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Vale diz que é maior a possibilidade de que queda de talude não interfira em barragem em MG

O município entrou em alerta pela possibilidade de que a queda do talude poderia servir de gatilho para o rompimento da barragem Sul Superior, que está a 1,5 km de distância

Capacete visto em um escritório da mineradora Vale, tirada 20 dias após a ruptura de uma barragem de rejeitos no Córrego do FeijãoCapacete visto em um escritório da mineradora Vale, tirada 20 dias após a ruptura de uma barragem de rejeitos no Córrego do Feijão - Foto: Douglas Magno/AFP

Depois de duas semanas de tensão em Barão de Cocais (MG), a cerca de 100 km de Belo Horizonte, a Vale divulgou um comunicado nesta terça-feira (28) dizendo que "há uma grande possibilidade do talude se acomodar dentro da cava [da mina Gongo Soco], sem maiores consequências".

O município entrou em alerta pela possibilidade de que a queda do talude –a parede na parte interna da cava da mina– poderia servir de gatilho para o rompimento da barragem Sul Superior, que está a 1,5 km de distância.

O comunicado foi feito pelo diretor de operações da mineradora, Marcelo Barros. Segundo ele, agora a empresa tem "mais elementos de análise sobre o comportamento do maciço", que mostram "um deslizamento para o fundo da cava".

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A Vale lembra que, mesmo que a queda do talude não provoque a ruptura da barragem, ela segue em nível de risco 3, que significa ruptura iminente ou já ocorrendo. O aumento do nível ocorreu no final de março.

No dia 8 de fevereiro, cerca de 440 pessoas foram retiradas da zona de auto salvamento –a primeira a ser atingida em um rompimento– e a barragem passou a nível 2. Em março, os moradores da zona de segurança secundária passaram por simulados para saber como agir caso a barragem rompa.

A Vale afirma que, para garantir a segurança de moradores e trabalhadores, não irá fazer obras na cava, mas que segue com as obras de contenção. A maior delas, a construção de uma bacia que ajudaria a reter parte dos rejeitos em um eventual rompimento. Também estão sendo colocadas telas e blocos de granito para diminuir a velocidade da lama.

Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), nesta terça, a velocidade de deformação do talude passou a ser de 20,4 centímetros por dia na parte inferior e 25,9 centímetros em pontos isolados. No começo do dia, a movimentação era de 19,5 centímetros na parte inferior e 23,9 centímetros nos pontos mais críticos.

HISTÓRICO DO TALUDE

Em manifestação entregue à Justiça de Minas Gerais, a Vale diz que entre 2010 e 2011 começaram a ser identificadas trincas em uma parte do talude. A empresa tomou medidas para estabilizar a área, passou a monitorar a estrutura e contratou uma empresa para elaborar um projeto de estabilização do talude.

Segundo a Vale, "ao que tudo indicava, a questão havia sido devidamente endereçada" e a estrutura registrava deformação média de 15 a 20 centímetros ao ano. O número é maior do que o que vinha sendo passado pela ANM: cerca de 10 centímetros ao ano.

No final de abril, entre os dias 29 e 30, a empresa diz que identificou um movimento atípico na estrutura, mas ainda não tinha certeza se era um novo comportamento ou algo pontual.

Entre os dias 7 e 8 de maio, conseguiram enfim confirmar que a alteração era um novo padrão de comportamento do talude. Os técnicos da Vale identificaram a possibilidade de escorregamento do talude para dentro da cava.

No dia 13, a Vale diz que notificou a Defesa Civil do Estado de Minas Gerais e, no dia 14, as prefeituras e defesas civis dos municípios de Barão dos Cocais e São Gonçalo do Rio Abaixo e a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam).

O documento diz ainda que, com um cenário incerto quanto ao nível de vibração que a queda do talude poderia causar, os próprios técnicos da empresa apontaram que não poderiam afastar "o receio de que este movimento sirva de gatilho" para o rompimento da barragem Sul Superior, que já se encontrava em nível de risco 3.

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