa (PSDB) lamentou a morte do estudante em uma rede social e disse que ela merece "uma profunda reflexão da sociedade".
Já na frente do colégio, um grupo de advogados e professores se queixava de que o governo "incitou a violência" contra as ocupações e o culpava pelo ocorrido.
"Esse colégio não tem faca, não tem armas. A culpa dessa morte é do governo do Paraná, que está incitando a violência contra as ocupações", disse a advogada Tânia Mandarino, que defende voluntariamente as ocupações.
Ela diz que outras escolas tiveram tentativas de confronto por manifestantes contrários às ocupações. "O resultado está aí: temos um cadáver", afirmou a advogada.
Clima
No colégio onde o estudante foi assassinado, o clima era de comoção na tarde desta segunda-feira. Somente os pais do aluno e de alguns outros estudantes, além de um grupo de advogados, foram autorizados a entrar.
Gritos e choros eram ouvidos do lado de fora. Pelo menos 12 estudantes estavam no local no momento da morte, e foram interrogados em conjunto pelo delegado que investiga o caso.
A mãe da vítima, segundo Mandarino, estava em estado de choque. "Esse colégio estava numa verdadeira paz", disse a professora Loren Júlia, 45, que dá aulas de português na escola. "Tem todas as regras na entrada." Um cartaz em frente ao colégio diz: "Proibido artigos ilícitos dentro da instituição. Favor deixar na portaria. Não resista."
Ocupações
As ocupações em escolas paranaenses começaram no início de outubro em protesto contra a medida provisória do governo Michel Temer (PMDB) que prevê a reforma do ensino médio.
A medida prevê a flexibilização do currículo, com disciplinas optativas, nas redes pública e particular. Também visa incentivar a expansão do ensino integral. Uma das principais polêmicas envolveu a retirada da exigência de artes, educação física, filosofia e sociologia nessa etapa do ensino.
O governo diz, porém, que elas estarão contempladas, já que a Base Nacional Comum Curricular, que ainda está em discussão, dará essas diretrizes.