Dono de reduto do samba é detido após ato em homenagem a Marielle
Policial rodoviário protestou contra um discurso sobre a morte da vereadora, dando origem a tumulto
Uma homenagem à vereadora Marielle Franco ao som do samba terminou na delegacia na madrugada desta segunda-feira (19) no Rio. O dono do bar Bip Bip, Alfredo Jacinto Melo, 74, o Alfredinho, foi levado por policiais para três delegacias após uma confusão entre um policial e frequentadores da roda de samba de seu estabelecimento.
O policial rodoviário, que não teve o nome revelado, protestou quando Alfredinho fez um discurso sobre a morte de Marielle e convocou os frequentadores para um ato na terça-feira (20). Segundo relatos de testemunhas, o agente questionou o discurso e deu início ao tumulto.
Meia hora depois, o policial voltou ao local e pediu a prisão dos envolvidos. Em nota, a Polícia Militar informou que agentes do 19º BPM foram acionados e levaram Alfredinho e o agente para a delegacia. Numa rede social, o advogado Rodrigo Mondego contou que acompanhou o dono do bar na delegacia.
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Segundo o relato do advogado, Alfredinho foi registrado como testemunha da suposta agressão sofrida pelo policial. "Sim, é isso, o Alfredinho foi arbitrariamente conduzido à delegacia para ser testemunha de algo que ele não viu. Esse, a priori, é o entendimento dos órgãos de estado do Rio de Janeiro. Se a gente vivesse em um Estado de Direitos, o dono do Bip Bip teria sido vítima de crime de ameaça e abuso de autoridade", escreveu Mondego.
Depois de passar por outras duas delegacias, Alfredinho foi liberado por volta das 3h desta segunda da 14ª DP, onde o caso foi registrado. Em nota, a Polícia Rodoviária Federal confirmou o ocorrido e informou que o agente foi conduzido para a delegacia em viatura oficial da PRF.
"Inicialmente, não houve nenhum registro de comportamento que configure desvio de conduta funcional, representando tão somente atitudes e opiniões pessoais do servidor", relatou. "Ressaltamos que opiniões e atitudes da vida privada dos servidores não representam o posicionamento da instituição", acrescentou a nota da PRF.
Reduto do samba
O Bip Bip é um minúsculo bar de Copacabana de apenas 18 metros quadrados referência para o samba. Alfredinho se tornou dono de bar em 1984. Ele conhecia o estabelecimento desde a inauguração, ocorrida em 13 de dezembro de 1968, dia da decretação do AI-5. O atendimento é informal.
Ele manda as pessoas pegaram as cervejas na geladeira e anota em um papel. Sambistas famosos frequentam o local, como Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Teresa Cristina e Moacyr Luz.
O bar abre toda noite, entre 18h e 1h. O bar é reduto da esquerda carioca. Alfredinho é envolvido em projetos sociais. No ano passado, ele embarcou com um grupo de 15 amigos e músicos para a Rússia. Lá, eles fizeram dois shows celebrando o centenário da Revolução Russa.