Brasil

Ministro da Educação ironiza reitores ao falar de tolerância e pluralidade

O ministro abriu uma crise com as federais ao indicar nesta semana que três universidades, a UnB, a UFBA e a UFF, teriam bloqueios de 30% dos recursos orçamentários por motivos ideológicos

Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou corte de 30% nas verbas das universidades públicasMinistro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou corte de 30% nas verbas das universidades públicas - Foto: Rafael Carvalho/Divulgação Casa Civil

Após polêmica envolvendo cortes de orçamento no ensino superior federal, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ironizou nas redes sociais os reitores de universidades federais ao falar de tolerância e pluralidade.
  
"Para quem conhece universidades federais, perguntar sobre tolerância ou pluralidade aos reitores (ditos) de esquerda faz tanto sentido quanto pedir sugestões sobre doces a diabéticos", escreveu Weintraub no Twitter na manhã desta quarta-feira, dia 1°.

O ministro abriu uma crise com as federais ao indicar nesta semana que três universidades, a UnB, a UFBA e a UFF, teriam bloqueios de 30% dos recursos orçamentários por motivos ideológicos. A iniciativa foi considerada inconstitucional por especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo.

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Na noite de terça-feira (30 de abril), o MEC mudou o entendimento e estendeu a todas federais o mesmo percentual de bloqueio.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, disse que os cortes a essas três instituições tinham ligação a atividades políticas ocorridas nessas unidades, o que ele havia chamado de balbúrdia, bagunça e evento ridículo. As universidades reagiram e defenderam a pluralidade de atividades dentro da universidade.

Weintraub ainda fez menção a um suposto baixo desempenho das instituições, o que não é confirmado pelos indicadores. As três federais ficaram entre as 20 melhores universidades do país na última edição do RUF (Ranking Universitário Folha).

A principal marca do discurso de Bolsonaro sobre educação é a perseguição a uma suposta doutrinação de esquerda que seria predominante nas universidades públicas, sobretudo em humanas. A luta contra o chamado marxismo cultural é a espinha ideológica do governo.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) publicou nas redes sociais que o governo reduziria investimentos nas áreas de filosofia e sociologia nas universidades. Bolsonaro retomava a mesma ideia exposta pelo ministro da Educação no dia interior. O objetivo em estudo seria, segundo o presidente, focar em áreas que gerem "retorno imediato ao contribuinte."

A Folha de S.Paulo mostrou em reportagem que a ideia tem peso mais ideológico do que prático. O número de alunos de graduação desses cursos representa 2% do total nas universidades federais, comportamento similar ao da pós-graduação.

As duas áreas registram 66 programas de mestrado e doutorado nas federais. Isso equivale a 2,5% do total de 2.509 programas nessas instituições, segundo dados da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

O cenário é o mesmo com relação ao pagamento de bolsas. Somente 1,4% dos gastos do CNPQ, agência federal de fomento à pesquisa, são direcionados à ciências sociais. Para filosofia, esse percentual é de 0,7%.

Recentemente, Bolsonaro declarou nas redes sociais que "poucas universidades têm pesquisa, e, dessas poucas, a grande parte está na iniciativa privada". O que não é verdade -as universidades públicas concentram praticamente toda produção de pesquisa no país.

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