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Palco de 14 assassinatos de candidatos, Baixada Fluminense tem clima de insegurança

A segurança foi reforçada pelas Forças Armadas, presentes em 11 municípios do Rio de Janeiro, com cerca de 6.500 homens

O funcionamento do Expresso Cidadão do Cordeiro ainda não foi totalmente normalizadoO funcionamento do Expresso Cidadão do Cordeiro ainda não foi totalmente normalizado - Foto: SAD/Divulgação

Apesar da violência que marcou o período eleitoral na Baixada Fluminense, onde 14 pessoas ligadas a campanhas políticas foram mortas desde novembro de 2015, a votação transcorreu sem grandes problemas neste domingo (2), nas zonas eleitorais visitadas pela reportagem.

Diversos casos de boca de urna e lixo provocado por santinhos de candidatos jogados no chão, contudo, foram flagrados. A segurança foi reforçada pelas Forças Armadas, presentes em 11 municípios do Rio, com cerca de 6.500 homens. A presença não era unânime na Baixada.

O reforço era visível em cidades como Belford Roxo, onde 16 soldados do Exército, todos muito jovens e armados com fuzis, vigiavam um ponto de grande circulação na entrada da favela Gogó da Ema. Chegaram às 6h e ficaram até as 13h, quando foram substituídos.

"Não estamos parando ninguém, é mais uma questão de visibilidade. Ficamos nos acessos, vigiando, de prontidão", disse o sargento que comandava a ação no local, e que pediu para não ser identificado. Em Nova Iguaçu, outro município da Baixada, a presença dos militares era ainda mais ostensiva - a reportagem viu quatro caminhões com soldados na praça do Cabuçu.

Em Duque de Caxias, embora houvesse sido divulgada a presença das Forças Armadas, a reportagem não encontrou nenhum veículo ou tropas militares.

Os maiores problemas, no entanto, foram a boca de urna e panfletagem ilegal. A reportagem viu pelo menos três carros de som de candidatos na cidade, que circulavam com os auto falantes desligados.

Há preocupação com a eleição em Caxias. Três das 14 mortes na Baixada ocorreram no município, que é o terceiro maior colégio eleitoral do Estado do Rio, com pouco mais de 628 mil eleitores.

Os próprios servidores da Justiça Eleitoral se diziam preocupados com a segurança. Uma procuradora do Estado, que pediu para não ter o nome divulgado, disse que sua segurança era "na base da coragem mesmo", quando questionada se as forças enviadas de maneira extraordinária à cidade tinham como função também proteger quem coordena a eleição.

A reportagem checou com ela e com a chefe de cartório de uma das seções da cidade o endereço do maior local de votação, localizado no populoso bairro de Campos Elíseos. "Mas lá é perigoso. É melhor vocês não irem", disse a primeira.

Questionada sobre o segundo maior lugar de votação, uma escola no bairro de Saracuruna, a procuradora foi enfática novamente. "Ih, lá é barra pesada também". No bairro de Campos Elíseos, a reportagem verificou grande desordem na porta da escola estadual Adelina de Castro, um dos maiores centros de votação. Homens distribuíam santinhos na frente do local. Um deles fez um alerta: "É reportagem? Não me filma fazendo boca de urna não", disse, meio a sério, meio em tom de brincadeira.

Na parede das casas próximas lia-se inscrições pichadas: "Proibido roubar. Respeita o tráfico". Ali, uma viatura da Polícia Militar não parecia ter condições de coibir a boca de urna. Oficialmente, até as 14h15 ninguém havia sido preso na cidade.

Alguns candidatos tomaram precauções na hora de votar. Foi em Duque de Caxias que o candidato a vereador Berém do Pilar (PSL) foi morto a tiros junto de sua mulher, em junho.

Seu irmão, Maurição irmão do Berém, candidato pelo mesmo partido, evitou corpo a corpo na reta final de campanha, segundo dirigentes políticos locais. Ele não quis atender a reportagem, segundo correligionários, "por questões de segurança".

A Baixada tem territórios dominados por traficantes e também por milícias, grupos paramilitares formados por policiais, bombeiros e civis, que exploram serviços como distribuição de gás e pontos de TV a cabo.

"Eu fiquei assustado com o nível e clima de faroeste nestas cidades [do interior]", disse o presidente estadual do PSDB, deputado federal Otávio Leite.

Sem ter base sólida de eleitores fora da capital, o partido fez esforço para lançar 33 candidatos a prefeito, além de uma centena de vereadores. O candidato a prefeito de Magé pela legenda desistiu de concorrer por conta da insegurança e um pré-candidato a vereador foi assassinado em um bar em Caxias.

Desordem

Na escola estadual Antonio Figueira de Almeida, em Nilópolis (RJ), a cena era a mesma de todas as zonas eleitorais da Baixada por que a reportagem passou: milhares de santinhos de candidatos do PMDB, PSDB e PSC jogados na porta do colégio e nas ruas ao redor. 

Na escola fica instalada a zona eleitoral onde votaria Osvaldo da Costa Silva, o Ratinho, ex-vice-prefeito e candidato a vereador pelo PDT, assassinado em agosto com sete tiros, quando saía de casa para ir ao diretório do partido.

Segundo a polícia, o crime foi cometido por um grupo de extermínio, e a motivação dele não havia sido esclarecida.

Uma única policial militar fazia a segurança da escola, de maneira despreocupada -sentada numa cadeira na entrada, conversava com os fiscais e mesários.

A maior preocupação dos eleitores com segurança parecia ser com seus bens pessoais -um homem pediu à reportagem que vigiasse sua bicicleta enquanto ele ia votar.

"Tá com corrente, mas isso aí não adianta nada, mesmo amarrada já me levaram duas. É pena que você não pega o safado na hora, pra você 'brincar' um pouquinho com ele."

Em Belford Roxo, na escola estadual Presidente Kennedy -quarto maior local de votação do Estado, 11.378 eleitores-, os "santinhos" de candidatos eram tantos que cobriam todo o chão.

"Está impraticável, é gente adesivando o povo todo, todo mundo bêbado. Estou tentando colocar uma tropinha do Exército lá para dar uma moral", disse uma promotora eleitoral que pedia ajuda ao telefone.

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